Parabéns, Márcio Araújo! Das ruas para a grama, um volante clássico!

Quase sempre contestado, mas igualmente titular na mesma intensidade por onde passou, Márcio Araújo é um caso a parte na história do futebol brasileiro. Com passagens marcantes por Palmeiras e Flamengo, Massaraújo comemora, nesta sexta-feira (11), 36 anos de vida e 20 dedicados ao futebol, sua maior arte de ofício. Dessa forma, a coluna faz um percurso em sua carreira de jogos memoráveis e números expressivos de roubadas de bola. Conheça um pouco mais do autor do gol do título flamenguista no Campeonato Carioca, em 2014.

 JUVENTUDE DE RUA DE MÁRCIO ARAÚJO

Natural de São Luís, no Maranhão, a infância de Márcio Araújo foi semelhante a da maioria dos garotos nordestinos que sonham com a bola. Isso porque, praticava o esporte nos campos de terra batida em frente à casa, ainda com uniforme da escola, após as aulas. Logo, sua formação de boleiro foi em meio às traves de chinelo de dedo e refrigerante de dois litros. No entanto, tendo como inspiração o irmão mais velho, que atuava em competições de outros bairros, a rua cunhou o volante clássico que um dia se tornaria.

“(…) Quando chegávamos da escola a gente saía, às vezes nem trocava de roupa, e ia jogar na rua. Isso fez com que eu sonhasse, assistisse aos jogos na televisão e fosse para a rua para jogar futebol. Isso foi sendo gerado em mim por causa desses pequenos jogos de rua… campeonatos que o meu irmão Paulinho jogou também me deram inspiração de quando eu crescer disputar os mesmos campeonatos e ter a mesma alegria que ele tinha (…). Tudo o que eu formei de base muscular mesmo foi sem trabalho de academia nem nada. Claro que a gente nem sonhava em chegar no ciclo profissional, mas aquilo me ajudou bastante.

No entanto, no caminho para o sonho, a falta de dinheiro para disputar peneiras em outros bairros era um dos principais obstáculos. Devido a isso, perseverante e batalhador, Márcio Araújo contou com sua força de vontade e a ajuda de amigos, que pagavam passagens, para apostar no objetivo da bola. “Eu sei que tenho talento e às vezes é até difícil as pessoas entenderem isso. Minha força de vontade era muito maior e as pessoas acreditaram nela. Eles viram que eu não ia desistir por qualquer coisa.

COMEÇO NO FUTEBOL

Logo, demorou para Márcio Araújo entrar no futebol. Pois, como jogador de rua, primeiro atuou no futsal, com 16 anos, e somente migrou para os gramados um ano depois e sem formação de base. Assim, um ano depois estava nas categorias de base juvenil do Mogi Mirim. No entanto, foi no Corinthians-AL que ganhou a primeira grande oportunidade de ser pago pelo seu trabalho. Dessa forma, recebendo um salário mínimo por mês, nosso aniversariante começou a ajudar a quem tanto fez pela sua carreira, a mãe.

A minha vida era tão simples (…) e o pouco que eu tinha já dava para me sustentar. Quando eu cheguei no Corinthians-AL, eles me davam um salário mínimo para eu me resolver financeiramente. A vida que eu tinha não era ligada a luxo. Nunca liguei para comprar as coisas para mim. Os meus primeiros salários eu lembro que praticamente mandava tudo para minha mãe e ficava muito feliz com o dinheiro que eu recebia. O que eu guardava era para necessidade pessoal mesmo. (…) De lá para cá eu não precisei mais que as pessoas me ajudassem em relação a isso. Pelo contrário, tenho ajudado muita gente também e reconhecido o que eles fizeram por mim.

AUGE DE MÁRCIO ARAÚJO: PALMEIRAS E FLAMENGO

Dos corintianos de Alagoas ao galo mineiro, passando pelos japoneses do Kashiwa Reysol, Márcio Araújo foi ganhando corpo no futebol até retornar à São Paulo em 2009, após passagem pelo Guarani. Agora, mais taludo, com 24 anos, o volante teria sua melhor e maior fase na carreira, conquistando números expressivos individuais e coletivos.

Sendo assim, foi no Palmeiras, entre 2009 e 2o13, que Márcio Araújo alcançou a primeira marca de 100 jogos na carreira por um clube. Em seguida, também chegaria a 250 partidas de esforço e dedicação pelas cores alviverdes. Em 2012, foi peça fundamental na conquista da Copa do Brasil, na final diante do Coritiba. No entanto, um de seus melhores momentos na carreira aconteceu no início de temporada, em 2013. Pois, sem ser um volante de muitos gols, começou aquele ano como artilheiro do Porco no Campeonato Paulista. Além disso, encerrou a temporada como campeão do Brasileirão Série B, recolocou o clube na elite nacional.

Após quatro anos bem jogados no Palmeiras, se transferiu para o Flamengo. Logo, na Gávea, conviveu com a desconfiança da torcida e as disputas por posição no elenco, mas sempre era escolhido pelos técnicos para compor o time titular. Talvez a facilidade em surpreender o adversário com sua velocidade tenha dado a vaga quase cativa à Márcio Araújo e lhe dotado de um número alto de roubadas de bola. Após viver altos e baixos na concorrência com Cuéllar e Rômulo, chegando até a ser aplaudido pela torcida, voltou a cair em descrédito que culminou com sua saída em 2017, com mais de 200 jogos.

EM BUSCA DOS BONS TEMPOS

Como um dos volantes de maior destaque nos anos anteriores, Márcio Araújo recebeu o chamado da Chapecoense, em 2017, no processo de reconstrução, após a tragédia da Lamia. No entanto, apesar dos mais de 100 jogos, teve uma passagem discreta por Chapecó, onde marcou apenas um gol. Em seguida, se voltou ao Nordeste, novamente, por onde atuou por CSA e, recentemente, estava no Sport, por onde pouco jogou. Agora, o volante treina em separado, enquanto aguarda propostas para voltar a exercer seu futebol em grande estilo dos tempos de Palmeiras e Flamengo.

Foto Destaque: Reprodução/Marcelo Prado

Ricardo do Amaral

Ricardo do Amaral

"Alvíssaras! Sou Ricardo Accioly Filho, pernambucano de 29 anos, advogado e estudante de jornalismo pela Uninassau. Tenho como mote que “no futebol, nunca serão apenas 11 contra 11”; é arte, é espetáculo, humanismo, tem poder de mover multidões e permitir ascensões sociais. Como paixão nacional do brasileiro, o futebol me acompanha desde cedo, entretanto como nunca tive habilidade para praticá-lo, busquei associar duas vertentes de minha vida: o prazer pela leitura e o esporte bretão. Foi nesse diapasão que encontrei no jornalismo esportivo o elo de ligação que me leva a difundir e informar o que, nas palavras de Steven Spielberg, é o “mais belo espetáculo de imagens que já vi”."