Jogar bem, muitos fazem. Ser campeão por onde passa, alguns conseguem. Se tornar ídolo de grandes clubes, poucos realizam. Mas, de fato, imortalizar uma camisa, ser sinônimo de genialidade e o parâmetro eterno para tudo que lhe suceda, apenas Pelé. Assim, na semana em que se comemora os 80 anos do rei, a coluna volta no tempo para recomendar o documentário Pelé: A Origem, disponível no Amazon Prime Vídeo.
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ATENÇÃO: O TEXTO A SEGUIR PODE CONTER SPOILER. CASO NÃO QUEIRA PERDER SUA EXPERIÊNCIA, ASSISTA O FILME E VOLTE DEPOIS PARA LER.
PELÉ E DONDINHO
Logo, lançada em 2019, a obra parte da lâmpada idealizada por Thomas Edison para dar luz e brilho a uma história até pouco conhecida. Isso porque, neste filme, não veremos a jornada de gols, títulos e glórias esportivas de Pelé. Mas, sim, a trajetória de um menino chamado Edson, de uma pequena cidade brasileira. Logo, no caminho, o garoto supera todos os limites impostos pelo racismo para se tornar o primeiro negro, de fato, ídolo mundial e amado por toda a humanidade.
Assim, muito devido a curta duração de apenas 44 minutos, Pelé: A Origem não detalha a caminhada do menino que se tornaria rei do futebol. Logo, se limita a dar pinceladas de sua infância. Embora algo que tire o brilhantismo da experiência, certamente, foi pensado e planejado pelo diretor Luiz Felipe Moura. No entanto, ainda está lá exemplificações do racismo enfrentado, da resistência da mãe ao querer ver um filho “doutor” e o sonho do pai, João Ramos do Nascimento, o Dondinho.
Inclusive, Dondinho é o mote central do documentário dramático. Pois, misturando imagens reais com recriações, o filme apresenta um pouco mais da relação entre Edson e seu pai, igualmente, jogador de futebol, e dos melhores, em Bauru. Logo, é a partir dele que surge no menino Edson o sonho de ser jogador de futebol, ainda nos campos batidos de terra. Embora, principalmente, em uma época em que o futebol era elitista e onde o negro ficava a margem de qualquer chance de sucesso.
A LUTA PARA ROMPER COM O FUTEBOL ELITISTA
Dai o medo da mãe do garoto que não queria ver o filho passar pelas dificuldades e barreiras que Dondinho teve que enfrentar para ser reconhecido, ainda que localmente. Além disso, insistente como todo brasileiro, Edson encara o racismo mascarado de bullying para manter o sonho de ser jogador de futebol. Ainda assim, com a participação negra na jornada bem sucedida da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1938, então melhor campanha, os negros ganharam mais espaços nos campos.
Todavia, e é onde Pelé: A Origem vai beber, o Maracanazo na Copa do Mundo de 1950 fez recair, preconceituosamente, a culpa em quem com sua habilidade peculiar queria apenas oportunidades. Assim, talvez no melhor momento da fita, o diálogo entre Dondinho e Edson sobre o futuro dos negros no esporte comove, reflete e serve de mola de impulsão para o garoto decidir realizar o sonho do pai. Logo, na famosa história de que Pelé prometeu ao pai que ganharia uma copa do mundo para dar-lhe de presente. No fim, o que aconteceu oito anos depois, todos sabem.
PERSONAGEM GENIAL, OBRA NEM TANTO
Embora com uma abordagem diferente dos produtos já produzidos sobre Pelé, a obra não fica imune a erros de roteiro e de construção da proposta. Pois, se sua abordagem simplista e pouco detalhada foi uma escolha do diretor, a encenação de partes da infância de Edson ganha ares de forçação. Isso porque, as expressões dos atores aparentam artificialidade, sem o que não se torna crível acreditar no que é recriado. Algo que em algum aspecto deve ser relevado devido ao filme ser uma produção independente.
No entanto, Pelé: A Origem peca na sua construção narrativa e no ritmo de execução. Pois, ao preferir enxugar a história e se limitar a breves exemplos da infância, acaba desperdiçando uma boa oportunidade de a conhecermos mais à fundo. Além disso, por mesclar a recriação com imagens reais, acaba perdendo ritmo e, em certos momentos, se tornando massante, apesar da curta duração. Por fim, ainda fica a sensação de quando a obra engrena, ela chega ao seu fim.
Talvez por isso, os pontos fortes da fita sejam os depoimentos de Pelé contando um pouco mais sobre o que é visto em tela. Assim, apesar do tom pouco credível da encenação, o fato do próprio personagem do filme está presente nele nos dá a credibilidade necessária para comprar a ideia da produção. No fim, Pelé: A Origem funciona como um bom ponto de partida para vermos não apenas o rei do futebol, mas, sim, conhecermos o menino Edson e sua batalha para entrar no esporte.
Foto Destaque: Divulgação / Amazon Prime Vídeo