O Passaporte Rússia é mais uma coluna do Futebol na Veia que apresentará curiosidades de todas as seleções participantes da Copa do Mundo deste ano. Este é o quarto de sete textos sobre a Seleção Colombiana. Entenda a curiosa ligação entre o futebol da Colômbia e o mundo do narcotráfico.
A história do futebol colombiano nunca possuiu muito prestígio. Antes da década de 90, o país só havia disputado uma Copa do Mundo – no ano de1962 – na qual não passou da primeira fase. O fato é que durante o “reinado” do maior traficante da história, o futebol cafetero ganhou espaço não só no cenário sul-americano, mas também no mundial.
Índice
A paixão de Pablo Escobar pelo futebol
Durante o século XX, o narcotraficante colombiano liderou o Cartel de Medellín – sua cidade natal – e chegou a conquistar um patrimônio de 30 bilhões de dólares com o tráfico de cocaína para diversos países, principalmente os Estados Unidos. Apesar de ser caçado pela lei, Pablo era uma espécie de “benfeitor” do povo, e parte desse crédito se deu pelo seu envolvimento com o futebol, no qual ele chegou a construir diversos campos nas periferias de Medellín. Porém não foi apenas por amor que “El Patrón” resolveu entrar no meio esportivo: lá ele viu uma ótima oportunidade para lavar o dinheiro sujo.

Os crimes de Escobar dentro do futebol
Apesar de ser torcedor do Independiente Medellín (como declarou seu filho Juan Pablo), quem mais se beneficiou do dinheiro de Pablo foi o Atlético Nacional de Medellín. Foi investindo nesse clube que o narcotraficante conseguiu um grande passo para o futebol colombiano: a conquista da Copa Libertadores da América, em 1989. A equipe possuía grandes nomes do futebol cafetero, como o técnico Francisco Maturana, o goleiro René Higuita e zagueiro Andrés Escobar.
Porém, nessa época também foram revelados alguns crimes cometidos pelo traficante no meio esportivo. Após apitar o jogo entre Atlético Nacional e América de Cali, o árbitro Álvaro Ortega foi assassinado a mando de Escobar, pois o narcotraficante não teria ficado satisfeito com a forma que o juiz conduziu a partida (alegando que ele havia favorecido a equipe de Cali).
Já no ano seguinte, em 1990, foi a vez do árbitro uruguaio Juan Daniel Cordellino contar que havia recebido ameaças e um suborno de 20 mil dólares antes da partida contra o Vasco da Gama em um confronto pela Libertadores. Mesmo alegando que não foi desleal com a equipe brasileira, Cordellino admitiu que apitou o jogo pressionado.

“El Patrón” e a Seleção Colombiana de Futebol
Muitos dizem que foi Pablo quem financiou a ida da seleção cafetera à Copa do Mundo de 1990 e obrigou a federação a convocar alguns jogadores que atuavam em seu clube. Mas é fato que, no grande elenco colombiano que encantou o mundo com seu belo futebol, haviam jogadores que possuíam uma relação próxima ao traficante.
Quando fez um acordo com o governo e se entregou para evitar a extradição aos Estados Unidos, Pablo ficou detido em um local construído por ele mesmo, batizado de “La Catedral”. A “prisão” possuía um campo de futebol onde o traficante reunia famosos jogadores do futebol colombiano, como Higuita, Aristizabal, Leonel Álvarez e Asprilla.
A relação entre o futebol colombiano e os cartéis de drogas ficou mais evidente ainda após a morte de Pablo Escobar. Com o fim da geração de jogadores da década de 90, o país ficou 16 anos sem disputar um mundial. O treinador Francisco Maturana chegou a dar uma declaração sobre o rumo que o futebol tomou nos anos seguintes:
“Quando os chefes dos cartéis foram presos, acabou o dinheiro, e assim acabou o futebol. Como contratar profissionais de fora, importar estratégias e manter nossos talentos no país?”.
O assassinato de Andrés Escobar
Mesmo após a morte de Pablo Escobar, as consequências do envolvimento do esporte com o mundo do crime continuaram. Durante o mundial de 1994, o zagueiro Andrés Escobar marcou um gol contra na partida diante dos Estados Unidos que acabou custando sua vida. Dias depois, o jogador foi executado na cidade de Medellín.
Há muitas teorias sobre o real motivo do crime, e muitas pessoas acreditam que ele tenha acontecido após o jogador ter discutido com alguns membros de um cartel. Mas o fato de o culpado não ter cumprido nem um quarto da pena imposta a ele deixou ainda maior a suspeita de que não foi apenas uma simples discussão por futebol. Sem dúvidas, o assassinato de Andrés Escobar evidenciou a violência em seu país para o resto do mundo, e colocou um ponto final na relação que trouxe mais tragédias do que alegrias ao futebol colombiano.






