Nacional x Peñarol: o reduto das histórias mais improváveis do futebol

aconteceram.

CLÁSSICO DA FUGA

A saber, na Argentina, o termo “galinha” é utilizado para equipes que perdem decisões e partidas importantes. No Uruguai não é diferente. Contudo, há quem diga que em terras charruas o vocábulo possui significado social e distingue os ricos dos pobres. Ou seja, o Nacional, nascido em “berço de ouro”, é considerado uma “galinha” (dos ovos de ouro). Enquanto o Peñarol, criado por ferroviários e imigrantes, representa o povo (até visto o apelido Carboneros, em português: mineiros de carvão). Pois bem, o Superclásico disputado no dia 9 de outubro de 1949 ficou marcado pelos jogadores do Nacional se recusarem a jogar o 2º tempo após o Peñarol impor 2 x 0 na etapa inicial.

O Peñarol era o grande favorito para o duelo. “La Maquina” comandada por Alcides Ghiggia, Juan Schiaffino e Obdulio Varela provou sua superioridade marcando dois gols no 1º tempo. Primeiramente, Ghiggia abriu a contagem no Estádio Centenário. Logo em seguida, o árbitro Horacio Bochetti marcou pênalti para os Aurinegros, após falta de Eusebio Tejera em Omar Míguez, e o zagueiro foi expulso. Na cobrança, Míguez bateu e Aníbal Paz defendeu. Mas, no rebote, Ernesto Patrullero Vidal mandou para as redes. Contudo, Vidal invadiu a área antes da cobrança e, conforme a regra, o gol deveria ser anulado. Mesmo assim, Bochetti validou o segundo gol do Peñarol. Em seguida, Walter Gómez foi reclamar, perdeu a cabeça e acabou expulso após chutar a perna do juiz, o mesmo respondeu com um soco em Gómez. Além disso, o jogador saiu com escolta policial e teve que se explicar no vestiário.

Reprodução/Jornal EL PAÍS
Reprodução/Jornal EL PAÍS

Indignados com toda a situação, os dirigentes do Nacional se recusaram a mandar seus atletas de volta para o 2º tempo. Com o não retorno, Horacio Bochetti encerrou a partida e o Peñarol foi declarado vencedor por W.O. Desse modo, as provocações aurinegras diante desse episódio retratam os Bolsos como gallinas, covardes e fujões.

O GOL DE VALIJA 

Antes de começar o capítulo mais curioso desse texto, é necessário informar que valija em espanhol significa: bolsa, mochila, maleta ou nesse caso kit de primeiros socorros. Por certo, a equipe de 1933 do Nacional era considerada imbatível. Um dos destaques da jornada foi Domingos da Guia. Los Bolsos lideraram boa parte do Campeonato Uruguaio, o segundo na era do profissionalismo. Mas na reta final viram seus arquirrivais se aproximarem. Como resultado, o torneio terminou com os dois times empatados em 46 pontos, e não houve um campeão. Desse modo, o título deveria ser decidido só no ano seguinte, em jogo único no Estádio Centenário de Montevidéu. Nesse ínterim, Domingos da Guia retornou ao Brasil para defender as cores do Vasco da Gama.

No dia 27 de maio de 1934, data estipulada pela Associação Uruguaia de Futebol (AUF), Nacional e Peñarol entraram em campo. Truncado, o duelo permaneceu sem gols até a marca dos 21 minutos do 2º tempo. Em uma descida dos aurinegros para o ataque, o brasileiro João de Almeida, mais conhecido como Bahia, fez boa jogada individual e chutou para fora. A pelota, que iria morrer em tiro de meta, rebateu no kit de primeiros socorros de Juan Kirschberg, cinesiologista do Nacional, posicionado encima da linha de fundo, ao lado da trave. Braulio Castro aproveitou o rebote da maleta de Kirschberg e empurrou para as redes. Revoltados, os jogadores Bolso foram reclamar com o árbitro Telésforo Rodríguez. As reclamações não só resultaram nas expulsões de José Nassazi e Juan Labraga, como também no adiamento da partida. O restante dessa final, a gente conta no próximo páragrafo.

O JOGO DOS 9 CONTRA 11

Posteriormente, a AUF decidiu em realizar o complemento da final no dia 25 de agosto de 1934, e com o Estádio Centenário de portões fechados. Entretanto, vale ressaltar que Nassazi e Labraga, expulsos em meio a confusão do “gol de valija”, não puderam atuar forçando os Albos a entrarem em campo com nove atletas. Mesmo com dois jogadores a menos, o Nacional conseguiu segurar o 0 x 0. Na prorrogação o placar foi preservado e houve a necessidade da segunda partida, já que não existia decisão por pênaltis. De maneira idêntica, o jogo dois terminou sem gols. No terceiro duelo da final as coisas foram bem diferentes, o Nacional venceu por 3 x 2 e conquistou o Campeonato Uruguaio. Dessa maneira, o primeiro dos três combates ficou eternizado como “o jogo de 9 contra 11”.

Nacional x Peñarol
Os nove jogadores do Nacional posam para a foto antes do jogo contra o Peñarol

O DUELO SEM GOLEIRO

No dia 27 de outubro de 1991, em duelo válido pela extinta Copa Uruguaia, Nacional e Peñarol entraram em campo para fazer mais uma edição do Superclásico. Por certo, o duelo seguia conforme o protocolo: jogo pegado, com alta intensidade e recheado de patadas. Como resultado de todo esse equilíbrio, o 1º tempo terminou empatado sem gols. Surpreendentemente, logo no começo da etapa final, os aurinegros finalmente abriram a contagem, graças ao gol de Sergio Martínez. Até aí tudo estava acontecendo a favor do Peñarol.

Contudo, faltando 11 minutos para o fim do tempo regulamentar, Dely Valdez invadiu a área e ficou sozinho com o arquero Fernando Álvez. Como única opção, o camisa 1 foi obrigado a cometer pênalti encima de Valdez. O árbitro entendeu que a falta era para cartão vermelho. Todavia, a equipe do goleiro expulso já tinha executado as três substituições. Desse modo, algum jogador de linha deveria vestir as luvas e defender a meta. Prontamente, Jorge Gonçalves assumiu a responsabilidade. Anos depois, o zagueiro explicou o motivo de atuar improvisado como guarda-redes.

“Eu vinha de uma gripe e, além disso, a grama estava muito alta. Por isso me senti muito cansado e achei melhor ir para o gol.”

Gonçalves fez uma atuação perfeita e terminou o duelo como héroi. Afinal ele conseguiu preservar a vantagem de 1 x 0 no placar, sacramentando o triunfo do Peñarol encima de seus maiores rivais. No Uruguai o episódio ficou amplamente conhecido como “el clásico sin golero”.

https://www.youtube.com/watch?v=brTQcQUPLKA&feature=emb_title

Foto destaque: Reprodução/Internet

Luciano Massi

Luciano Massi

Me chamo Luciano Massi, tenho 20 anos, sou paulistano. Estou no 6º semestre do curso de Jornalismo na Universidade Anhembi Morumbi. Desde criança fanático pelo futebol dentro e fora das quatro linhas, histórias que vão além do esporte. Produzo o Derbicast, podcast voltado ao futebol alternativo, dando enfâse aos esquecidos. Entretanto, nunca me dei bem com a bola...