O dia 24 de abril está marcado na história do futebol, e com certeza, no coração do torcedor do Paysandu. Foi nesta data que o Papão da Curuzu, que jogava pela 1ª vez em sua história a Copa Libertadores da América, venceu o Boca Júniors, em plena La Bombonera, pelas oitavas de final da competição de 2003, e igualou o Santos de Pelé, que até aquele momento era o único time brasileiro que havia vencido os argentinos na competição continental. O gol do jogo, marcado aos 23′ do 2º tempo, foi marcado por um dos maiores ídolos do clube paraense, Iarley, que curiosamente, depois deste jogo, foi contratado pelo time Xeneize, sendo o primeiro brasileiro na história a jogar pelo time de Buenos Aires.
Nesta segunda-feira, se completam 20 anos deste marco histórico do futebol brasileiro, e também, do Paysandu, e com exclusividade, o personagem daquele jogo falou sobre aquela experiência, relembrou os passos do Papão naquela Copa Libertadores, e sobre como aquela exibição na La Bombonera, foi impactante para a sua carreira profissional. Iarley, pouco tempo depois, em 2006, seria peça fundamental do Internacional de Porto Alegre, que treinado por Abel Braga, conquistaria o título do Mundial de Clubes, diante do Barcelona de Ronaldinho Gaúcho.
Índice
- 1 Como o Paysandu chegou à Libertadores em 2003
- 2 Papão assustou a todos na Libertadores
- 3 Paysandu vencia um gigante, em território inimigo
- 4 Experiência argentina coloca um fim no sonho do Paysandu
- 5 Exibição de Iarley, fez o Boca Júniors contratar Iarley
- 6 Iarley, ídolo do Paysandú, e também da torcida argentina
Como o Paysandu chegou à Libertadores em 2003
Talvez nem o melhor roteirista tivesse escrito, de forma tão emocionante, a respeito de como um time da região Norte do país chegaria pela primeira vez em sua história a uma competição tão disputada, como a Libertadores. O feito do Paysandu talvez nunca mais seja realizado novamente, devido as circunstâncias que mudaram o futebol de 20 anos para cá, mas fato é, que o time de Belém, capital do Pará, tinha até certa tradição em âmbito nacional, sempre figurando de vez em quando na primeira divisão do Brasileirão.
Em relação à força local ninguém discute, o Paysandu é uma das maiores forças da região Norte, e ao lado do Remo, formam uma das maiores rivalidades do Brasil. Porém, em 2002, este patamar seria elevado à máxima potência, na disputa da extinta Copa dos Campeões, que dava ao vencedor, a chance de disputar a Libertadores da América do ano seguinte.
Na época, 16 times, separados pelas suas respectivas classificações nos campeonatos regionais, eram divididos em quatro grupos com quatro equipes cada. O Paysandu, ganhou o direito de disputar a competição, pois foi o grande campeão da Copa Norte. Sedo assim, o time paraense caiu em um grupo dificílimo, que tinha o Náutico, o Corinthians e o Fluminense. Ao final da fase de grupos, o Papão passou em primeiro no grupo, com dois empates e uma vitória.
A partir das quartas de final, os classificados eram definidos em jogo único, o Paysandu desbancou o Bahia, vencendo por 2 x 1, nas semifinais, teria pela frente o Palmeiras, de Vanderley Luxemburgo, e em uma exibição de gala, venceu o time paulista por 3 x 1, se classificando para a final da competição.
O adversário na decisão seria outra potência do futebol brasileiro, o Cruzeiro. A final seria decidida em dois jogos, na primeira partida, vitória dos mineiros pelo placar de 2 x 1, e no segundo jogo, em uma exibição fantástica do Paysandu, o time venceu por 4 x 3, levou a decisão para os pênaltis, e venceu por 3 x 0, conquistando assim a Copa dos Campeões, chegando pela primeira vez em sua história a uma competição internacional.
Papão assustou a todos na Libertadores
Se já era muita coisa o time vencer a Copa dos Campeões, o que Iarley, Vandinho, Robgol, Lecheva e companhia limitada fizeram na Libertadores, é lembrado com muito carinho, não só pelo torcedor do Papão, mas também pelos amantes do bom futebol. Treinado por Daryo Pereira, lendário jogador da seleção uruguaia, e do São Paulo Futebol Clube, o time de Belém, literalmente atropelou todos os seus adversários na primeira fase da competição.
Em um grupo com times traicionais como Cerro Porteño, do Paraguai, Sporting Cristal, do Peru e Universidad Católica, do Chile, o debutante Paysandu mostrou para América do Sul a força do futebol brasileiro, e terminou a fase de grupos como líder da chave, sem nenhuma derrota, e com um futebol para lá de ofensivo, tendo marcado 14 gols em seis jogos. Destaque para a goleada sobre o time paraguaio, fora de casa, pelo placar de 6 x 2. O Papão terminou a primeira fase como segunda melhor campanha, e teria pela frente, nada mais nada menos do que o Boca Júniors, da Argentina, que em 2000 e 2001, foi bi-campeão da Libertadores.
Paysandu vencia um gigante, em território inimigo
Iarley era o camisa dez do time na Libertadores, e estava em uma fase iluminada, além dele, o time tinha peças muito qualificadas como Lecheva, Vandinho e Robgol, que chegou como franco-atirador diante de um poderosíssimo Boca Juniors, mas que dentro de campo mostrou muita garra e venceu de forma histórica. O meia relembra que pisar no gramado da mágica La Bombonera naquele dia 24 de abril, era o maior sonho de qualquer atleta do elenco, e que o principal para o time naquele momento era desfrutar, jogar sem medo, e competir para buscar o resultado, mesmo fora de casa.
“Pois é, a Bombonera é única, viver aquele ambiente, aquela atmosfera era nosso maior sonho. E fomos com este pensamento para aquele jogo, de dar o nosso máximo, conseguir um bom resultado, desfrutar da partida, e viver aquele momento, que foi único, marcante para toda a nossa vida”, disse Iarley.
O meia relembrou como aquele time encaixou, e colocou na roda, com muita facilidade, a todos os adversários que enfrentou até o duelo contra o Boca. Em cima deste desempenho acima da média, o time ganhou confiança, e os conselhos do técnico Daryo Pereira, que tinha experiência nesta competição, foram pontos cruciais para que o time conseguisse fazer uma grande partida diante do Boca Juniors, na Argentina.
“Nosso grupo deu liga, fomos os líderes de nossa chave, com um futebol muito vistoso, vencendo equipes de tradição na competição. Estávamos representando o Pará, que pela peimeira vez na história tinha um time do estado na Libertadores. E tivemos a felicidade de ter um técnico uruguaio, que já conhecia a competição, e nos deixou muito à vontade para desempenharmos o nosso melhor, e não deixar aquela pressão nos afetar em campo, a experiência do Daryo foi muito importante”, afirmou o ex-meia.
Mesmo debaixo de muita pressão e catimba dos argentinos, o Paysandu não se acuou, jogou para frente, e mesmo com as expulsões de Vanderson e Robson, Iarley, anotou um lindo gol aos 23′ do segundo tempo, calava a La Bombonbera, e colocava no coração do torcedor do Papão a esperança de que este time chegaria ainda mais longe, e aumentaria ainda mais seu feito.
Experiência argentina coloca um fim no sonho do Paysandu
Mangueirão lotado, vantagem de um gol no placar, e a possibilidade de empatar o jogo da volta para seguir adiante na Libertadores. O Paysandu tinha tudo para conseguir manter sua heroica e histórica campanha na competição internacional. Mas o fator experiência, uma dose de azar, e as ausências de Vandinho e Robson, expulsos no primeiro jogo, foram cruciais para que na volta, os argentinos fizessem uma partida perfeita e vencesse o jogo pelo placar de 4 x 2, eliminando o Papão, seguindo adiante no torneio, e posteriormente se tornando o grande campeão da edição de 2003.
Iarley relembra que a falta de experiência do time em mata-mata, aliado à malícia dos argentinos no Brasil, contribuíram para que o Paysandu não conseguisse manter a mesma confiança no jogo da volta, e consequentemente fosse eliminado da Libertadores.
“Sem dúvidas que os desfalques fizeram sim muita falta no segundo jogo, mas gostaria de ressaltar que a falta de experiência do nosso time em mata-mata, em jogar uma partida daquele tamanho, contra um adversário daquele tamanho, pesou muito. A estratégia de jogo, confiamos demais no fator casa, torcida, clima, e nos deparamos com um Boca que estava acostumado a este tipo de ambiente. Fizeram uma dobra de marcação em cima de mim, para me neutralizar, e essa falta de experiência foi o que pesou muito em nossa eliminação”, revelou o jogador.
Exibição de Iarley, fez o Boca Júniors contratar Iarley
Iarley continuou sua história no Boca Júniors, seu desempenho diante dos argentinos naquela Libertadores chamou a atenção da diretoria Xeneize, que contrariando sua tradição, trouxe o meia-atacante, que foi campeão argentino e mundial como titular do time, assumindo uma posição de muita responsabilidade, pois o brasileiro teria a missão de substituir nada mais nada menos do Riquelme, que tinha ido para a Europa.
“Vestir a camisa do Boca Júniors naquele momento foi um sonho realizado, um feito muito grande, eu fui o primeiro brasileiro a jogar no Boca, e eu tinha a responsabilidade de substituir o Riquelme, e usar a dez do Maradona. Fui campeão argentino e mundial, como titular, e quebrei muitas barreiras em um ano de clube”, relembra.
Um dos jogos mais memoráveis de Iarley com a camisa do Boca Júniors, foi em um clássico contra o River Plate, pelo Campeonato Argentino, mesmo fora de casa, em um Monumental de Nuñez lotado, o brasileiro mostrou a ginga tupiniquim e colocou os hermanos para dançar, em uma exibição que colocou o jogador nas graças da torcida Xeneize.
“Depos deste jogo contra o River Plate, dentro do Monumental de Nuñez, marcando um gol histórico, que até hoje é falado, isso me deu muita tranquilidade para manter meu trabalho, pela pressão de ser um camisa 10, e ser brasileiro em solo argentino caiu muito, e pelo contrário, depois deste jogo, eu passei a ser ídolo, para depois fazer um gol importante contra o San Lorenzo, no Campeonato Argentino, e depois no Mundial, contra o Milan, quando eu tento encobrir o Dida e a bola sobra para o Donetti, que empata o jogo, e nas disputas de pênatis, conseguimos a vitória, ou seja, nada disso teria acontecido, se eu não tivesse feito o que eu fiz na La Bombonera pelo Paysandu“, afirma Iarley.
Iarley, ídolo do Paysandú, e também da torcida argentina
Morando atualmente em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, Iarley continua no coração do torcedor do Papão, que continuamente manda mensagens em suas redes sociais, seja para agradecer pelo que fez em 2003, como também para relembrar o grande feito comemorado nesta segunda-feira.
Além disso, o jogador é seguido de perto pelos hinchas Xeneizes, que também lembram com muito carinho de toda a sua trajetória com a camisa do Boca Juniors.





