Guto Ferreira desabafa sobre situação do futebol no Brasil

A equipe do portal Futebol na Veia esteve presente no primeiro dia da Conferência Nacional de Futebol (CONAFUT), nesta quinta-feira (21), e entrevistou o treinador Guto Ferreira, que até pouco tempo estava no comando técnico do time do Goiás. Demitido em abril de 2023, o comandante treinou o Esmeraldino em apenas 25 jogos, com 16 vitórias, cinco empates e quatro derrotas, com um aproveitamento positivo de aproximadamente 70% dos pontos disputados. A derrota para o Atlético Goianiense na final do Campeonato Goiano, foi um dos motivos pelos quais a diretoria do time goiano preferiu pela troca do comando técnico.

Dentre vários assuntos abordados, Guto Ferreira falou sobre sua saída do time do Goiás, avaliou o momento atual do futebol brasileiro, com a contratação de vários treinadores estrangeiros, em detrimento dos profissionais formados em solo nacional, e também sobre os cuidados que devem ser tomados em relação às garantias dadas a estes treinadores, em praticamente toda a sua totalidade portugueses, que praticamente dominaram o cenário do futebol no Brasil.

Guto Ferreira aproveitou também para levantar uma questão importante em relação ao tempo de trabalho dado aos profissionais no Brasil, que é muito menor se comparado aos técnicos de outros países, e que o futebol brasileiro deve mudar, e ampliar sua maneira de trabalho de outra forma, e não somente colocar nas costas do técnico, a culpa por uma sequência ruim de resultados, ou a não conquista de um título.

Inicialmente, Guto Ferreira falou que seu momento longe de algum clube será aproveitado junto de sua família, de sua esposa e filhos. Por conta da intensidade de atividades em um clube de futebol, tempo é algo que poucas vezes sobra para outras atribuições. Neste momento, o treinador entende que é a hora para estudar, descansar um pouco, para em breve voltar ao trabalho em outra equipe.

“Um momento de desfrutar da família, coisa que a gente não tem oportunidade, né? Da esposa, dos filhos, da minha cidade. Logicamente que a gente não para, cê tem que tá acompanhando o futebol, tenho que tá estudando e o estudo não se baseia só em técnica, tática, treinamento físico, mas em gestão, uma série de coisas que envolve o trabalho do treinador, o treinador eh de certa forma não só o executor de parte técnica e tática, né? O mentor da parte técnica e tática, mas também o gestor de uma equipe multidisciplinar. Então, quanto mais conteúdo você tiver, quanto mais ferramentas você conseguir, mais preparado estarei para um novo desafio”, afirmou o comandante.

Guto Ferreira revela procura de clubes da Série B

O ex-técnico do Goiás também afirmou que foi procurado por dois clubes do Campeonato Brasileiro da Série B, segundo informações da imprensa campineira, o Guarani foi um destes clubes que procuraram o treinador, após a saída de Bruno Pivetti. Entretanto, Guto afirma que está avaliando melhor as propostas de trabalho que vem recebendo para voltar à beira do campo no momento certo. Neste momento, Guto prefere ter calma e paciência para aceitar um novo desafio dentro do cenário nacional.

“Então, o momento é esse, tivemos alguns convites, mas não ainda aquilo que a gente busca para gente. Em termos de mercado, estamos no aguardo. Muita tranquilidade, paciência e o mercado também nesse momento exige isso. Esses convites foram de clubes da Série B, sem desmerecimento, mas preferi não aceitar, pois o momento é de descansar um pouco. Estávamos trabalhando em uma continuidade desenfreada e eu pouco parei. De fevereiro de 2019 quando a gente pegou o Sport até agora, a gente praticamente num parou. Então é um momento também de dar uma respirada”, revelou Guto Ferreira.

Guto Ferreira avaliou sua passagem pelo time do Goiás e aproveitou para levantar uma questão importante acerca das condições de trabalho dadas aos treinadores no futebol brasileiro. Segundo o técnico, processos levam tempo, tempo este que deve ser respeitado para que os resultados em campo possam acontecer. Contratado pelo Esmeraldino em 2022, o comandante foi responsável por remontar uma equipe praticamente do zero, e mesmo assim, o desempenho no primeiro semestre do ano foi positivo.

O Goiás foi vice-campeão do Campeonato Goiano, e a base montada pelo treinador chegou ao título da Copa Verde, embora já não estivesse mais no comando do time. Para Guto Ferreira, o clube entendeu que a troca pelo comando técnico, apesar das condições ali impostas pela realidade Esmeraldina, era a decisão mais efetiva, e entende que o universo do futebol brasileiro é dessa forma, apesar de considerar que o cenário precisa de mudanças para que o esporte no país possa evoluir e se tornar protagonista novamente.

“Infelizmente o futebol tem disso, né? Avaliação de contexto, envolve muita coisa, envolve ganhos financeiros, perdas financeiras, envolve resultados de campo, enfim, e você  que tomar muitas decisões. A direção também dentro da parte administrativa tem que buscar as suas decisões, aquilo que é mais coerente para eles. Então sem constrangimento nenhum quanto a tomada de decisão deles, respeito a direção do Goiás, a vida do treinador de futebol é assim, infelizmente errado ou certo a cultura do futebol brasileiro é assim. E nós somos obrigados a conviver, mesmo falando que o futebol não é feito dessa forma, pois carece de tempo para ir amadurecendo, ele carece de ultrapassagem de etapas para amadurecimento de convivência de equipe, de grupo individual, depois qualificação coletiva, né? Isso demanda tempo de treino, demanda ultrapassagem de etapas seja com resultados negativos ou positivos” revelou Guto.

Guto Ferreira demonstra certa preocupação sobre os técnicos estrangeiros

Perguntado sobre a situação atual do futebol brasileiro, praticamente dominado por treinadores estrangeiros, quase em sua totalidade por portugueses, Guto afirmou que não é contra a vinda dos profissionais de outros países, pelo contrário, entretanto, a maneira como isso é conduzida no país pode trazer uma desvalorização ainda maior dos técnicos formados no país.

Os cursos para formação de treinadores no Brasil tem um custo alto e o nível de exigência para treinar em outros países é ainda maior, e mesmo conseguindo a formação em solo tupiniquim é necessário pelo menos cinco anos de experiência na Série A para comandar um time na Europa, por exemplo, o que não deve acontecer tão cedo devido às condições dos técnicos que se formam no país, e a europeização do cenário nacional.

“Eu me preocupo com algumas questões. Não sou contra a vinda, mas o filtro dessa vinda, por exemplo, nós treinadores brasileiros para trabalharmos na Europa, temos que ter licença pró e cinco anos de experiência em série A e essa reciprocidade ela é exigida pela CONMEBOL, mas a CBF que cobra valores bastante altos para formar um novo treinador. A chance de um técnico formado no Brasil treinar um time europeu é muito mais complicado. Sem contar as garantias em contrato estipuladas aos técnicos de fora, que são totalmente diferentes das criadas para os treinadores brasileiros”, concluiu

 

 

 

Lucas de Souza

Lucas de Souza

Repórter na equipe do Futebol na Veia e redator na Trivela, Lucas Souza é narrador do canal Futebol Interior e da Federação Paulista de Futebol.