Entenda a fase I da Operação Penalidade Máxima

Deflagrada pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) em fevereiro de 2023, a Operação Penalidade Máxima mexeu com as estruturas do futebol brasileiro. Inicialmente, a primeira fase da investigação atingia apenas jogos da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022 suspeitos de manipulação de resultado, mas novos desdobramentos chegaram a atletas da primeira divisão.

Confira nesse texto especial do Futebol na Veia todos os detalhes da primeira fase da operação, que sobrecaiu em três partidas da Série B e apontou oito jogadores envolvidos.

O que a fase 1 da Operação Penalidade Máxima revelou?

O MPGO revelou a existência de um grupo criminoso que atua oferecendo dinheiro a jogadores de futebol para manipular ações em partidas, como cometer penalidades, sofrer cartões amarelos, dentre outros. Conseguindo, através dessas iniciativas dentro dos jogos, ganhos financeiros em casas de apostas, como Bet365 e Betano – consideradas vítimas do esquema pelo órgão.

Inicialmente, três partidas da Série B do Campeonato Brasileiro foram apontadas com ações manipuladas, com o envolvimento de oito atletas e outros oito integrantes da organização criminosa, todos denunciados pela Justiça de Goiás pelo crime de corrupção em competições esportivas.

Segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), o esquema era organizado em quatro núcleos: Financiadores (responsáveis pela verba nas apostas), Apostadores (responsáveis por contatar e aliciar jogadores para participação no esquema), Intermediários (com função de indicar contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e jogadores) e Administrativo (responsável pelas transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e de jogadores participantes).

Na primeira denúncia, os apostadores Bruno Lopez (que liderava as ações), Ícaro dos Santos, Luís Felipe Castro, Victor Fernandes e Zildo Neto tornaram-se réus, assim como Camila Silva, esposa de Bruno, que fazia parte do Núcleo Administrativo.

Como iniciou a investigação da Operação Penalidade Máxima?

A Operação Penalidade Máxima iniciou no segundo semestre de 2022 por causa do presidente do Vila Nova, Hugo Jorge Bravo, que é também major da Polícia Militar de Goiás. O dirigente recebeu a informação após o jogo contra o Sport, pela Série B, em novembro de ano passado, que o jogador Romário, da equipe goiana, estava sendo cobrado de um prejuízo em um suposto um esquema de apostas que deu errado.

Na partida em questão, Romário deveria cometer um pênalti no primeiro tempo, mas não foi escalado para a partida e tentou convencer outros jogadores do elenco a entrar no esquema. Gabriel Domingos aceitou, acreditando que seria titular, mas também não jogou. Além desse, outros três dois jogos de outros times deveriam ter penalidades na etapa inicial.

Bravo descobriu quem estava cobrando Romário. Era Bruno Lopez, atualmente preso por liderar o esquema de manipulação, conforme reveleu o presidente do Vila em entrevista ao jornal O Globo. Com todas as informações em mãos, inclusive mensagens do apostador, o policial entregou ao Ministério Público, que iniciou as investigações.

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Quais atletas tornaram-se réus nessa primeira fase? Quais jogos foram manipulados?

Romário e Gabriel Domingos (ambos à época no Vila Nova) – Vila Nova x Sport

Romário aceitou dos apostadores receber R$ 150 mil para cometer uma penalidade no primeiro tempo do jogo contra o Sport. Como não foi escalado, tentou aliciar jogadores do elenco.

Inicialmente, o volante Gabriel Domingos era apontado como o responsável por emprestar a conta para Romário receber R$ 10 mil como sinal do esquema.

Entretanto, novos desdobramentos da Operação Penalidade Máxima mostraram que Domingos teve envolvimento maior no caso, sendo cooptado por Romário para cometer a penalidade pensando que seria titular. Entretanto, como reserva no jogo com o Sport, tentou trazer outros jogadores para o esquema, sem sucesso.

Com isso, o Vila Nova optou por rescindir o contrato com o volante em março.

O vínculo com Romário havia sido rescindido ainda em novembro de 2022 por “indisciplina grave”.

Joseph (à época na Tombense-MG) – Criciúma x Tombense

Pelos mesmos valores de Romário (R$ 150 mil, sendo R$ 10 mil adiantados), o zagueiro Joseph precisaria cometer uma penalidade no primeiro tempo do jogo entre Criciúma x Tombense. Na ocasião, o pênalti realmente aconteceu na etapa inicial.

Em março, o Tombense rescindiu com Joseph. Atualmente é jogador do Betim-MG.

Mateusinho, Allan Godói, André Queixo, Igor Catatau e Paulo Sérgio (todos à época no Sampaio Corrêa) – Sampaio Corrêa x Londrina

Nas mesmas condições anteriores, Mateusinho, hoje no Cuiabá, mas á época no Sampaio Corrêa, teve que cometer um pênalti no duelo contra o Londrina. Com o auxílio do árbitro de vídeo, a penalidade foi devidamente marcada.

Até hoje, o Cuiabá não afastou o lateral-esquerdo, que inclusive esteve em campo como titular no último sábado (13) na derrota para o Fluminense, pelo Brasileirão.

Todos os outros quatro atletas (Godói, Queixo, Sérgio e Catatau) sabiam, segundo o MP, que Mateusinho recebeu R$ 10 mil como sinalização e depois R$ 140 mil e participaram de alguma forma do esquema.

Godói e Paulo Sérgio estão atualmente no OperárioPR após o Sampaio rescindir o contrato com eles. Assim como André Queixo, hoje no Ituano. Catatau estava emprestado ao clube de Maranhão em 2022 pelo MadureiraRJ, clube que o negociou para o Sepahan, do Irã, em janeiro desse ano.

Fase II da Operação Penalidade Máxima

A fase II da Operação Penalidade Máxima outro capítulo com uma nova denúncia aceita pela Justiça de Goiás no início de maio. As suspeitas apontam para oito jogos do Campeonato Brasileiro da Série A de 2022, um da Série B do ano passado e quatro de campeonatos estaduais realizados em 2023 e recaem sobre sete atletas.

  • Eduardo Bauermann (Santos), pelos jogos contra Avaí e Botafogo no Brasileirão 2022;
  • Paulo Miranda e Gabriel Tota (ambos à época no Juventude), pelos jogos contra Fortaleza e Goiás no Brasileirão 2022;
  • Matheus Gomes e Fernando Neto (ambos à época no Operário-PR), pelo jogo contra o Sport na Série B 2022;
  • Igor Cárius (à época no Cuiabá), pelos jogos contra Ceará e Palmeiras no Brasileirão 2022;
  • Victor Ramos (à época na Portuguesa), pelo jogo contra o Guarani no Paulistão 2023.

Apesar de receberam valores dos apostadores e cometerem as infrações, o lateral-esquerdo Onitlasi Moraes Rodrigues Júnior (ex-Juventude), o zagueiro Kevin Lomónaco (Bragantino), Nikolas Santos de Farias (Novo Hamburgo) e Emilton Pedroso Domingues, conhecido como Jarro (Inter de Santa Maria), auxiliaram o MP nas investigações.

O argentino Lomónaco, durante o jogo contra o AméricaMG no Brasileirão, foi punido com cartão amarelo e recebeu R$ 70 mil para que isso acontecesse, segundo o MP.

Também no Campeonato BrasileiroMoraes foi amarelado no jogo com o Palmeiras recebeu pagamento de R$ 30 mil.

Por fim, no GaúchãoJarro cometeu uma penalidade a pedido do grupo criminoso por R$ 70 mil. Por 10 mil a mais, Nikolas, do Novo HamburgoRS, fez um pênalti contra seu time no estadual.

A Operação Penalidade Máxima ainda terá novos desdobramentos.

Carlos Vinícius Amorim

Carlos Vinícius Amorim

Carlos Vinicius é nascido e criado em São Paulo e jornalista formado pela Universidade Paulista (UNIP). Na comunicação, escreveu sobre futebol nacional e internacional no Yahoo e na Premier League Brasil, além de esports no The Clutch. Como assessor de imprensa, atuou no setor público e privado.