Definitivamente, o esporte tem um contexto com diversos comportamentos (e pensamentos) a serem combatidos. Algumas minorias, como a comunidade LGBTQIA+, tem uma resistência muito grande para ingressar e, principalmente, permanecer nesse meio. Assim, no dia 28 de junho, comemora-se o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+.
Com isso, o Futebol na Veia preparou uma entrevista exclusiva com Igor Benevenuto, árbitro central da CBF e árbitro de vídeo-FIFA. Ele foi o primeiro árbitro a se declarar gay no futebol brasileiro e, como poucos, pode falar sobre a sua experiência no futebol.
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A decisão de falar sobre sua orientação sexual
Mesmo sabendo do que haveria de enfrentar, Igor Benevenuto decidiu falar publicamente sobre a sua orientação sexual, ainda atuando no futebol profissional. A primeira vez que o assunto foi tratado publicamente foi no podcast “Nos Armários dos Vestiários”, do GloboEsporte. Depois da publicação, em junho de 2022, o árbitro falou sobre as motivações para trazer o fato a tona.
“Primeiramente, [fui motivado por] uma questão pessoal. Eu já não aguentava mais viver esse personagem hétero com as pessoas e com os meus familiares. Isso gerava um desgaste emocional muito grande. Ter que deitar e pensar coisas do tipo como seria o meu comportamento no dia seguinte, em que determinado local eu iria, não poder me relacionar com uma pessoa e o porquê nasci assim. Já tive depressão e muitas coisas ruins. Eu queria viver em paz comigo, não esse personagem para as pessoas.
Em segundo lugar, eu acho que a partir do momento que estou no meio do esporte, que te dá uma visibilidade muito grande, eu gostaria que as pessoas pudessem perceber que um homossexual, como eu, que estou inserido no meio do futebol, pode estar onde quiser. Essa questão da minha orientação não diminui minha capacidade técnica de trabalhar e mostrar que sou uma pessoa normal, que tenho direito a estar ali, e poder ajudar ouras pessoas que estão ali, no meio, sofrendo. Foi muito importante e mostra que o futebol é um espaço para todos”, contou.
Em seguida, sobre como decorreu o processo de abrir sua orientação sexual publicamente, Igor falou sobre os pontos essenciais para a sua tomada de decisão.
“Levei de quatro a cinco meses para tomar a decisão de falar abertamente sobre. Eu ia fazer a reportagem de forma anônima. Eu tinha muito medo de ser massacrado nas redes sociais, de sofrer algum meio de represália do meio do futebol, eu tinha medo que a comissão da CBF pudesse criar algum tipo de problema, algum tipo de desgaste com eles. E, pelo contrário, eles foram me dando muito apoio e força. O ‘start' para isso foi quando a repórter, Joanna de Assis, teve o contato com o presidente da comissão de arbitragem da CBF, Wilson Luiz Seneme. Liguei para ele, foi quando ele me disse que não teria nenhum tipo de problema e me parabenizou pela minha coragem. E foi a melhor coisa do mundo. Tirei uma tonelada das minhas costas, daquilo que falei no início, dessa pressão, de cada dia ser uma figura diferente, um Igor diferente. Nas redes sociais só tive apoio. Me surpreendeu muito, aparece um comentário ou outro desagradável, mas procurei não ficar lendo, porque isso não ia acrescentar nada na vida”, disse.
O preconceito (ainda existe) no futebol brasileiro
Em relação aos casos de preconceito, seja racial ou homofóbico, vistos nos estádios ou até mesmo nas redes sociais, Igor pontuou as mudanças que pode observar para combater esses episódios. Além disso, destacou a organização das entidades reguladoras e também dos clubes como um fator determinante de transformação.
“Eu acredito que depois da reportagem, as coisas evoluíram muito em termos do apoio da CBF e até dos clubes. Porque tiveram outras reportagens com jogador, com torcedor, ou seja, envolvendo todos os atores que vivem o esporte. O presidente Ednaldo [Rodrigues, da CBF] combate veementemente as questões de preconceito, seja racial, como também a homofobia. Foi criado na CBF um comitê de combate ao preconceito. Temos no regulamento das competições, uma cartilha com determinações para o que fazer, coisa que era mais informal antes”, declarou.
Já no campo de jogo, o árbitro relata um comportamento diferente dos próprios atletas em relação à qualquer tipo de preconceito contra a comunidade LGBTQIA+.
“Hoje os clubes são mais polidos, a imprensa apoia nesse sentido. Havendo também punição para as equipes e para os torcedores [ajuda a diminuir os casos]. Isso ajuda a pessoas que viviam de forma reclusa, a viverem abertamente a sua orientação sexual no futebol”, disse.