Futebol Uruguaio: o ciclo de enfraquecimento

O texto de hoje possui um caráter mais reflexivo. Contudo, nem por isso deixa de ser informativo. Pretendemos falar sobre o ciclo de enfraquecimento que o futebol uruguaio experimenta desde o final da década de 1980. Nacional e Peñarol são dois clubes de envergadura mundial. A princípio, ambos conquistaram três vezes o título do Mundial de Clubes no seu antigo formato: a Copa Intercontinental. Entretanto, desde o triunfo do Nacional em 1988 os rivais uruguaios sequer venceram uma edição da Libertadores. Consequentemente, eles não se classificaram mais para o Mundial. Afinal, o que aconteceu com o futebol uruguaio?

O estereótipo do futebol uruguaio

Antes de mais nada, quero caracterizar o imaginário no tocante ao futebol uruguaio. Certos adjetivos surgem quando um clube brasileiro está prestes a enfrentar equipes de lá: copeiro, pedreira, agressivo, tradicional… Pode até ser que isso seja verdade. Porém, até que ponto? Aliás, eu vou um pouco além. No que o estereótipo charrua nos ajuda a entender melhor a crise que acomete o futebol uruguaio? A resposta é muito simples: em nada. Pelo contrário, isso só atrapalha ainda mais a reflexão histórica. Por fim, esses conceitos que constroem a mística uruguaia se aplicam no presente? Ou é algo que ficou defasado? Qual a natureza do problema? E quais as soluções mais adequadas?

A construção da tradição uruguaia

Em suma, é fundamental pontuar que o vetor da tradição nunca deixará Nacional e Peñarol. Independente dos seus insucessos na cancha. O Nacional foi campeão mundial em 1971, 1980 e 1988. Derrotou respectivamente os gregos do Panathinaikos, os ingleses do Nottingham Forest e os holandeses do PSV Eindhoven. Em linhas gerais, é um time que não dá viagem perdida quando vence a Libertadores. Já o Peñarol saiu vitorioso em 1961, 1966 e 1982. Assim, também superou outros três europeus: o português Benfica, o espanhol Real Madrid e o inglês Aston Villa. Pentacampeão da América, perdeu em 1960 e 1987 para Real Madrid e Porto.

O futebol uruguaio na Libertadores

Juntos, Nacional e Peñarol somam oito troféus da Copa Libertadores. Evidentemente, as conquistas se deram nos anos supracitados no parágrafo anterior. Ambos são conhecidos pela prática do futebol força. É uma escola mais defensiva. Privilegia um estilo de jogo baseado na entrega absoluta dos atletas. Além disso, o poder de marcação alta também se destaca na vertente cisplatina. Enfim, creio que o futebol uruguaio foi ficando para trás à medida que o esporte bretão aboliu as fronteiras rumo à globalização. O Uruguai tornou-se um centro de exportação de jogadores e viu seus talentos preciosos se esvaírem pelos dedos. A América como um todo sofre desse mal.

A crise e o investimento deficitário

Em síntese, o fator financeiro exerce uma pressão considerável sobre o futebol uruguaio. Desse modo, se Nacional e Peñarol quiserem competir em alto nível, é preciso que haja uma reforma estrutural na base das suas receitas. Falo de programas de captação de sócios-torcedores. Melhorias em infraestrutura para desenvolvimento das categorias de base. Formação de um departamento de marketing capaz de vender esse produto no exterior. Afinal, o mercado dos brasileiros e argentinos prevalece quando o assunto é Libertadores. Enfim, é perfeitamente possível encerrar esse declínio flagrante. É fácil? Eu nunca disse isso. Todavia, é crucial tentar. Questão de vida ou morte.

Foto destaque: Divulgação – Archivo El País Uruguay

André Filipe

André Filipe

Apaixonado pela dimensão histórica do futebol e pela ciência da bola. Gremista desde a Batalha dos Aflitos para o que der e vier. Sinto na escrita o calor latente das minhas paixões profissionais. Historiador, jornalista esportivo e jogador de pôquer nas horas vagas.