Série C: os quadrangulares do acesso

Antes de mais nada, a questão geográfica foi bem distribuída no que tange a briga pelo acesso à Série B. A exemplo da fórmula de disputa utilizada na temporada passada, os quatro primeiros colocados dos dois grupos avançaram para a fase dos quadrangulares da Série C. São dois clubes da região Norte (Manaus e Paysandu), mais dois da região Sul (Criciúma e Ypiranga), três da região Sudeste (Ituano, Novorizontino e Tombense) e apenas um da região Nordeste (Botafogo da Paraíba). Nesse sentido, com o fim da primeira metade do promotion round, este texto irá abordar os contornos iniciais dos candidatos ao acesso e projetar as futuras decisões no torneio.

OBS: Texto escrito após o final da 3ª rodada dos quadrangulares.

O domínio das equipes paulistas

Ambos os líderes dos quadrangulares da Série C são paulistas. O Ituano assumiu a liderança da sua chave após uma virada sensacional em casa diante do Paysandu (3 x 1). O técnico Mazola Júnior chegou a dizer antes da partida que os dois jogos contra o Papão da Curuzu seriam finais que definiriam o acesso à Série B. A remontada do Galo de Itu permite que o clube sonhe com uma das vagas. O Ituano não joga a Série B desde quando foi rebaixado em 2007. No ano passado, parou nessa mesma fase e não subiu. A sequência do time de Mazola tem dois jogos fora (Paysandu e Criciúma) e um em casa (Botafogo-PB). Pontuar fora é garantia de classificação.

Por outro lado, a trajetória do Novorizontino também é repleta de reviravoltas. Na rodada inicial, o clube paulista levou um sacode do Manaus (5 x 0). O técnico Léo Condé acendeu o sinal de alerta e mandou seus comandados jogarem com a corda esticada até o fim do quadrangular. Funcionou. Afinal, o Tigre do Vale venceu os gaúchos do Ypiranga (1 x 0) e os mineiros do Tombense (1 x 2). Este último com um gol nos acréscimos do 2º tempo. De certa forma, é interessante para o Novorizontino manter essa pegada em busca do acesso. Ganhar os dois jogos em São Paulo (Tombense e Manaus) liquida a fatura. Afinal, são concorrentes diretos. Vencer o Ypiranga também ajuda.

Os vices invictos: Criciúma e Manaus

É curioso que os segundos colocados das chaves estejam invictos nessa fase da Série C e os líderes não. A esquadra tradicional do Criciúma caiu para a Terceirona em 2019 e tem o acesso como uma obsessão. O time catarinense já venceu a Série C em outro formato (2006). Quer repetir a dose em 2021 – assim como o Ituano, que levantou o caneco em 2003. Aliás, o Tigre Carvoeiro briga ponto a ponto com os paulistas pela liderança. Empatou sem gols nos dois jogos que fez em Santa Catarina (Paysandu e Botafogo-PB), mas conseguiu compensar derrotando o Ituano (0 x 2) longe dos seus domínios. Creio que o jogo da volta contra o Galo de Itu define a vida do Criciúma.

O Manaus tem a mesma pontuação que o Criciúma. Atropelou o Novorizontino na estreia e empatou os duelos contra Tombense (2 x 2) e Ypiranga (1 x 1). A campanha é agradável e inspira um futuro promissor para o jovem time amazonense – o Manaus foi fundado em 2013. Segurar o lanterna Ypiranga no Rio Grande do Sul e vencer o Tombense dentro de casa é a melhor maneira de dar uma arrancada rumo à Série B. Por fim, um amistoso de luxo contra o Novorizontino se tudo acontecer conforme os planos dos manauaras. Além disso, o Cuiabá provou que organização e poderio de investimento podem dar ascensões relativamente meteóricas aos clubes mais recentes.

O drama de Botafogo-PB e Paysandu

A princípio, o Belo e o Papão jogam o mesmo quadrangular na Série C. Ademais, ambos já se enfrentaram na fase inicial. Eles estão empatados com 2 pontos e ficaram comendo poeira na primeira metade do promotion round. O Paysandu inclusive demitiu o treinador Roberto Fonseca após o desempenho pífio na chave decisiva. O trauma da temporada passada parece recair sobre o time paraense. O Papão da Curuzu viu a subida do arquirrival Remo em pleno Mangueirão e ficou pelo caminho. Já o Botafogo da Paraíba sequer marcou um gol no quadrangular até agora. Só fica na frente do Paysandu por causa do saldo de gols. O acesso, hoje, parece improvável para ambos.

Desse modo, tanto o Paysandu quanto o Botafogo precisam reagir imediatamente se ainda quiserem sonhar com a subida de divisão. O Papão pega em sequência Ituano (C), Botafogo (F) e Criciúma (C). Na pior das hipóteses, o Paysandu pode até se dar o luxo de não vencer os paraibanos. Contudo, ganhar dos concorrentes diretos é uma questão de sobrevivência. Já o Belo vai enfrentar Criciúma e Paysandu em João Pessoa antes de encerrar a sua participação nessa fase contra o Ituano fora. A meu ver, o ideal também seria vencer os três jogos. No entanto, se fizer o dever de casa e pontuar em Itu pode subir para a Série B. 9 pontos foi suficiente para Brusque e Londrina.

A sobrevida de Tombense e Ypiranga

Assim como Botafogo-PB e Paysandu, estão no mesmo grupo da Série C. Entretanto, a conjuntura se apresenta bem diferente para mineiros e gaúchos. O Tombense tem chances concretas de acesso enquanto o Ypiranga lida com uma situação parecida com a do Paysandu – o peso de sucumbir no quadrangular decisivo. A equipe mineira só saiu do G2 após perder em casa para o Novorizontino. Apesar disso, já havia tropeçado em Minas Gerais contra o Manaus. O que garante a sobrevida do Tombense é a vitória na primeira rodada diante do Ypiranga (0 x 1). Vai precisar tirar pontos dos concorrentes diretos jogando longe dos seus domínios e vencer novamente os gaúchos.

Azarão da chave, o Ypiranga soma apenas o ponto do empate contra o Manaus. Afinal, perdeu para Tombense (0 x 1) e Novorizontino (1 x 0). Com chances remotas de classificação, o Canarinho ao que tudo indica vai morrer atirando. Pega em seguida Manaus e Novorizontino. Os dois jogos serão no Colosso da Lagoa – um alento para a equipe gaúcha. A rodada derradeira do quadrangular reserva um confronto no interior de Minas Gerais com o time do Tombense. Caso o Ypiranga reaja, e seja capaz de ganhar em Erechim, é possível que ele chegue no momento mais importante dessa fase com possibilidade de subir.

Foto destaque: Divulgação / O Curioso do Futebol

André Filipe

André Filipe

Apaixonado pela dimensão histórica do futebol e pela ciência da bola. Gremista desde a Batalha dos Aflitos para o que der e vier. Sinto na escrita o calor latente das minhas paixões profissionais. Historiador, jornalista esportivo e jogador de pôquer nas horas vagas.