Nesta semana, a Coluna Nostalgia Brasileira conta a história da conquista do penta com Ronaldo Nazário. O craque passou por muita coisa no período entre as finais de 1998 e 2002. Entretanto, o artilheiro foi forte e superou todas as barreiras. Provavelmente, nunca se teve uma história de superação tão incrível com a do camisa 9. Ronaldinho é gigante. Portanto, o apelido de Fenômeno é muito bem dado.
A DECEPÇÃO DE 1998
Na Copa da França, estava tudo dando certo, mas a final se tornou um pesadelo. Na noite antes do duelo com a França, o Fenômeno sofreu um convulsão que durou de 30 a 40 segundos. O fato assustou toda delegação e isso abalou muito o plantel brasileiro. Após chegada ao hotel, o craque revelou que não se lembrava do ocorrido.
A hora do jogo estava chegando e o Mundo todo queria saber se Ronaldo viria a campo ou não. Na escalação oficial, Edmundo estava entre os titulares. Entretanto, o camisa 9 pediu para Zagallo deixá-lo jogar. O artilheiro mostrou os exames e falou que estava disponível para o duelo. Por outro lado, a Seleção Brasileira aparentava estar abalada e, talvez por isso, foi superada pelos Bleus.
"A tensão do jogo fez com que ele se sentisse mal. Acho que foi emocional. Ele tem apenas 21 anos, é o melhor jogador do mundo, sofre pressões e exigências. Uma hora isso ia acontecer. Infelizmente aconteceu na final da Copa".
– Roberto Carlos sobre Ronaldo em 1998. pic.twitter.com/V2ocN1tjqr
— FutebolNews (@ofutebolnews) April 16, 2020
O PÓS-COPA FOI AINDA MAIS DRAMÁTICO PARA RONALDO
Perder uma Copa do Mundo, e da maneira que foi, não é fácil, mas o drama estava longe de acabar. Em meados de 1999, o brasileiro sofreu uma torção no joelho, sendo uma lesão muito grave. O Fenômeno retornou aos gramados apenas no dia 12 de abril, porém com outra tragédia. Na final da Supercopa da Itália contra a Lazio, Ronaldo entrou e, depois de apenas sete minutos em campo, sofreu a pior lesão da carreira.
O camisa 9 rompeu o tendão e os ligamentos do joelho direito. Muitos duvidavam se o craque voltaria um dia a jogar novamente. Por outro lado, o jogador nunca perdeu as esperanças de que voltaria. Ao todo, foi um ano e três meses de batalha e, também, de muita dor.
Ronaldo Nazário, em entrevista ao SporTV, contou que ficou seis meses sem conseguir dobrar a perna direita em 90°. Com isso, o médico que operou o atleta o mandou para um tratamento intensivo em Biarritz, uma pequena cidade da França. O craque entrava em uma espécie de jaula e colocava uma tornozeleira com um cabo e, assim, o camisa 9 ia puxando o máximo que conseguia.
Portanto, Ronaldo ia se torturando para melhorar. Voltou a jogar apenas dois meses antes da Copa, totalizando apenas 16 jogos e sete gols na temporada de 2001/2002. Além disso, não jogou nem 10 jogos antes da Copa. Entretanto, Felipão deu seu voto de confiança ao matador.
Há exatos 20 anos, no dia 12 de abril de 2000, Ronaldo sofria a lesão que quase encerrou sua carreira. Na final da Supercopa da Itália entre Inter de Milão e Roma, o fenômeno rompeu o tendão patelar do joelho. Foi operado e voltou a jogar apenas em novembro de 2001. pic.twitter.com/ow3pVULc4V
— FutebolNews (@ofutebolnews) April 12, 2020
O MUNDO DUVIDAVA DE RONALDO FENÔMENO
A mídia contestou muito a decisão de Luiz Felipe Scolari, já que Ronaldo estava voltando de lesão e muitos achavam que não iria render mais. Porém, quando se trata do Fenômeno, é necessário entender que, a qualquer momento, ele pode virar o jogo. Nada melhor descreve a volta do artilheiro quanto a fala do escritor Luis Fernando Verissimo, que disse:
“Ronaldo imita a trajetória clássica do herói mitológico que desce ao inferno e volta para refazer a história. É o primeiro mortal real a retornar no tempo para corrigir a própria biografia”.
A MELHOR COPA DE RONALDO COMEÇOU
O Brasil era considerado o favorito de seu grupo, mas, em Copa do Mundo, nunca se tem vida fácil. Os adversários da Seleção eram Turquia, China e Costa Rica. Portanto, a mídia mundial exigia que o plantel de Felipão fosse soberano.
BRASIL X TURQUIA
Toda estreia de Copa é tensa, já que os jogadores têm que controlar o nervosismo e a ansiedade. Entretanto, para os brasileiros, o primeiro jogo seria ainda mais difícil. O motivo disso, então, foram todas as polêmicas pré-Copa. O fato de ter ido mal nas eliminatórias, não levar o Romário e perde seu capitão Emerson às vésperas da competição aumentava a pressão sobre Ronaldo e companhia.
A bola rolou. e o Brasil começou em cima dos turcos. O trio dos Rs (Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho) buscava a bola a todo momento. O camisa 9 até fez boas jogadas, mas a bola na entrou na 1ª etapa. Além disso, a Turquia abriu o placar ainda no 1º tempo, com Hasan Sas. Como resultado, a pressão aumentou ainda mais sobre a Seleção Canarinho.
O intervalo fez bem para a família Scolari. Logo no início da etapa complementar, Ronaldo recebeu belo passe de Rivaldo e se esticou para marcar. O gol foi muito importante para o Fenômeno. Serviu para tirar o peso de suas costas. Há duas coisas que podem mudar o rumo de sua vida: o amor e um gol em Copa do Mundo. Assim, consequentemente, o tento fez bem para o Brasil e para o craque da camisa 9. Aos 28′, o atacante foi substituído por Luizão. O artilheiro fez boa partida. No final do jogo, a Seleção Brasileira ainda virou com o camisa 10, de pênalti.
No primeiro jogo da Copa de 2002, Ronaldo "Fenômeno" abriu o placar para a Seleção e iniciou a caminhada pro PENTA! pic.twitter.com/ok16yUKP2a
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BRASIL X CHINA
O frio na barriga da estreia havia passado. Além disso, ganhar de virada sempre aumenta a confiança do time. Como resultado, era esperado que a Seleção jogasse de maneira mais leve e solta, e isso realmente aconteceu.
A família Scolari dominou a China do começo ao fim. Na 1ª etapa, abriu 3 x 0, com gols de Roberto Carlos, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho. O trio dos Rs e os alas estavam fazendo uma partida excelente. Porém, faltava o Fenômeno marcar. Por fim, isso não demorou muito. Aos 10′ do 2º tempo, o camisa 9 completou o cruzamento de Cafu e fez o quarto gol. O Brasil conquistava, assim, um vitória convincente no torneio.
BRASIL X COSTA RICA
Já classificado, o time entrou bem tranquilo para enfrentar a Costa Rica. Em menos de 15 minutos de jogo, Ronaldo já havia marcado dois gols. O craque totalizou quatro tentos em três jogos na 1ª fase. A Seleção Canarinho venceu por 5 x 2 e se classificou para o mata-mata com 100% de aproveitamento.
BRASIL X BÉLGICA
Os brasileiros fizeram grandes partidas na fase de grupos, entretanto isso não importava mais. O motivo disso é que, no mata-mata, não interessa o que ocorreu no passado, mas, sim, o que aconteceria a partir dali. Portanto, se o Brasil perdesse para a Bélgica, todo o bom futebol desenvolvido na 1ª fase iria para o espaço.
O jogo foi muito difícil. O 1º tempo foi dominado pelo Brasil, mas a bola não entrou. Ronaldo estava buscando jogo e criando oportunidades, entretanto o zero não saiu do placar. A etapa final começou e, por muito tempo, os europeus foram melhores. Por outro lado, o plantel verde-amarelo tinha o talento que poderia decidir.
Após belo passe de Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo abriu o placar com um belo chute. A partida ficou tensa e as duas equipes estavam criando chances. Até que, aos 41′, Kleberson serviu o Fenômeno, que matou o jogo. Em um embate difícil, o talento fez toda diferença para que o esquadrão de Felipão se classificasse.
BRASIL X INGLATERRA
Para muitos, foi o duelo mais difícil da Copa. O Brasil iria encarar a melhor geração inglesa desde 1966. A Inglaterra saiu na frente com gol de Michael Owen, após falha de Lúcio. A família Scolari tentava, mas parecia que não estava se encontrando. Até que, no apagar das luzes do 1° tempo, Ronaldinho faz grande jogada e serviu Rivaldo, que empatou o jogo.
No início do tempo final, o camisa 11 fez um golaço de falta. O gol foi muito importante para os brasileiros. O confronto terminou em 2 x 1 para a Seleção Canarinho, mas surgiram duas dores de cabeça. A primeira foi que Ronaldinho foi expulso e a outra, que Ronaldo foi substituído aos 26′ sentindo dores na coxa. O centroavante não apareceu tanto na partida como nas outras, porém perdê-lo para o próximo duelo seria uma grande baixa.
O CORTE CASCÃO DE RONALDO
Na mídia, só se falava da lesão de Ronaldo. Portanto, o craque resolveu inovar no cabelo para tirar o foco de sua lesão. Então, surgiu a ideia do corte cascão, que fez muito sucesso na época entre a criançada. O fenômeno foi um gênio também na jogada extra-campo.
Em um bate-papo no programa Resenha, da ESPN, o artilheiro revelou que a história era verdade, e que não tinha condições de enfrentar a Turquia. O jogador chegou a falar com Felipão que não aguentaria jogar. Entretanto, o técnico pediu para o craque jogar, e o resto é história.
https://twitter.com/ESPNBrasil/status/1277990158290292736?s=20
BRASIL X TURQUIA
Era esperado um jogo muito difícil, já que os turcos já haviam dado muito trabalho ao Brasil na fase de grupos. Além disso, Luis Felipe Scolari tinha a ausência de Ronaldinho Gaúcho, que estava suspenso. Portanto, o jogo seria o famoso teste para cardíaco.
O 1° tempo foi muito difícil. A Seleção Canarinho tentava criar chances, mas o sistema defensivo da Turquia estava fazendo uma boa partida. A melhor chance foi com Ronaldo, que não aproveitou o rebote do chute de Rivaldo. As poucas chances criadas foram interrompidas por Rüştü Reçber. Entretanto, isso estava preste a mudar.
Logo aos 4′ da etapa final, o camisa 9 enfrentou os defensores adversários e finalizou de bico para fazer 1 x 0. O diferencial do Ronaldinho Fenômeno para os demais jogadores era que o craque aparecia no momento certo. Além disso, o centroavante foi o artilheiro dos gols decisivos. O plantel de Felipão segurou o placar e, assim, classificou-se para a grande final.
RONALDO ESTAVA PRESTE A SUPERAR O TRAUMA DE 98
A frustração do Mundial anterior ainda estava entalado na garganta. Uma noite antes da final contra a Alemanha, a estrela teve dificuldades de dormir, porque estava com medo de sofrer o mesmo problema de 1998. Luis Felipe Scolari pedia bastante que os jogadores brigasse pela bola após perder o domínio, e isso servia também para o Fenômeno.
Além disso, o técnico não deixava Ronaldo brigar por rebote, para não correr o risco de se lesionar. Uma coisa que o camisa 9 provou naquela Copa do Mundo é que o grande jogador deve se adaptar ao que é imposto pelo treinador, mas nunca deve perder os seus instintos. O craque tinha faro de gol e isso ficou nítido na final do torneio.
BRASIL X ALEMANHA
Chegou o tão sonhado momento. Era a terceira final consecutiva da Seleção Brasileira. O mundo inteiro parou para ver o duelo entre Ronaldo e Oliver Kahn. Desde o início do jogo, o time brasileiro estava muito bem e, logo, foi superior ao adversário no 1° tempo. O Brasil teve chances, mas o goleiro alemão e a trave impediram que a Amarelinha fosse para vestiário em vantagem.
Os últimos 45 minutos começaram. Era a hora da verdade. O confronto estava muito disputa até que o cara do jogo apareceu. Após perder a bola, Ronaldo brigou e conseguiu recuperá-la. Em seguida, tocou para Rivaldo, que experimentou de longe, Kahn falhou e o Fenômeno aproveitou o rebote para abrir o placar. Ou seja, o camisa 9 fez como Felipão pediu: brigou pela posse e não deixou seu instinto de centroavante, correndo para o rebote.
Aos 33′, veio a consagração de um sonho. Kleberson fez jogada pela direita e rolou para o meio, Rivaldo fez um corta-luz e Ronaldo chapou no canto para ampliar. O Brasil entrava em festa na madrugado do dia 30 de junho. O Fenômeno decidia mais uma final, e a família Scolari se tornou pentacampeã. Como resultado, o mundo ficou verde-amarelo.
https://twitter.com/ofutebolnews/status/1249440917695664128?s=20
RONALDO FENÔMENO DEIXOU SEU LEGADO
O camisa 9 passou por muitas dificuldades no período de pré-Copa e até mesmo durante a competição, mas nunca desistiu. Em entrevista à ESPN, o craque revelou que a conquista lhe mostrou o quanto é forte. O atacante teve que tirar forças de onde não tinha para chegar à Copa do Mundo. O Fenômeno encerrou o torneio com oito gols em sete jogos. Dessa forma, escreveu seu nome na história da Seleção Brasileira.
Depois da grande conquista, Ronaldo se tornou um Galáctico e foi considerado o Melhor do Mundo do ano de 2002. Independente de quanto tempo se passe, nunca será esquecido o quanto o centroavante foi importante para o penta e para o futebol brasileiro.
Ronaldo só precisou de 6 meses para ganhar tudo isso em 2002. Fenômeno! pic.twitter.com/UKAE69UsZj
— Viciados por Futebol (@ViciadopFutebol) August 21, 2020
Foto Destaque: Reprodução/Ivo Gonzalez/O Globo