O Sport que não emociona, ainda assim, será sempre o Sport que a gente ama!

Às vésperas da estreia na Série A, o Sport atravessa a pior fase de seus 115 anos de história. Apesar de ter retornado à elite do futebol brasileiro, o Leão coleciona, em 2020, seguidas eliminações vexatórias na Copa do Brasil, Copa do Nordeste e no Campeonato Pernambucano. Além disso, no Estadual, com apenas 10 clubes, o Rubro-Negro não conseguiu vaga entre os seis melhores para a fase final. Dessa forma, está disputando os três jogos mais vergonhosos de sua trajetória para apenas permanecer na elite. Algo que evidencia o que gestões malfadadas levaram um dos maiores clubes do Brasil à uma crise financeira sem precedentes. E a coluna Rasgando o Verbo de hoje vai apresentar um panorama desse assunto.

A bem da verdade, o Sport nunca “nadou em dinheiro”. No entanto, após gestões que estabilizaram as finanças do clube a partir do título da Copa do Brasil, em 2008, houve o retorno de Luciano Bivar à presidência do Leão, em 2013. Hoje em dia, o irmão do atual presidente leonino é deputado federal pelo PSL, partido em que preside. Apesar de eleito para um mandato de dois anos, Luciano ficou apenas um ano no cargo, se afastando para disputar as eleições federais de 2014.

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Em seu lugar, assumiu o vice-presidente João Humberto Martorelli, conceituado advogado pernambucano, que deu continuidade a política de engrandecimento do Sport, iniciado por Bivar. Assim, com a volta à Série A, em 2013. o novo presidente acertou com a fornecedora de material esportivo Adidas e, já no primeiro ano, foi campeão pernambucano e da Copa do Nordeste, após 14 anos. Algo que assegurou a reeleição para o biênio 2015/2016.

Além disso, realizou contratações midiáticas, como as de Ibson e Diego Souza, que assinalavam um novo status do Sport no mercado da bola. Com salários em dia, austeridade e com a imagem sólida no futebol brasileiro, o Leão realizou a melhor campanha de sua história na era dos pontos corridos do Brasileirão, em 2015. No entanto, a partir de 2016,  já dava sinais que algo estava errado internamente. Isso porque, diante da campanha em 2015, o passou por um processo de desmontagem de elenco para o ano seguinte.

E, sob o comando do técnico Paulo Roberto Falcão, seguiu-se uma sucessão de contratações sem justificativas que não deram certo. Ainda neste ano, anunciaram a chegada do atacante chileno Mark González e do colombiano Reinaldo Lenis, vindo do Argentinos Juniors, então maior contratação da história leonina, que pouco ou nada produziram. Dessa forma, o resultado foi nova perda do Campeonato Pernambucano, a quinta em seis anos para o rival Santa Cruz, e a briga contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

GESTÃO ARNALDO BARROS NO SPORT

Apesar disso, com um discurso arrogante de que o Sport não cabia em Pernambuco, a situação elegeu o também advogado Arnaldo Barros, vice-presidente de Martorelli, para o biênio 2017/2018. No entanto, na sua gestão, mesmo com o título pernambucano no primeiro ano, o que se assistiu foi uma queda cada mais acentuada do poder financeiro e esportivo do clube.

Assim, a gestão Arnaldo Barros não poupava em contratações. Sob sua batuta, Vanderlei Luxemburgo foi contratado para comandar a equipe. Além dele, veio o chileno Eugenio Mena, André retornou, Diego Souza seguiu, Rithely renovou por cinco anos e o zagueiro colombiano Henriquez fez coro à Lenis. No entanto, em campo, nova briga contra o rebaixamento.

Já em 2018, após festa pela volta do técnico Nelsinho Baptista, campeão da Copa do Brasil, o experiente treinador saiu brigado com a diretoria e pela porta dos fundos, pois o que foi prometido não foi cumprido. Assim, uma “bomba” caia na Ilha do Retiro com o anúncio de salários atrasados, depois de anos de uma imagem sólida. A partir de então, vários jogadores de destaque deixaram o Sport, alguns acionando o clube na justiça. Em campo, eliminação vexatória na Copa do Brasil para o Ferroviário-CE e, na Série A, a queda para a segunda divisão, após cinco anos.

SOPRO DE ESPERANÇA: MILTON BÍVAR

Com o Sport de volta à Série B e já afundado na crise financeira, os sócios trouxeram ao poder um velho conhecido: Milton Bívar. Assim, com uma política orçamentária enxuta, o mandatário, campeão da Copa do Brasil, buscou devolver o clube à torcida, que se sentia distante diante da gestão considerada elitista de Barros. Logo, se reforçando com apostas e jogadores de potencial, mas em má fases, o Leão voltou a ser campeão pernambucano, em 2019. Além disso, conseguiu o acesso à Série A. No entanto, na Copa do Brasil, novo vexame, sendo eliminado ainda na primeira fase para a Tombense, de Minas Gerais.

Apesar do sucesso em campo, nos bastidores, o resultado da auditoria nas contas das gestões Martorelli e Barros indicava déficits. Isso porque, os ex-presidentes foram responsabilizados por terem aumentado o passivo do clube, contraído dívidas tributárias, antecipado, de maneira irregular, cotas de televisão junto á Rede Globo e de não disponibilizarem o livro-caixa. Diante das acusações, Martorelli e Arnaldo Barros se defenderam e prometeram processar seus acusadores. A celeuma ainda segue.

https://www.youtube.com/watch?v=d9-y9-y3Ze0

A MAIOR CRISE E A PIOR FASE DA HISTÓRIA DO SPORT

Assim, a volta à elite e as cotas de televisão que ela proporciona dariam uma nova injeção de dinheiro aos cofres do Sport. No entanto, o surgimento da pandemia da Covid-19 fez ruir a projeção de orçamento de 61 milhões de reais para 2020. Pois, com a paralisação, o clube deixou de lucrar com as rendas dos jogos e de receber de seus patrocinadores, alguns até deixaram o Leão. Quanto ao quadro de funcionários, o Rubro-Negro já fez demissões para manter o orçamento equilibrado diante de um cenário de tantas incertezas.

Logo, as contratações realizadas para este ano foram modestas e o que se assistiu foi mais um vexame na Copa do Brasil com a eliminação ainda na primeira fase para o Brusque-SC. Além disso, na Copa do Nordeste, sofreu para classificar às quartas de final, onde cairia diante do Fortaleza. No entanto, o pior estava guardado para o Campeonato Pernambucano com a eliminação, ainda na primeira fase, e o vexatório constrangimento de disputar o quadrangular do rebaixamento.

https://www.youtube.com/watch?v=Q_vaCpJVbxg&t=20s

Algo que não reflete a tradição, a grandeza, o passado de luta e vibração de milhões de torcedores. Atualmente, o Sport é um clube irreconhecível, em campo e nos bastidores, com seguidas rescisões unilaterais, desmanche de estruturas internas e cobranças judiciais por salários atrasados. Assim, a Série A já se avizinha e o time ainda não tem uma espinha dorsal e nem, minimamente, 11 titulares definidos. Já está no segundo técnico que, mesmo com história no clube, não transmite confiança aos torcedores. O futuro nos parece tenebroso e o que hoje dizemos ser a pior fase pode ser apenas mais um caminho para uma nova queda à Série B.

Talvez, falte identidade com quem está em campo, talvez, falte confiança para acreditar em vitórias na Série A. No entanto, ainda assim, a instituição está de pé e a camisa pesada ainda entrará em campo. Nunca na história, o abraço selado a 115 anos foi tão forte, porque não tem separação… Sport segue sendo uma religião e é para ela que devemos torcer!

Foto Destaque: Divulgação / Sport Club do Recife

Ricardo do Amaral

Ricardo do Amaral

"Alvíssaras! Sou Ricardo Accioly Filho, pernambucano de 29 anos, advogado e estudante de jornalismo pela Uninassau. Tenho como mote que “no futebol, nunca serão apenas 11 contra 11”; é arte, é espetáculo, humanismo, tem poder de mover multidões e permitir ascensões sociais. Como paixão nacional do brasileiro, o futebol me acompanha desde cedo, entretanto como nunca tive habilidade para praticá-lo, busquei associar duas vertentes de minha vida: o prazer pela leitura e o esporte bretão. Foi nesse diapasão que encontrei no jornalismo esportivo o elo de ligação que me leva a difundir e informar o que, nas palavras de Steven Spielberg, é o “mais belo espetáculo de imagens que já vi”."