Sisleide do Amor Lima, mais conhecida como Sissi, é uma grande futebolista brasileira. Nascida em 02 de junho de 1967, a craque completa nesta terça-feira (2) mais um ano de vida. Nesse sentido, a futebol feminino brasileiro.
Natural de Esplanada, no litoral Norte da Bahia. Começou jogando futebol na rua, no meio dos garotos, onde desenvolveu sua técnica. Com apenas 16 anos, a meio-campista deixou sua casa para ir morar em um alojamento, onde começaria a treinar e profissionalizar-se. Dessa forma, apareceu pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, levando uma equipe de bons valores mas ainda desconhecida para a semifinal, ficando com a quarta colocação.
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O AMOR PELO FUTEBOL
Conforme descrito no próprio sobrenome, a jogadora carrega amor. Amor por seus ideais, pelo futebol e pela vontade de lutar em prol da igualdade social, assim como lutou desde que descobriu sua vocação. Logo aos seis anos, a menina já brincava de chutar qualquer objeto esférico na sua frente. Essa paixão pela bola nasceu no quintal de casa, vendo seu pai e irmão jogando. Do mesmo modo, escolhia suas bonecas de acordo com o formato e tamanho de suas cabeças, afinal, era com elas que praticava seu esporte preferido.
“Para jogar eu usei as cabeças das minhas bonecas, tampinhas de garrafa, bolas de meias, papel higiênico etc… Acho que já estava no sangue”, afirmou certa vez em uma entrevista.
Aos 14 anos, já jogava por times menores, como Campo Formoso e Senhor do Bonfim. Com 16 anos saiu de casa para jogar pelo Flamengo de Feira de Santana e morou em um alojamento com outras dez garotas que viviam o mesmo sonho. Sob a orientação de seu primeiro treinador, Sissi estudava pela manhã, treinava à tarde e participava frequentemente de torneios. Aos 18 anos, chegou na capital, para defender o Bahia. No Tricolor de Aço ela jogou futebol de salão e de campo. Já nos anos 1990, foi atuar em São Paulo, onde defendeu o Corinthians no futsal e nos gramados.
O DECOLAR DE SISSI
A partir de 1997, aos 30 anos, Sissi passou a viver o auge da carreira. Bem como, jogando no São Paulo, deu um show e liderou a equipe na conquista do 1º Campeonato Paulista, chamado popularmente de “Paulistana”. Além do destaque natural, os torcedores tricolores gritavam nas arquibancadas: “Sissi melhor do que Valdir”, comparando-a com o atacante Valdir Bigode, que atuava no SPFC na época. Outro canto ouvido na torcida era: “Muricy, coloca a Sissi”, pedindo ao técnico Muricy Ramalho para escalá-la em seu time. No tempo em que a jogadora esteve no São Paulo, o clube conquistou todos os títulos possíveis nos torneios femininos.
“Não sei se encontrarei palavras para descrever o que senti, foi arrepiante e um momento que nunca irei esquecer. O São Paulo sempre terá um lugar especial no meu coração”, diz a craque.
Entretanto, Sissi defendeu, entre outros clubes, o Radar, Euroexport, Saad, São Paulo, Palmeiras, Vasco da Gama, San Jose CyberRays, California Storm, FC Gold Pride. Nesse meio tempo, se mudou para os Estados Unidos em 2001, onde é venerada pela torcida local. Jogou por três temporadas no San Jose CyberRays, na primeira liga profissional feminina (WUSA – Women’s United Soccer Association).
SISSI, A PRIMEIRA CRAQUE DA SELEÇÃO
Sissi foi o principal nome da geração pioneira que desbravou o futebol feminino no país, enfrentando muitas barreiras e preconceitos, mas abrindo as portas do esporte para as gerações seguintes. Ela era unanimidade e ocupará para sempre lugar de destaque no esporte nacional. Apesar de ser baixinha, medindo apenas 1,65m impressionava com lances de técnica e inteligência. Dotada de habilidade e grande visão de jogo, ela era uma meia clássica, que fazia jus à camisa 10 que ostentava nas suas costas. Era uma jogadora completa, fazendo o estilo do 2. Afinal, quem tem que correr é a bola.
Ao passo que com pouco mais de 20 anos, recebeu a primeira convocação para a seleção brasileira, estreando em 1988, em uma competição não oficial organizado pela FIFA, semelhante a um Mundial. Nesse torneio disputado na China, o Brasil ficou em 3º lugar. Mesmo com 24 anos, Sissi não foi nem cotada para defender o Brasil na primeira Copa do Mundo feminina, onde a base da seleção foram o times do Radar-RJ e Saad-SP.
No entanto, em 1995 a seleção foi convocada com base em um seletiva realizada pela CBF e a jogadora tomou de vez para si a famosa camisa 10 canarinho. Seja como for, era a maior craque de um país em um esporte principiante, mas com destaques como as goleiras Meg, Maravilha e Andréia, as volantes Márcia Taffarel e Formiga, além das atacantes Pretinha, Kátia Cilene, Roseli e Michael Jackson.
A LUTA CONTRA O PRECONCEITO
Saber chutar a bola, quando criança, foi o primeiro ato de resistência para Sissi. Ela e sua geração iniciaram a trajetória em uma seleção cercada pelo descaso, anos depois de o esporte ser permitido para mulheres no Brasil. Entre os anos de 1941 e 1979, a prática do futebol feminino era proibida por lei.
Seja como for, mais que persistente, Sissi queria e tentou da forma que podia, quebrar paradigmas de uma sociedade atrasada. Não era bem visto, nem tampouco bem aceito que mulheres jogassem futebol. Defendia-se que o esporte ia contra ao que chamava de ”essência feminina”. Sissi cortou os cabelos na época em que representava o Brasil para homenagear uma criança com câncer que havia sofrido bullying. Um gesto genuíno e caridoso que lhe rendeu ofensas. A principal jogadora da Seleção brasileira até os anos 2000 não recebia aplausos mas sim, ataques.
“Na época ninguém sabia porque resolvi raspar a cabeça. Ninguém sabia. Era uma homenagem para uma criança que tinha câncer e sofreu bullying (…) Mas foi um absurdo no Brasil. Tive que escutar um monte de coisa. O fato de ter cabelo curto… todo mundo olhava. Em São Paulo, até não aceitaram que eu participasse de um campeonato. Mas sempre falo para as meninas não deixarem que mudem seus jeitos: “Se aceitar do jeito que você é” – disse.
A CONQUISTA DE SISSI
Em contrapartida, é uma pena que ela nunca tenha conquistado uma grande competição com a camisa da Seleção. Seu grande momento, além do Mundial de 1999, foi no dia 14/01/1995, quando ela comandou o Brasil em uma goleada histórica sobre a Argentina, por 8 x 0. Entretanto, sua maior conquista foi mostrar toda a capacidade e vontade de vencer. Mostrar sua luta e amor por tudo que ela sempre acreditou.
Portanto, como questionar os grandes momentos que essa craque teve e tem até hoje para aquelas que acreditam no poder de uma mulher? Em suma, o Futebol na veia se orgulha de homenagear um dos grandes nomes do futebol feminino brasileiro. Felicidades, craque! Obrigada por toda luta e amor incondicional.
Foto Destaque: Reprodução / Getty Images