Inacreditável – A Batalha dos Aflitos: o ressurgimento do Imortal

Há jogos históricos que se tornam memoráveis pela grandeza de sua conquista, já outros pelo esforço de superação até a glória. E há o episódio de 26 de novembro de 2005, quando um clube, em plena segunda divisão, desafiou as leis do futebol mundial e… até foi campeão. Assim, na semana em que completa 15 anos, a coluna .

Produzida e lançada em 2006, a obra conta a jornada épica do Grêmio de Futebol Porto Alegrense, um dos maiores clubes brasileiros. Assim, rebaixado à Série B pela primeira vez em sua história no ano anterior, o documentário acompanha a trajetória do ressurgimento do Imortal, em 2005, até retornar à elite do futebol nacional. Logo, algo que culminaria na histórica Batalha dos Aflitos, em que o Tricolor gaúcho derrotou o Náutico, com quatro jogadores a menos.

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Assim, em 2004, o Grêmio foi rebaixado pela única vez à Série B. Logo, fruto de gestões que endividaram o clube gaúcho, mas também de erros de arbitragem que decretaram derrotas na reta final do campeonato. É a partir deste ponto que Inacreditável – A Batalha dos Aflitos começa a contar sua história. Pois, com depoimentos de torcedores ilustres, jogadores e membros da diretoria, a obra faz um passeio pela temporada 2005 do Imortal. Especialmente, na campanha, sofrida, na primeira fase da Segundona, quando o clube esteve perto da zona de rebaixamento à Série C.

Para a última edição do torneio antes da implementação do sistema de pontos corridos, o Grêmio contratou Mano Menezes, do Caxias, como técnico. À época, o treinador não tinha o destaque dos tempos atuais, era ainda um profissional que começava a ter visibilidade após conquistar o Gaúchão com o Guarani-RS, em 2002. Assim, com um projeto modesto, mas ousado de retornar à elite, o Imortal iniciou a campanha patinando com derrotas e sem uma formação ideal.

Logo, apenas a partir da chegada do volante Sandro Goiano foi que o Grêmio deslanchou na competição rumo à classificação à fase final entre os oito melhores. Assim, algo que no documentário é explorado em demasia, que faz com seu ritmo se arraste por demais em passagens desse período. Acontece que, sem grandes jogos, à exceção da goleada sofrida para o Anapolina-GO, pouco ou quase nada soma-se a jornada. Além disso, a narração sonolenta inserida nos trechos dos jogos faz com que se perca o interesse.

A BATALHA DOS AFLITOS

Dessa forma, o Grêmio terminou a primeira fase em 4º lugar, enquanto que, na segunda etapa, dividida em dois grupos, finalizou na 2ª posição de sua chave. Logo, enfrentaria no quadrangular final dois clubes pernambucanos, Santa Cruz e Náutico, e a Portuguesa. Após cinco partidas, a última rodada indicava o confronto de tricolores pernambucano e paulista, no Arruda, e um “Grenal“, nos Aflitos. É partir dai que Inacreditável – A Batalha dos Aflitos chega ao seu auge.

Isso porque, reconta com detalhes e emoção o sentimento do torcedor gremista em cada incidente do confronto. Assim, precisando de um empate para subir de divisão, o Grêmio enfrentaria um Náutico apoiado por 22 mil vozes, um ambiente por deveras hostil. Logo, com faltas duras e reclamações, típicas de uma decisão, o Timbu começou melhor. No entanto, na reta final da etapa inicial, o árbitro marcou um pênalti inexistente de Domingos em Paulo Matos. Como pênalti mal marcado não entra, Bruno Carvalho carimbou a trave de Galatto.

https://www.youtube.com/watch?v=b_SzgKGTceE&t=630s

A HISTÓRICA RETA FINAL

Na jornada final, precisando do gol, o Náutico pressionou em busca da vitória, e veio a primeira expulsão no Grêmio, de Escalona ao colocar o braço na bola. Aos 35′, o árbitro marcou outro pênalti ao ver toque no braço do volante Nunes. A partir de então, o jogo se transformou em uma confusão que durou vários minutos com comissões técnicas, imprensa e seguranças dentro de campo. No fim, mais três expulsões no clube gaúcho: Patrício, Nunes e Domingos.

Logo, com quatro jogadores a menos em campo, com um pênalti a sofrer, tudo levava a crer que o Grêmio sofreria o gol que lhe manteria na Série B. No entanto, após encerrada a confusão, o zagueiro Ademar foi para a cobrança que poderia decretar a falência do Tricolor gaúcho. Mas, Galatto fez a defesa mais importante de sua carreira, calando mais de 20 mil torcedores e dando sobrevida ao Imortal.

Na sequência do lance, um momento inusitado, após falta que rendeu expulsão de Batata pelo Náutico, o jovem Anderson carregou bola pela esquerda, invadiu a área, passou por dois marcadores e mandou para as redes!! Era o gol do acesso gremista!! Era o gol de uma façanha que só quem presenciou naquela tarde acreditaria desde então. Com quatro jogadores a mais, após dois pênaltis perdidos, em um Aflitos apinhado de torcedores, o Timbu, abalado, sofria o golpe da misericórdia que deu a vaga ao Grêmio.

UM REGISTRO PARA A POSTERIDADE

Se lhe falta um ritmo melhor e uma narração mais contemplativa, sobra emoção em Inacreditável – A Batalha dos Aflitos. Até porque, o fato por si só já carregaria a dose necessária de tensão e alívio após o gol histórico de Anderson. No entanto, os depoimentos de quem esteve em campo dão o apoio final para a jornada épica, algo que talvez nunca mais aconteça. E é curioso perceber que isso ocorreu em uma partida de segunda divisão que parou o Brasil.

Detalhe, com o gol, o Grêmio foi campeão brasileiro da Série B, mesmo após o Santa Cruz dar a volta olímpica com um troféu improvisado antes de Anderson entrar para a história. No entanto, isso é, realmente, um detalhe, pois como parte da jornada é o fim, o que valeu a pena foram os mais de 90 minutos de sangue derramado no gramado. Dali em diante, o Imortal ressurgia para o futebol.

Foto Destaque: Reprodução / TGD Filmes

Ricardo do Amaral

Ricardo do Amaral

"Alvíssaras! Sou Ricardo Accioly Filho, pernambucano de 29 anos, advogado e estudante de jornalismo pela Uninassau. Tenho como mote que “no futebol, nunca serão apenas 11 contra 11”; é arte, é espetáculo, humanismo, tem poder de mover multidões e permitir ascensões sociais. Como paixão nacional do brasileiro, o futebol me acompanha desde cedo, entretanto como nunca tive habilidade para praticá-lo, busquei associar duas vertentes de minha vida: o prazer pela leitura e o esporte bretão. Foi nesse diapasão que encontrei no jornalismo esportivo o elo de ligação que me leva a difundir e informar o que, nas palavras de Steven Spielberg, é o “mais belo espetáculo de imagens que já vi”."