Ao final da Segunda Guerra Mundial, em maio de 1945, a Alemanha de Hitler foi oficialmente derrotada e seu território, ocupado. As quatro principais nações vencedoras e grandes potências da época (EUA, França, Inglaterra e União Soviética) passaram a dividir o controle do território alemão, que ficou então dividido entre ocidental e oriental. Tais nações divergiam ideológica e politicamente, o que levou à construção do Muro de Berlim em 1961. Sua proposta era isolar Berlim, fechando suas fronteiras com a Alemanha Oriental e impedindo a movimentação de pessoas entre os dois territórios.
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NO FUTEBOL
Naturalmente, no lado soviético, surgiu a seleção da Alemanha Oriental, em 1949. Embora o governo proibisse a existência de clubes, com muito esforço foi criado um time nacional. Em 1951, solicitaram à FIFA sua adesão à entidade, e embora tenha havido protestos da Federação Ocidental, foram aceitos de forma provisória ainda em 1951 e de forma definitiva em 1952. Enquanto seus rivais compatriotas utilizavam o clássico uniforme preto e branco, os Campeões Mundiais de Jogos Amistosos tinham o azul e o branco como as cores de seus dois uniformes. O azul era usado pela Juventude Livre Alemã, uma ala jovem do Partido Comunista (o único do país) que fiscalizava os esportes praticados no lado controlado pelos soviéticos.
OS PRIMEIROS JOGOS
Em 21 de setembro de 1952, a estréia. Os alemães foram até Varsóvia, na Polônia, para enfrentar a seleção anfitriã, e saíram derrotados por 3 x 0. 35 mil pessoas presenciaram a partida. No ano seguinte, no dia 14 de junho, o primeiro jogo em casa. 55 mil pessoas compareceram ao Heinz-Steyer-Stadion e viram um empate sem gols.
OLIMPÍADAS
O lado oriental do futebol alemão teve desempenho notável nos Jogos Olímpicos. Em 1976, medalha de ouro batendo a Polônia na final. Na edição seguinte, medalha de prata ao serem derrotados pela Thecoslováquia na final. Além disso, foram também duas medalhas de bronze: 1964 e 1972.
COPA DO MUNDO E ALEMANHA x ALEMANHA
Ao contrário de seus compatriotas que moravam do lado de lá do muro, os orientais nunca tiveram bom desempenho nas principais competições. Foram nove eliminatórias para a Copa do Mundo e oito para a Eurocopa. A única ocasião em que obtiveram êxito foi na Copa do Mundo de 1974, justamente sediada por seus vizinhos de muro.
Apresentando um bom desempenho nas Eliminatórias e vencendo cinco dos seis jogos, os alemães-orientais chegaram ao torneio mundial com confiança. Coincidentemente, ambas as “Alemanhas” caíram no mesmo grupo. As boas expectativas se confirmaram, e os orientais venceram os dois primeiros jogos.
O JOGO
Na terceira rodada, o grande jogo. Todos os olhos estavam voltados para o Estádio do Povo, em Hamburgo. O jogo tinha uma variedade de agravantes: era o primeiro jogo entre as duas seleções em um contexto importante, pois ambas disputavam o primeiro lugar de seu grupo. Além disso havia envolvimento do viés político, e para os socialistas aquilo representaria de forma simbólica uma vitória sobre o capitalismo.
Então, em 22 de junho, os dois times foram à campo para se enfrentar, assistidos por mais de 60 mil pessoas. Destas, apenas duas mil vinham do lado oriental, e foram escolhidas pelo Partido Socialista para assistir o confronto.
Devido a todos os fatores, esperava-se um jogo repleto de deslealdade, com entradas violentas e brigas. Entretanto, o que se viu foi um jogo disputado, porém limpo. Boatos dizem que a Seleção Ocidental não jogou com todo seu poder de fogo, visto que uma vitória faria com que na próxima fase caíssem em um grupo com Brasil, Holanda e Argentina. Uma derrota significaria um grupo teoricamente mais fraco com Suécia, Polônia e Iugoslávia.
Jogando com toda sua força ou não, o que se viu em campo foi surpreendente. A Alemanha Ocidental de Gerd Muller, Franz Beckenbauer, Sepp Maier e Paul Breitner foi surpreendida aos 23 minutos do segundo tempo, quando Jürgen Sparwasser recebeu a bola e, cercado por três defensores, invadiu a área e desferiu um chute forte contra a meta adversária: 1 x 0, e este foi o placar final do jogo.
PÓS JOGO E O NOVO HERÓI
Sparwasser então ganhou status de herói, e apesar de ter sido convidado pelo Partido de seu país a ser seu garoto propaganda, preferiu recusar a proposta, já que discordava de sua ideologia. Assim, em 1988, quando disputava um torneio de veteranos, Jurgen fugiu de seu país.
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ÚLTIMO JOGO E EXTINÇÃO
Com a queda do muro de Berlim em 1989, o país se unificou, e naturalmente o mesmo aconteceu para as seleções de ambos os lados. Assim, em 12 de setembro de 1990, aconteceu o último jogo da Alemanha Oriental. Enfrentando a Bélgica em Bruxelas, os alemães venceram por 2 x 0, com dois gols de Matthias Sammer. A partida era válida pelas Eliminatórias da Eurocopa de 1992, mas a reunificação ocorreu antes do sorteio da competição.
JOGADORES HISTÓRICOS
O “Lado B” do muro também reserva espaço para heróis de sua seleção. A Alemanha Oriental teve um ponto final em sua história, mas grandes jogadores escreveram seu nome nela:
Joachim Streich – maior artilheiro e quem mais jogou pela seleção (53 gols em 98 jogos, entre 1968 e 1984).
Jürgen Sparwasser – autor do gol da vitória histórica da RDA sobre a RFA na Copa do Mundo de 1974.
Matthias Sammer – autor do último gol da RDA antes da reunificação. Pela seleção da Alemanha reunificada, disputou a Copa do Mundo de 1994 e foi campeão da Eurocopa de 1996.
Lutz Eigendorf – Embora tenha atuado na seleção alemã-oriental apenas entre 1978 e 1979 e marcando apenas 3 gols, tornou-se mais conhecido por morrer em um acidente de carro que ocorreu em circunstâncias misteriosas supostamente havendo o envolvimento da Stasi em 1983.
Os capitães Franz Beckenbauer (esquerda) e Bernd Brausch (direita) se cumprimentam antes da partida histórica. Foto em destaque: DPA/Press Association ImagesFoto em destaque: DPA/Press Association Images