Na última quinta-feira (27), pouco menos de um mês antes do início da Copa do Mundo 2022, alguns jogadores da seleção australiana lançaram um vídeo com críticas ao governo da sede da competição, o Catar.
Desde o anúncio do país asiático como casa que receberá o mais importante campeonato internacional de futebol, as polêmicas começaram a surgir.
No entanto, só agora a primeira equipe, a seleção da Austrália, posicionou-se frente às polêmicas relacionadas à intolerância e aos abusos de direitos humanos durante a organização para receber os jogos da Copa.
Seleção da Austrália é primeira a criticar publicamente o Catar
Escolha da sede da Copa do Mundo 2022
Inicialmente, é necessário lembrar que as inscrições para selecionar as anfitriãs das Copas do Mundo 2018 e 2022 começaram no ano de 2009. Somente em dezembro de 2010, Rússia e Catar se sagraram campeãs dessa disputa.
Além das problemáticas relacionadas à falta de estádios para a realização da competição, o governo asiático sofreu graves acusações em 2014. Isto porque o jornal inglês The Sunday Times afirmou que o país teria pagado mais de US$ 5 milhões para garantir que a sua candidatura tivesse apoio.
Mesmo tendo negado as alegações, o mesmo meio de comunicação, quatro anos depois, lançou a possibilidade de mais uma irregularidade. Segundo o jornal, o governo árabe ainda poderia ter espalhado propagandas negativas em relação aos seus adversários: Estados Unidos e Austrália.
Mais uma vez, o Catar negou as acusações. No entanto, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos e o Ministério Público francês ainda investigam a veracidade dessas informações.
Qatar National Vision 2030
Assim como a Argentina em 1978 e a Rússia em 2018, o Catar não possui apenas objetivos esportivos ao sediar a Copa do Mundo.
Segundo a Folha de São Paulo, o plano dos governantes é transformar o país em um polo de turismo sustentável. Este objetivo tem como data o ano de 2030. Dessa forma, para começar o projeto, foi necessário expandir a economia, investindo em uma área que não envolvesse a extração de petróleo e de gás natural.
Atualmente, 2,8 milhões de pessoas moram no país. No entanto, a maior parte da população é formada por imigrantes. Essas pessoas foram e são as responsáveis por realizar as obras de infraestrutura e a construção dos estádios. Tudo isso em busca de uma boa visibilidade para o resto do planeta.
Porém, o tratamento à comunidade LGBTQIA+ e às mulheres pode ser um desafio para que outros imigrantes sintam-se à vontade para realizar turismo ou morar no país árabe.
Polêmicas de trabalho escravo
No início do ano de 2021, o The Guardian realizou uma investigação sobre a morte de trabalhadores imigrantes no Catar. Segundo a reportagem publicada, cerca de 6.500 indivíduos morreram durante a construção dos estádios. Isto porque, as condições de trabalho são péssimas, podendo ser comparadas a um regime de escravidão.
Em novembro de 2021, a Anistia internacional reafirmou a preocupação relacionada às condições de trabalho no Catar.
“Na última década, milhares de trabalhadores migrantes morreram repentina e inesperadamente no Qatar, apesar de passar em seus exames médicos obrigatórios antes de viajar para o país. No entanto, apesar de claras evidências de que o estresse por calor representa enormes riscos para a saúde dos trabalhadores, continua sendo extremamente difícil saber exatamente quantas pessoas morreram em consequência de suas condições de trabalho.”
Seleção da Austrália resolve se pronunciar
Na última quinta-feira (27), os Socceroos marcaram a história, sendo a primeira equipe a se pronunciar e criticar publicamente o governo do Catar. Em um vídeo, com a participação de 16 jogadores, foram questionados os direitos e as condições de trabalho de mais de 1,6 milhões de imigrantes.
Apesar de reconhecer mudanças já realizadas pelo governo asiático, o time exigiu outras soluções, como a criação de um centro para receber os imigrantes.
Ademais, mais do que as críticas apontadas, os australianos pediram também a aceitação da relação entre pessoas do mesmo sexo, que ainda são consideradas ilegais no país. A punição para homossexuais pode chegar até o apedrejamento.
“Como o esporte mais multicultural, diversificado e inclusivo do nosso país, acreditamos que todos devem se sentir seguros e livres para serem eles mesmos”, afirmou a Federação da Austrália.
Resposta da organização da Copa 2022
Em resposta ao vídeo dos jogadores, a organização do mundial se pronunciou. Primeiramente, houve um elogio à equipe por mobilizar as redes para tratar de um assunto tão sensível.
No entanto, ficou claro que não há nenhuma disposição para mudar as atitudes, já que a declaração afirmou que “nenhum país é perfeito”.
Além das críticas feiras pela seleção da Austrália, a Dinamarca afirmou que suas camisas serão pretas, em homenagem aos trabalhadores mortos na construção dos estádios. Outras equipes afirmaram que os capitães irão utilizar braçadeiras em apoio à comunidade LGBTQIA+.
Foto Destaque: Noushad Thekkayil/ EPA





