Pois o auge do futebol, quando a bola morre lentamente no fundo do gol. Foi um dos retratos mais bonitos da final da Libertadores entre Palmeiras e Santos. Dois brasileiros. Dois paulistas. Duas histórias completamente opostas, que se completaram no último dia 30 de janeiro.
O Santos, time de Pelé e Pepe, carregando sua história de grandes glórias do futebol, entrava em 2020 – aparentemente uma temporada normal – sob os comandos de Jesualdo Ferreira. Mas o destino quis que fosse pelas mãos de Cuca que a equipe chegasse à final de uma das maiores competições do cenário Sul-Americano.
Do outro lado, o Palmeiras, que queria de volta suas origens, apostaria em Vanderlei Luxemburgo. Sim, o homem da paixão palmeirense de 1993 se faria, de novo, o carrasco do maior rival alviverde: o Corinthians.
No entanto, não seria ele quem levaria o Palmeiras até a Glória Eterna. Assim como não foi só o Abel, mas também Andrey Cebola, Weverton, Gustavo Gomez, todo o elenco, seus preparadores, os médicos. Os roupeiros, massagistas, jardineiros, pessoal da limpeza e todos que pararam para aplaudir o ônibus que saía da academia de futebol.
Por todos que tiveram seus empregos poupados, e suas famílias cuidadas e acolhidas por uma mesma diretoria que erra – e erra muito –, mas que acertou em cuidar dos seus. Por que? Porque foi por eles que os jogadores lutaram. E por nós que os abraçamos tantas vezes. Os milhares de corações que fizeram a máquina verde voar.
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Índice
A NARRATIVA DO CAMPEÃO
Se o dia 30 de janeiro de 2021 fosse um dia normal, o sol estaria quente no Rio de Janeiro. As pessoas lotariam as praias. Mais do que isso, abarrotariam as arquibancadas. Cadeiras das quais, outrora, o mundo se viu verde pela primeira vez. Lá em 1951.
No entanto, essas cadeiras estavam ocupadas apenas por convidados seletos. Mas os corações que ali batiam, e que estavam a quilômetros de distância, deixavam toda a áurea mística do grandioso Maracanã mais interessante ainda.
Mais de 20 anos… Quase mais tempo que a idade de muitos titulares. Um martelo pesado batia na cabeça do palmeirense. Um passado de gigante, com direito a Santos e Divinos se ascendia aos olhos daqueles que iam conhecendo como era tentar entrar para a história da Sociedade Esportiva Palmeiras.
A história de quem foi Palestra, foi perseguido e virou Palmeiras. De quem bateu na trave por tantas vezes. Perdemos em 61, em 68 e ficamos no quase me 95. Nos consagramos em 99.
Em 2000 fomos injustiçados. Caímos e voltamos. Renascemos em 2015, quando, nos pés de Fernando Prass, a Copa do Brasil representou a Fênix Alviverde. Desde então uma das maiores potências do cenário nacional não conseguia conquistar a América.
PALMEIRAS: O MAIOR CAMPEÃO DO BRASIL
Desde sua volta por cima o Palmeiras venceu a fatídica Copa do Brasil, dois Campeonatos Brasileiros e um paulista. Em tempos em que os estádios podiam pulsar, cheios de gente abraçando desconhecidos, e explodindo depois de um gol. Parece que faz tanto tempo.
Porém, as lágrimas não deixaram de vir. Assistimos ao Verdão literalmente ser cercado e apanhar em campo, depois uma eliminação. Vimos um Benedetto que estava no banco entrar e tirar o Palmeiras de mais uma tentativa da Glória eterna. Vimos os estádios ficarem vazios.
Essa vez, em 2018, dói toda vez que eu ouço uma música triste. Machuca ainda. Mas a glória viria. E no futebol os ciclos e as sinas nunca são algo para se desrespeitar. Quem diria que o maior desabafo alviverde viria dos pés improváveis de alguém que estava no banco?
Mas calma, calma. A gente já volta nisso.
O ABEL É CAMPEÃO! O ABEL É PALMEIRAS
Pouco a pouco o Palmeiras foi subindo os degraus. Abel Ferreira chegou de mansinho respeitando o trabalho de seu antecessor, Andrey Lopes, que segurou a barra até a sua chegada. Além disso elogiou o trabalho do ex-comandante Luxemburgo. Reconheceu o seu papel.
No entanto, foi contestado. Diziam que ele não tinha nenhum título. De fato, não tinha. Porém tinha o caráter, e a sua palavra. Depois, foi amado, pelas pessoas que duvidaram dele. O futebol é essa montanha-russa.
Foi sincero, trabalhou com o que tinha. Ao mesmo tempo que foi pai, colocou confiança em cada um dos seus meninos. Em seguida fez de Gabriel Menino um Gabriel Gigante. Devolveu ao PK a alegria nos pés. Sem contar os outros que jogam pelo time e pelo escudo. Fez do nosso “Avanti Palestra” como um mantra.
Ele, que mesmo com saudade da sua família, dedicou tudo ao Palmeiras. Colocou o Breno Lopes aos 84 minutos de jogo. Não se assustou. Não se rendeu à pressão do Tri campeão, e da experiência de Cuca. Conquistou seu primeiro título como técnico: A Copa Libertadores.
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E FOI QUANDO A BOLA MORREU NO FUNDO DO GOL, LENTAMENTE
Então, naquele momento, pós confusão de Marcos Rocha com Cuca. Depois que o comandante foi expulso. O Danilo que jogou de terno e quase que anulou o experiente Marinho, viu Rony. Virou o jogo para o camisa 11 que, só nesta temporada, marcou cinco gols e deu oito assistências.
O menino paraense, que foi contestado, foi cruzar a bola para o artilheiro Luiz Adriano, mas o destino não era esse. Logo depois a bola foi parar na cabeça de Breno Lopes que testou com firmeza e de olho aberto… o a temporada toda passou em meus olhos…
Além disso, o jogo histórico contra o River Plate, na Argentina. O sufoco no jogo de volta. As mãos milagrosas e Weverton. O Viña, top, top,top. As goleadas. O surto de covid e o calendário apertado. Horas sem descanso.
Tudo isso para chegar a esse exato momento em que a bola, a cabeçada de Breno Lopes – ou Brenaldinho – morreria lentamente no fundo da rede do gol do Maracanã. Ele correu para o braço da sua família na arquibancada. E todas as outras famílias que vestiam verde desabafaram depois de mais de 20 anos. É CAMPEÃO. CAMPEÃO DA LIBERTADORES. O resto é história.
Foto: Divulgação / Conmebol