Atlético-MG: Ricardo Guimarães relembra parceria e rixa com Kalil: ‘nunca fomos amigos’

Atual membro da diretoria, presidente do Conselho e sócio da SAF do Atlético, Ricardo Guimarães comentou da (não) relação com Alexandre Kalil, ex-presidente do clube

Antes mecenas e hoje um dos proprietários da SAF do Atlético-MG, o banqueiro Ricardo Guimarães tem longa história no clube. Começou nos anos 90, foi presidente na metade dos anos 2000 e hoje está no colegiado que toma as decisões do Galo e também é presidente do Conselho. Nesse período, ele viveu forte relação com Alexandre Kalil, inicialmente de aliado e atualmente de rixa sem volta, como ele mesmo explicou em entrevista ao GE.

Ricardo Guimarães assumiu a presidência do Atlético em 2001, substituindo Paulo Brant, que tirou licença, completando o mandato do então presidente e sendo eleito para o triênio de 2004 a 2006. Nesse período, começou a relação dele com Alexandre Kalil.

– Chamei o Alexandre Kalil, que era o presidente do Conselho, para tomar conta do futebol. Não chegou a ter o cargo de diretor. Se manteve presidente do Conselho, e era chamado como “homem forte do futebol”. Na minha época, sim, o Kalil atuava diretamente no futebol, ele que tocava o dia a dia, contratava jogadores e técnicos. A gente debatia, mas ele estava à frente – disse o empresário.

Kalil ficou ao lado de Ricardo entre 2001 e 2003, quando decidiu sair do clube por não concordar que o Atlético se aliasse da CBF de Ricardo Teixeira, que protestava contra o Estatuto do Torcedor: “Se o Atlético fez parte disso, estou fora”, disse Kalil, à época. Apesar disso, os dois mantiveram uma certa relação, com Kalil seguindo presidente do Conselho do clube e dando alguns “pitacos” no futebol para Ricardo, como a contratação de Tite em 2005.

Kalil presidente do Atlético e parceria com Ricardo

Em 2008, Alexandre Kalil decidiu se candidatar para presidente do Atlético e, segundo Ricardo Guimarães, pediu ajuda a ele: “Ele não irá reconhecer, mas entrou em contato comigo para falar da candidatura, pediu apoio. Além disso, ele me disse que eu poderia indicar o vice-presidente”. O vice em questão foi Daniel Nepomuceno, que depois de Kalil foi também presidente do alvinegro.

– Isso. Ele (Kalil) só me pediu para ser um “atleticano jovem”. O Daniel é filho do Nepomuceno (José Nepomuceno, falecido desembargador). O Nepomuceno disputou duas eleições para presidente do Conselho do Atlético contra o Kalil, que ganhou as duas. Eu gostava muito do Dr. Nepomuceno. E o Daniel era um atleticano novo, se envolvia, gostava do Atlético. Eu, então, indiquei o Daniel. O Alexandre ganha a eleição. Eu nunca tinha patrocinado o Atlético, e ele me pede o patrocínio. E fomos parceiros, o BMG patrocinou o Galo com bons valores.

Além do patrocínio, Guimarães ajudava o Atlético com um fundo que comprava jogadores e passava eles ao clube. Na época, essa ação era permitida. Segundo o empresário, Eduardo Maluf, diretor de futebol do Galo na época, escolhia os nomes e Ricardo, através do Banco BMG, analisava e comprava. Nessa ação, o alvinegro recebeu jogadores como Réver, Guilherme, Luan e Diego Tardelli

– Ajudamos a montar o time de 2013 e 2014. Fora outras ajudas de pagamentos de salário, premiação. Na véspera do jogo contra o Olimpia (final da Libertadores de 13), nós nos encontramos para aumentar a premiação dos jogadores, em caso de título – disse Ricardo, que inclusive foi um dos primeiros a receber o agradecimento de Kalil após o Atlético ser campeão da Libertadores.

Relações cortadas de vez

Segundo Ricardo Guimarães, os problemas com Kalil se iniciaram quando o mandato dele venceu e as dívidas do Atlético com o empresário não foram pagas. Desde então, a relação, que nunca foi de amizade entre eles, começou a ficar cada vez mais distante.

– Acontece o seguinte: eu e o Kalil nos aproximamos no Atlético, e em prol do Atlético. Nunca fomos amigos, nunca frequentei a casa dele, e vice-versa. Nunca tivemos relação de amizade, mesmo nos melhores momentos dentro do Atlético. 

A relação se estremeceu de vez quando Kalil, então prefeito de Belo Horizonte, e Ricardo, membro do conselho gestor do Atlético, se desentenderam por várias ações dos dois lados, tanto na prefeitura quanto dentro do próprio Galo. Hoje, a relação dos dois é irreversível, segundo o próprio empresário citou

– Totalmente (irreversível). Não há desejo de aproximação. Eu tinha uma imagem dele diferente. Se eu voltasse no tempo, não teria chamado ele para vir trabalhar comigo em 2001. Depois de ter ocupado cargos importantes no Atlético e na Prefeitura, acho que ele achou que virou Deus.

Alexandre Kalil, que recebeu inúmeras honrarias do Atlético após deixar a presidência do clube, chegou a devolver tudo que recebeu neste ano, justamente por essa briga, que não é só com Ricardo, como também com Rubens Menin, outro empresário à frente do Galo hoje. O ex-prefeito de BH se sente sempre atacado pelos empresários e entende que eles tentam manchar a história dele no clube. 

O último capítulo dessa briga teve a Arena MRV incluída. Primeiro com os empresários entendendo que Kalil dificultou de propósito algumas ações na construção do estádio, o que, segundo uma CPI na Câmara de BH, não é verdade. Depois, o estádio receberia o nome do pai de Kalil, Elias, que foi presidente do Atlético na década de 80, mas os empresários não concordaram com isso e, antes de uma votação para decidir se o nome de Elias realmente seria o da casa atleticana, o próprio Alexandre pediu para que o nome do pai não fizesse parte dessa história. Até hoje a Arena MRV não tem “nome próprio” definido.

Alecsander Heinrick

Alecsander Heinrick

Alecsander Heinrick se formou em Jornalismo na PUC Minas em 2021. Antes de Trivela e Futebol na Veia, passou por Esporte News Mundo, EstrelaBet e Hoje em Dia.