Do sonho de 11 garotos às portas da Igreja de Santa Cruz nasceria um dos clubes mais populares do futebol brasileiro. Assim, em sua pele vermelha, preta e branca correm o sangue de bravos jogadores e torcedores e a marca da inclusão desde seu nascedouro. De Lacraia à Grafite, o Santa Cruz Futebol Clube é paixão, é amor, um ideal de vida para milhões de tricolores. Logo, mais do que tudo, torcer para a Coral é explodir de alegria quando sai o grito preso de gol, é saber se reinventar, se superar e se reerguer. Nesta quarta-feira (3), a coluna rende homenagem ao Clube do Povo, ao Mais Querido de Pernambuco, que completa 107 anos.
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Do coração do Recife, no bairro da Boa Vista, a história do Santa Cruz começaria a ser escrita. Assim, sem espaços nos clubes à época, que eram restritos aos britânicos e a elite açucareira, um grupo de meninos que batiam bola em frente a uma igreja barroca decidiram fundar um clube para chamar de seu. Dessa forma, do prédio santo veio o nome que atrairia cada vez mais adeptos e simpatizantes, sendo fundamental para a inclusão da massa popular aos iniciantes jogos da bola em solo pernambucano.
Das camadas mais pobres viria também o primeiro ídolo coral, Teófilo de Carvalho, o Lacraia, o primeiro negro a jogar por um clube no Norte-Nordeste. Mas do que um torcedor dentro de campo, ele contribuiu para o crescimento do clube, sendo o criador do primeiro emblema. Nem sempre tricolor, o Santa Cruz nasceu alvinegro. No entanto, devido a não poder haver mais de um clube com as mesmas cores inscrito na incipiente Federação Pernambucana, o vermelho se uniria ao preto e branco. Algo simbólico, pois a partir de então passou a ser comum seus praticantes deixarem sangue dentro de campo.
Dessa forma, sendo um dos primeiros clubes a aceitarem negros em seus quadros executivos e dentro de campo, o Santa Cruz é mais do que uma equipe de futebol. Isso porque, é um clube de massa, de alma, com espírito de lutas e valentia. Mesmo em sua fase de maior dificuldade, o jogador e torcedor coral encontram forças para serem campeões. Logo, entre tantos títulos que exaltam o aspecto de superação, os viveram o ápice de um resgate do ser Santa Cruz em 2016, quando pela primeira vez foram campeões da Copa do Nordeste.
SANTA CRUZ: DA QUEDA À GLÓRIA
Assim, as dificuldades iniciaram 10 anos antes. Após retornar à elite em 2005 liderados por Carlinhos Bala e Rosembrick, o Santa Cruz experimentou seguidos rebaixamentos que lhe dragaram para o submundo do futebol brasileiro, a Série D. Pior, por um breve instante em sua história, ficou sem divisão e teve que conviver com a classificação via estadual. No entanto, em uma jornada marcante, do mesmo modo que caiu, o Tricolor ressurgiu, pois não importavam as pedras no caminho, os Corais conquistariam o objetivo no fim do trajeto.
Logo, uma a uma, as barreiras iam sendo derrubadas com a força da imensa torcida que carregou o clube nas costas nos campos batidos de terra. Campeão pernambucano jogando a Série D, Tricampeão estadual em plena Série C, onde levantou até então seu único troféu brasileiro, e a volta à Série A após nove anos! No entanto, faltava bradar mais alto fora de Pernambuco com um título que representasse a grandeza do Santa Cruz. E ele viria em 2016, deixando claro o motivo de ter sido o Campeão da Década em Recife, a Copa do Nordeste.
Naquele ano, o Santa Cruz formaria, talvez, o seu melhor elenco neste século. Logo, comandados por Milton Mendes e liderados em campo pelos ídolos Tiago Cardoso e Grafite, ainda lançou para o futebol Keno e Arthur Caike. Apesar disso, o início da campanha foi difícil caindo em um grupo com o multicampeão Bahia. Além disso, naquela edição, apenas o líder da chave e os três melhores segundos colocados avançariam de fase. Com três vitórias, um empate e duas derrotas, o Tricolor empatou em pontos com quatro segundos colocados e se classificou por um gol a mais de saldo!
EXTERMINADOR DE CAMPEÕES
Superada as dificuldades iniciais, o Santa Cruz começaria a escrever mais uma página gloriosa com suor e sangue ao derrubar campeões do nordeste. Assim, um a um, Ceará, então campeão, sucumbiu com duas vitórias dos Tricolores. Em seguida, foi a vez de reencontrar o Bahia na semifinal e vingar as duas derrotas na fase de grupos. Logo, em Salvador, o gol de Grafite levou a Cobra Coral para uma final de Copa do Nordeste contra o Campinense, campeão de 2013.
Por um questão meritória, o Santa Cruz não encontraria riscos na decisão. No entanto, a Raposa campineira tinha homens com brios do outro lado que lutaram até o fim. Pois, após vencer o primeiro jogo, no Arruda, por 2 x 1, com gols de Grafite e do General Bruno Moraes, os Tricolores iriam arrancar o título no Amigão, em Campina Grande. Em campo, as características marcantes do treinador Milton Mendes: compactação, marcação forte e transição rápida. Mesmo superior em campo, não seria uma conquista coral sem sofrimento. Logo, aos 25′ do segundo tempo, Rodrigão abriu o placar para o Campinense, que levaria a decisão para os pênaltis.
SANTA CRUZ, CAMPEÃO DO NORDESTE!
No entanto, surgiria a marca de Keno, o craque daquela competição, atualmente no Atlético-MG. Pois, foi dele o passe para Arthur Caike, que teve que chutar duas vezes para vencer a barreira defensiva para empatar a partida. Na briga, na raça, no drama, o Santa Cruz conseguia o gol que daria o título regional. Em seguida, era só aguardar o apito final para gritar pela primeira vez que era campeão do Nordeste. Logo, em uma campanha em que fortes forças da região sucumbiram ao poderio tricolor.
Dessa forma, era o ápice de uma paixão que não mede distâncias para ver seu clube, seja nos grandes palcos da bola, nos campos de terra ou mesmo em solo internacional. Logo, um amor que não se fundamenta apenas em títulos, nem em vitórias, é algo que se transmite de geração à geração, pois quem é Santa Cruz de corpo e alma será sempre de coração. Como o cântico que explode pulmões de emoção nas arquibancadas do Arruda: “Sempre vou te amar, nunca vou te abandonar“.
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Foto Destaque: Reprodução / Diego Nigro / Acervo JC Imagem


