Mais uma edição da coluna retrô sobre as Copas do Mundo, o “Marcas da Copa”. Colunistas FNV e convidados vão descrever a emoção única de algum jogo marcante de Copa que ficou fincado na memória. Serão crônicas desde a época de Pelé, até os tempos atuais. E hoje é Enrico Carnevalli quem nos contempla com suas lembranças. Confira abaixo:
PORTUGAL 1 X 0 HOLANDA
Futebol sempre é lembrado como o jogo maravilhoso. O esporte que empolga, emociona, faz a festa da torcida. Enfim, que gera a felicidade em todos. No entanto, uma ou outra vez há sempre aquele jogo que nada contra a maré. Aquela partida feia, não por conta da torcida ou atmosfera, mas sim pelo futebol jogado, ou melhor, o não jogado.
Em 2006, com meus 9 anos ainda, confesso que não acompanhava tanto assim o futebol. Era torcedor e gostava do esporte, mas não era um conhecedor por assim dizer, e muito menos um fanático. Assistia a minha primeira Copa do Mundo, pois em 2002 era muito novo e meu pai não deixava ficar acordado até tarde para ver os jogos.
Pois bem, oitavas de final da Copa do Mundo na Alemanha – Portugal x Holanda. De um lado, a seleção lusa com sua última chance de premiar a geração Figo, Deco; do outro, os holandeses apresentando ao mundo a geração que mais tarde tornaria a seleção novamente uma potência do futebol.
Como de costume, família inteira reunida na sala para assistir a partida, que na teoria, tinha tudo para ser um bom confronto. Tinha… Podia não conhecer muito bem o futebol à época, mas tenho uma boa lembrança do que vi naquele dia, e foi feio. Feio a ponto de saber que o que estava assistindo passava longe de ser o esporte que tanto amo atualmente. Lembro de olhar pro meu pai e ouvir: “Isso não é futebol, é uma guerra!”. E era mesmo.
1º TEMPO
Logo no início, Boulahrouz mostrou ao mundo o que estava por vir naquele dia. O holandês deu uma entrada criminosa em Cristiano Ronaldo, que não aguentou de dores e teve de ser substituído.
Nuno Valente, mais tarde, deu uma voadora em Robben, quase como uma resposta. Maniche fez o gol, um belo gol até, mas que duvido que alguém irá lembrar. No intervalo, os “melhores momentos” eram mais as diversas faltas que ocorreram do que bons lances de fato. O primeiro tempo terminou com 5 cartões amarelos e 1 vermelho, para Costinha. Eram para ter tido mais cartões vermelhos, mas o juiz parecia perdido em campo, sem critério algum.
2º TEMPO
Segundo tempo começa e a pancadaria continua. Nunca vi igual. Boulahrouz expulso por meter a mão na cara de Figo, logo depois de o próprio português ter dado uma cabeçada em um jogador holandês. Heitinga, por sua vez, deu uma aula de falta de “fair play”. Portugal colocou a bola para fora para seu goleiro ser atendido. O holandês não teve dúvidas, ao invés de devolver a bola, aproveitou o descuido dos portugueses e arrancou em direção ao gol adversário. Deco não perdoou e deu carrinho por trás no defensor. Os holandeses ficaram indignados e mais uma confusão se iniciou com diversos empurrões. 5 minutos depois, o meia luso-brasileiro levou o segundo amarelo por cera e foi expulso.
Para fechar a conta, van Bronckhorst recebeu seu segundo amarelo também e foi expulso bem no finalzinho. Um show de horrores. Só no segundo tempo foram 11 cartões amarelos e 3 vermelhos. Ao todo, 16 amarelos e 4 expulsões tornaram Portugal x Holanda a partida mais violenta da história das Copas do Mundo.
SÓ VIOLÊNCIA?
Lógico que tiveram bons momentos durante o confronto. Teve bola na trave, ambos os goleiros trabalharam, mas isso tudo ficou na sombra da violência exibida durante aqueles 90 minutos. Nunca me esquecerei do que vi. Da falta do futebol jogado, e uma verdadeira guerra como meu pai disse. Portugal e Holanda fizeram o jogo mais desleal de uma Copa do Mundo, e talvez até mesmo da história do futebol.
A partida ficou conhecida como Batalha de Nuremberg e, aos meus 9 anos, posso afirmar que já havia visto tudo que o futebol tinha para me oferecer. Tanto os momentos lindos, de pura felicidade e emoção, como também os lances violentos e uma verdadeira guerra entre 22 homens. Naquele dia, o futebol me mostrou seu lado feio, e confesso que não gostei do que vi.