Podemos conceituar “inferno astral” como a casa zodiacal que precede o signo de alguém. Desse modo, é irônico que agosto anteceda o aniversário do Grêmio (15/09). Afinal, o clube permanece afundado na zona de rebaixamento – sem previsão de saída. Enfim, a campanha pífia no Campeonato Brasileiro deita raízes no trabalho de Tiago Nunes (evidente que a culpa não é exclusividade dele). Nesse sentido, Felipão chegou com status de bombeiro. Conseguiu melhorar a pontuação gremista e avançar na Copa do Brasil. Porém, o Imortal sofreu o revés para a LDU e deu adeus à Copa Sul-Americana. Além disso, a pressão aumentou. Em suma, onde o Grêmio se perdeu?
Grêmio dentro das quatro linhas
O técnico 2 é uma peça importante para o entendimento da crise gremista. Maior ídolo da história do clube, graças aos seus dois gols no Mundial, ele exercia uma liderança importante dentro e fora do vestiário. Por outro lado, a diretoria do Grêmio acabou abrindo mão de algumas funções direcionais e hoje paga o preço por essa postura. Renato acertou muito até 2018. Não fosse o Ri(VAR) Plate, talvez hoje eu estivesse falando do único brasileiro tetracampeão da América. No entanto, seu trabalho começa a resfolegar nas goleadas da Libertadores. O Grêmio foi destronado pelo Flamengo de Jorge Jesus. Já não jogava o melhor futebol do Brasil.
O futebol cadenciado ficou lento. A razão? Contratações fora do tom que irritaram profundamente a torcida. Alguns nomes inclusive continuam fardando a gloriosa. O Grêmio parou no tempo. Fez força para chegar na final contra o Palmeiras. Desse modo, é compreensível visto que o Tricolor joga muito com a camisa pesada na Copa do Brasil. Em síntese, jogou 20 minutos e nada mais. O time perdera a força de vontade. Sequer parecia disputar um título tão relevante. Era um borrão apagado do esquadrão de 2017. O tiki-taka gremista virava uma mera lembrança.
A situação do elenco gremista
A rigor, o time do Grêmio é muito bom no papel. Antes do início do Brasileirão as expectativas eram altas. A falta de resultados gerou uma crise sem precedentes que pode culminar no desastre: o terceiro rebaixamento na história do clube. É difícil entender o motivo dessa equipe não dar liga. A possibilidade do elenco ter rachado já foi ventilada na mídia. Particularmente, eu discordo. Afinal, muitos jogadores estão unidos em torno da recuperação do Grêmio. Em contrapartida, outros preferem fazer uma roda de pagode e se arrastar em campo no Brasileirão. O racha não está no elenco, mas sim no compromisso com o clube. Muito pior, dado o contexto de pandemia. Enfim, o caos.
A tentativa de resgatar o legado positivo de vitórias passa pelo investimento em material humano. Recentemente, o Grêmio trouxe jogadores a nível de seleção. Borja, Villasanti e Campaz chegam para brigar pela titularidade e dar mais opções a . Inclusive no setor de ataque, carência gremista no momento. Dessa forma, a filosofia de jogo pode evoluir a partir desses reforços. Talvez seja a hora de alterar o esquema tático e testar essas peças em um 4-4-2 clássico. De antemão, o Grêmio compacto que sabe assustar muito. A máquina dos anos 90 que o torcedor lembra com carinho. É preciso um pouco mais de agressividade para deixar a zona de rebaixamento.
Grêmio fora das quatro linhas
A princípio, o maior descontentamento da torcida gremista é a sua diretoria. Os cartolas são muito atacados pela postura covarde nas coletivas enquanto atiram os guris da base aos lobos, se escondem na hora que o circo pega fogo ou passam pano para as atitudes irresponsáveis de alguns jogadores. Falta a mão de ferro e o pulso firme. A omissão é um veneno que a gestão Romildo Bolzan bebe de copo cheio. É válido agradecer o pagamento da dívida do clube, mas ninguém vive de superávit se não soube fazer essa grana gerar um retorno. Todavia, eu até acho que a diretoria acertou em contratar nesse momento. Qualidade e novidade podem mexer com o psicológico abalado do Grêmio.
Contudo, é cruel e desumano colocar uma responsabilidade colossal nos ombros desses indivíduos que chegam ao Grêmio no olho do furacão. Assim como não é apropriado castigar as pratas da casa. A torcida sabe onde está a raiz do câncer. Infelizmente, o Grêmio como um todo parece sofrer um processo de metástase. Certos atletas pensando que são maiores que o clube, dirigentes usando cargos como trampolim político, brigas internas pela manutenção do poder e carência de lideranças (quem diria). A ruptura que marca esse fim de ciclo é violenta. Nesse sentido, tempo para a remontada ainda existe. Porém, no mês de dezembro ele se esgotará. Acorda, Grêmio.
Foto destaque: Divulgação / Rubens Chiri – São Paulo FC


