O Clássico de Avellaneda

No sábado passado (10), Racing e Independiente se enfrentaram pela 9ª rodada da primeira fase do Campeonato Argentino. O palco do confronto foi o Estádio Presidente Perón, vulgo El Cilindro, a cancha do Racing. Diga-se de passagem um dos estádios mais bonitos do planeta. A equipe de Juan Antonio Pizzi saiu vencedora com um gol marcado por Copetti aos 52 minutos do 2º tempo. A polêmica da vez é o lance que originou esse gol: um pênalti discutível anotado pelo árbitro Mauro Vigliano no apagar das luzes. Mais que um texto meramente informativo, trago para vocês uma crônica bem-humorada do Clássico de Avellaneda.

A vitória do Racing

Protagonistas de uma rivalidade que ultrapassa todos os limites, La Academia e El Diablo Rojo fizeram um jogo relativamente equilibrado. Contudo, o Racing teve as melhores chances. Debaixo de chuva, o morno empate parcial refletia o drama de dois gigantes que precisam fazer de tudo pela classificação.

Entretanto, prevaleceu o volume de jogo e a proposta do Racing. A equipe de Pizzi foi superior em praticamente todos os quesitos: posse de bola, chutes a gol, passe qualificado e escanteios. Por outro lado fez sete faltas a mais que o rival (17 x 10). Afinal, La Academia joga sem abrir mão da cultura cisplatina do futebol força.

Apostando em um bloco defensivo sólido, o treinador do Racing se preparou para anular todo o poderio ofensivo do Independiente. O resultado foi uma partida truncada que rendeu três cartões amarelos para cada lado. Dessa vez, surpreendentemente, ninguém foi expulso. La Academia ainda contou com um pênalti duvidoso a seu favor…

Na sequência da competição, o Racing encara Arsenal de Sarandí (F), Colón (C), Central Córdoba (F) e San Lorenzo (F). O primeiro é o lanterna do Grupo A e não deve oferecer muita resistência. Em contrapartida, o Colón é líder da chave e pode dificultar. Já os dois jogos derradeiros são contra concorrentes diretos. Não dá para respirar.

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A derrota do Independiente

Certamente as coisas não saíram como o planejado pelo técnico Julio César Falcioni. Nesse sentido, o futebol do Independiente não encontrou evolução diante do seu principal rival. El Diablo Rojo se acanhou e sucumbiu a centenas de metros do seu estádio, na cancha adversária. Entretanto, poderia ter tido sorte melhor?

A princípio, duvido bastante que o produto da proposta de jogo do Independiente fosse resultar em algo mais interessante para o Rey de Copas. O time de Falcioni foi dominado e não conseguiu sair da armadilha tática do Racing. Afinal, a equipe só foi superior em impedimentos (2 x 0). Um verdadeiro fiasco no Clássico de Avellaneda…

Desse modo, a postura tímida de Falcioni custou caro ao Independiente. Hoje o clube está em 5º lugar com 13 pontos, fora da zona de classificação para a próxima fase. Embora esteja empatado com Boca Juniors e Talleres, o que mostra o equilíbrio técnico da competição nacional argentina. Precisa ser forte não só em Avellaneda.

Na sequência do campeonato, o Independiente vai enfrentar Defensa y Justicia (C), Unión de Santa Fé (F), Tucumán (C) e Huracán (F). O Unión é o 3º colocado do Grupo B e todos os demais estão um ponto atrás do time de Falcioni. Dessa forma, El Diablo Rojo precisa ter muito cuidado para não tropeçar mais. Vencer é urgente.

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O duelo tático no Clássico de Avellaneda

Antes de mais nada, gostaria de dizer que essa partida proporcionou uma reversão de expectativas tremenda. Os dois planos de jogo evidenciavam que muito provavelmente o Independiente comandaria as ações ofensivas enquanto o Racing ficaria atrás da linha da bola. Na prática, esse sofisma caiu por terra. Afinal, o Racing marcou em cima.

A estratégia de Pizzi se baseou em criar uma confusão tática na cabeça de Falcioni. A princípio, La Academia vinha com uma proposta retranqueira. O 5-3-2 conformou um cinturão defensivo praticamente intransponível, mas uma transição veloz é o diferencial. A profundidade do Racing veio mais da recomposição do que da circulação de bola.

Dessa forma, a marcação intensa ajudou o Racing a executar sua ideia de jogo. O adversário veio disposto a atacar sem ter como se defender. Um erro crasso no futebol. Todavia, o Independiente também pouco atacou. Parecia até satisfeito com o empate no estádio do rival.

Apesar de ter optado pelo arriscado (e faceiro, pois traz consigo a ilusão do equilíbrio e de uma suposta soberania nas três linhas) 3-4-3, Falcioni fugiu da ideia desse esquema tático. O 3-4-3 pode dar certo – como no Borussia de Thomas Tuchel, mas também pode dar errado. É uma linha tênue entre o sucesso e o fracasso.

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O futuro de Racing e Independiente

Apesar do momento semelhante no que se refere à tabela de classificação, o Racing tem um caminho mais duro pela frente. O motivo? Disputará a Copa Libertadores – título que não vem desde 1967 e que a barra brava do clube (La Guardia Imperial) tanto cobra – em paralelo com a reta final da 1ª fase do Campeonato Argentino.

Já o Independiente está na Copa Sul-Americana (a qual venceu em 2010 e 2017) e espera viver dias melhores em competições continentais. Desse modo, irá intercalar as partidas derradeiras do Campeonato Argentino com os jogos da Sul-Americana.

Nesse sentido, os rivais de Avellaneda pecaram quando não construíram uma vantagem mais sólida para chegar com gordura nessa reta final. Afinal, os dois torneios continentais representam muito para as receitas de ambos. Não é razoável abrir mão de um ou outro. Ainda mais nessa altura do campeonato.

O Racing tem um grupo muito enjoado com o tricampeão São Paulo, o sorrateiro Sporting Cristal e o azarão Rentistas. O Independiente terá pela frente o Bahia, o boliviano Guabirá e o vencedor do confronto uruguaio entre Montevideo City Torque e Fénix.

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Foto destaque: Divulgação/Medium

André Filipe

André Filipe

Apaixonado pela dimensão histórica do futebol e pela ciência da bola. Gremista desde a Batalha dos Aflitos para o que der e vier. Sinto na escrita o calor latente das minhas paixões profissionais. Historiador, jornalista esportivo e jogador de pôquer nas horas vagas.