Como o Corinthians se tornou uma potência do futebol feminino?

Podemos dizer com certeza de que 2019 foi o ano que alavancou o futebol feminino no Brasil. Nunca antes na história assistimos tanto, torcemos tanto e falamos tanto sobre as mulheres dentro de capo. A última edição da Copa do Mundo de futebol feminino realizada na França, não passou despercebida aos olhos. O evento atraiu uma audiência de 1,12 bilhão de acordo com relatório da FIFA.

Mas, as conquistas no futebol jogado por mulheres não têm relação apenas com os ícones Marta e com a popularização da Copa do Mundo de futebol feminino. Esse cenário de maior destaque também foi sendo conquistados com outros times no Brasil, que em sua maioria originaram de clubes masculinos. O dessa semana falará um pouco da trajetória time e como o futebol dessas meninas tem ajudado na impulsionar o futebol feminino no Brasil.

Início da trajetória

O Sport Club Corinthians masculino foi fundado em 1910. A trajetória do time é repleta de glórias, com 54 títulos oficiais conquistados pelo elenco. Entre tantos títulos, a maior conquista talvez tenha sido proporcionar espaço para a representatividade feminina em campo. Mas, esse espaço só começou a ser ocupado pelas mulheres mais tarde, pois mesmo tendo uma longa história, só em 2016 o clube alvinegro passou a ter um time feminino que o representasse.

Como o Corinthians se tornou uma potência do futebol feminino?

Foto: Leonardo Sguac/Photopress/Gazeta Press

O time da mulherada foi longe e soma 34 vitórias seguidas, marco antes nunca na história do futebol profissional alcançada. A equipe está em análise para entrar no Guinness Book pelo com desempenho em campo e vitórias consecutivas. Foram 38 confrontos na temporada, sendo 36 vitórias, um empate e apenas uma derrota. Mas, para entendermos melhor o segredo para tamanha soberania e independência em relação à imagem do masculino, precisamos voltar um pouco no tempo.

A jogadoras vem se destacando no time e dentro do futebol feminino cada dia mais

Foto: Bruno Teixeira/Corinthians

O Corinthians feminino surgiu através de uma união entre próprio símbolo ao Grêmio Osasco Audax. Durante o período em que duas temporadas foram jogadas pelos dois times, o que deu certo, pois elas conquistaram a Copa do Brasil em 2016 e em 2017 a Copa Libertadores da Américas. Contudo, a parceria entre paulistanos e osasquences chegou ao fim com a glória sul-americana. O Corinthians foi pressionado pela CONMEBOL a criar um departamento feminino, a partir de então, com dois anos de experiência, o time assumiu a gestão própria.

Um pouco da organização

Segundo a diretora do futebol feminino, Cris Gambaré, a separação veio no momento certo.

“Fizemos a lição de casa com os parceiros e trouxemos muitas coisas para cá. A gestão não veio pela obrigação em si, achamos que era a oportunidade com o crescimento do feminino. Quisemos toda a gestão própria, mas com a cara e formato de Corinthians”.

Sob o comando do técnico Arthur Elias, as meninas alvinegras conquistaram o Campeonato Brasileiro em 2018. Além disso, o clube realizou peneiras com a presença da Madrinha do futebol feminino do Corinthians, a ex-jogadora Milene Domingues, e criou o time feminino da categoria sub-17. O treinamento é feito com a ex-jogadores Daniela Alves, que participou de três olimpíadas e dois mundiais pela seleção brasileira.

O atual elenco treina no Parque São Jorge, conta com 24 atletas e é comandado pelo treinador Arthur Elias.

Foto: Reprodução/Site/Meu timão

Embora a criação da subcategoria tenha sido positiva, o time ainda conta com dificuldades no trabalho de base, pois não possui o sub-11. A ausência das categorias de base nos clubes pode refletir negativamente no futuro profissional, pois falta etapas de desenvolvimento técnico das jovens atletas.

Mesmo com a falta de parte do trabalho de base, algumas meninas do alvinegro já frequentam a Seleção Brasileira feminina.  Participaram da Copa Mundial de futebol feminino de 2019 nomes como a goleira Leticia Izidoro e zagueiras Érika Cristiano e Mônica Hickmann foram representar o país na seleção. Ainda segundo a diretora do clube feminino o time está construindo uma história que servirá de exemplo dentro e fora de campo.

“O Corinthians, com este trabalho, está mudando a visão. Como, a partir de então, vai vir o São Paulo, o Palmeiras. Agora vai mudar”, aposta Cris, já enxergando um possível legado do departamento que classifica como “um bando de loucos”.

Ações de incentivo no Corinthians

Como o ‘rosto do futebol feminino’ na política corintiana, a diretora Cris quis trazer independência. O trabalho para popularizar o futebol feminino e levar ao público o perfil próprio do time das mulheres é feito através de seriedade em campo, estrutura oferecida às jogadoras, intensa busca de patrocínios e campanhas de marketing direcionadas ao público feminino. Em decorrência desse empenho, O Corinthians, foi o primeiro grande clube brasileiro a criar um espaço em seu memorial no Parque São Jorge, para a categoria em 2017.

 

A diretora trabalha com toda equipe para mais patrocínios e apoios para a equipe feminina

Foto: Bruno Teixeira/Corinthians

A campanha #Caleopreconceito, lançada pelo time em abril de 2018 adotou uma estratégia diferente. Para atrair patrocinadores e quebrar barreiras, o clube estampou frases machistas nas camisas. As frases foram retiradas de comentários feitos nas redes sociais do Corinthians. Dentre elas foram usadas: “Mulher é na cozinha e não jogando futebol” e “Futebol feminino só vai ser bom quando acabar”.

Outra campanha promovida foi a #UmSóCorinthians, afim de demonstrar a importância do futebol feminino para a fiel. A iniciativa, em parceria com a Nike, foi possível, pois o clube mudou a partida do Campeonato Brasileiro que ocorreria no Parque São Jorge para o Pacaembu, para atrair mais torcida.

E por falar em Parque São Jorge

A Arena Corinthians em Itaquera foi palco do desenvolvimento do time masculino, mas é no Parque São Jorge, no Tatuapé que o feminino vem construindo sua bela história. Com capacidade para 5 mil pessoas, a famosa ‘Fazendinha’ fez com que as atletas tivessem um estádio para chamar de lar.

“Aqui já virou a casa do futebol feminino. A gente acha legal mandar jogos na Arena, já mandamos uma vez, mas aqui [Parque São Jorge] é a nossa casa. Não queremos levar jogos do nada para Itaquera. Se for para isso acontecer no futuro, tem que ter treinos, planejamento. O Parque São Jorge já é nossa casa do coração”, contou a atacante Cacau.

Reconhecimento da equipe feminina do Corinthians

O resultado alcançado pelo time feminino foi resultado, também, do empenho do Técnico Arthur Elias. Escolhido para ser o treinador do clube desde a parceria com o Audax, o técnico é apontado como um dos principais nomes no futebol brasileiro. Ele chegou até a ser cogitado para comandar a seleção brasileira quando Vadão foi demitido, mas a sueca Pia Sundhage ficou com a vaga.

Algumas das meninas alvinegras chegaram até a jogas pela seleção Brasileira

Foto: Bruno Teixeira/Corinthians

O técnico tem 100% de sua experiência voltada para o futebol feminino, ele está na modalidade desde que tinha 24 anos. “O meu papel é liderar um processo construído junto com a comissão e as jogadoras. Minha função é colocar tudo em ordem nos momentos certos. Obviamente, minha experiência dentro da modalidade ajuda”, explicou Arthur. A carreira trouxe bons frutos. Ele conquistou o Brasileirão com Centro Olímpico e Corinthians e a Copa do Brasil e a Libertadores com a equipe corintiana.

A titular na Copa do Mundo, Tamires veio como um reforço para o Corinthians. A lateral esquerda acertou sua ida para o clube.

“O que me fez fechar com o Corinthians foi ver esse trabalho sério que eles estão fazendo. Essa foi a melhor estrutura que eu encontrei. Antes de jogar por quatro anos na Europa, atuei aqui no Brasil e não via nenhum clube com a organização que o Corinthians tem hoje”, comentou a jogadora Tamires.

O trabalho feito pelas esquipes dentro e fora de campo tem trazido bons frutos e contribui cada vez mais para o reconhecimento e expansão do futebol feminino, no Brasil e no mundo.

Coronavírus: Momento delicado para as alvinegras

Em decorrência da pandemia do novo coronavírus, a COVID-19, as atividades de diversos clubes de futebol estão suspensas. Muitos campeonatos já foram cancelados e outros ainda não tem data para retorno. Pode-se perceber esse cenário não apenas no futebol, mas também em diversos outros esportes e atividades. No caso do futebol feminino do Corinthians, as atividades e confrontos também foram suspensos. Além disso, as portas do Parque São Jorge estão fechadas. Mas, o clube ainda continua com um acompanhamento das atletas e reuniões para tomar decisões em tempos da pandemia.

Mesmo com as dificuldades na pandemia, o time e toda equipe técnica mantém alguns trabalhos

Foto: Instagram/Reprodução

Em comunicado oficial, o clube informou que não há nenhum caso de covid-19 registrado em sua sede, mas mesmo assim o período de suspensão das atividades pode ser ampliado por precaução. O clube quer evitar a transmissão e contágio do novo coronavírus, em suas dependências e, por isso, não estipulou prazo para a reabertura do local.

Foto destaque: Bruno Teixeira/Agência Corinthians

Nicoli Suman

Nicoli Suman

Nasci no interior de São Paulo, mas atualmente moro em Londrina - PR. Estou cursando o 3° ano de jornalismo na UEL (Universidade Estadual de Londrina). Dentro do curso tenho muita afinidade com radiojornalismo e telejornalismo. Faço estágio na Rádio UEL e na TV UEL concomitante. Na faculdade, confesso que não tenho nada de experiência em relação ao jornalismo esportivo, mas me identifico muito com a área e estou tentando me inteirar mais sobre o meio que pretendo seguir futuramente. Tenho mais facilidade com esportes mais alternativos como skate (pois prático há uns anos), surf, vôlei de praia, escalada etc. Gosto de futebol, mas não tenho muita experiência na área. Mesmo assim, estou aberta a conhecer e acompanhar mais o esporte para produzir material.