Nesta quinta-feira santa (9), os parabéns vão para outro jogador do Sport Club do Recife e não apenas um entre vários. Isso porque, Alessandro Beti Rosa, o Magrão, maior goleiro da história do Leão da Ilha, completa 43 anos de vida. Assim, com mais de 700 jogos à serviço do clube pernambucano e 10 títulos conquistados, sendo o maior campeão individual, o arqueiro é um ídolo absoluto. Dotado de carisma e boa índole, em seu currículo, foram mais de 10 temporadas atuando com a camisa vermelha e preta e conquistas memoráveis como a Copa do Brasil, em 2008, a Copa do Nordeste, em 2014, e três acessos à Série A. No entanto, deixou o clube de forma polêmica, manchando em parte sua trajetória.
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Índice
O INÍCIO ÁRDUO NO FUTEBOL
Assim, Alessandro Beti Rosa nasceu em 9 de abril de 1977, em São Paulo. Atualmente, é casado com Marylu Santos com quem teve três filhos, Gabriela, Lucas e Rafael. Voltando às origens, como muitos jogadores que iniciam sua carreira no futebol, Magrão sofreu para conseguir se firmar em algum clube. Logo, formado pelas categorias de base do Nacional-SP, em 1997, permaneceu no time por três anos até peregrinar por Portuguesa, Botafogo-SP, Rio Branco-SP, onde teve três passagens, Ceará e Fortaleza.
Além disso, antes de chegar ao Sport, o jogador passou por dificuldades financeiras, quando atuava pelo Rio Branco-SP. No último mês de seu contrato, o salário foi pago com três cheques pré-datados, mas Magrão não conseguiu receber o que era devido. No entanto, em meio a crise dele e de sua família, o goleiro recebeu a proposta do Leão, em 2005. Assim, em 21 de abril, a pedido do então técnico Zé Teodoro, mesmo sem ninguém saber naquele momento, chegava à Ilha um dos maiores ídolos que o clube teria.
SPORT (2005 – 2019)
Dessa forma, discreto e sem maiores expectativas, Magrão desembarcou em Recife para a disputa do Campeonato Brasileiro da Série B. No entanto, logo de início se machucou e teve altos e baixos no gol rubro-negro, estreando contra o Guarani pela 6ª rodada. Assim, foi reserva do goleiro Gustavo no primeiro título pelo Leão, o Campeonato Pernambucano de 2006. Todavia, voltou a ter oportunidade durante a Série B, sob o comando do técnico Dorival Júnior, e não perdeu mais a titularidade, contribuindo para o primeiro acesso à Série A. Durante esta temporada, foram 35 jogos disputados.
Gol 1000 de Romário…
Em 2007, após um início cercado de desconfiança, mas com a titularidade, um fato marcou a carreira de Magrão e o fez ficar conhecido internacionalmente. Pelo Campeonato Brasileiro, Romário, então no Vasco da Gama, buscava seu milésimo gol. Dessa forma, foi em uma partida diante do Sport, em São Januário, que o baixinho converteu o pênalti. Isso fez o jogador entrar para a história como o goleiro que sofreu o gol emblemático do tetracampeão do Mundo pela Seleção Brasileira. Ainda durante a temporada, perdeu a titularidade por alguns jogos para Cleber, mas voltou ao gol e, dessa vez, incontestável.
Geração 2008
À essa altura, Magrão já era bem avaliado por grande parte da crônica esportiva local e até nacional, chegando a ser elogiado pelo seu ídolo Rogério Ceni. E 2008 reservaria, definitivamente, um lugar na galeria dos grandes ídolos. Isso porque, com grandes defesas e até gol em cobrança de pênaltis, foi um dos maiores responsáveis pelo título da Copa do Brasil diante do Corinthians. Comandados pelo técnico Nelsinho Baptista, além do goleiro, Carlinhos Bala, Romerito, Dutra, Durval, Sandro Goiano, Daniel Paulista e outros formaram uma geração histórica que reconquistou o Brasil após 20 anos do último título nacional. Diante das atuações nesse ano, uma transferência para o Rayo Vallecano, da Espanha, foi cogitada, mas ele permaneceu defendendo as cores rubro-negras.
Logo, o título nacional deu a Magrão a oportunidade de disputar sua primeira competição internacional, a Libertadores da América. Assim, logo na partida de estreia diante do Colo-Colo, em Santiago, o goleiro fez, talvez, a maior defesa de sua carreira, de mão trocada após chute de longe do atacante Carranza. Após, seguiu passando confiança até a frustrada eliminação, nos pênaltis, para o Palmeiras nas oitavas de final. No entanto, não conseguiu evitar o rebaixamento do clube à Série B ao final da temporada. Apesar disso, em todos esses anos, o arqueiro seguia colecionando títulos estaduais e sendo eleito o melhor goleiro dos campeonatos.
A volta sofrida à Série A…
Desse modo, após três anos, o Sport estava de volta à Série B e penou por duas temporadas. Em 2010, apesar da campanha frustrante, Magrão foi o único que seguia em paz com a torcida e ao final daquele campeonato foi eleito o craque da Série B, por voto popular. No ano seguinte, veio a redenção. Isso porque, além de ter completado 300 jogos contra o Ypiranga pelo Campeonato Pernambucano, o goleiro teve uma atuação destacada na partida que garantiu o acesso. Diante do Vila Nova, em um Serra Dourada encharcado pela chuva, defendeu um chute à queima-roupa que assegurou a vitória por 1 x 0 recolocando o clube de volta à primeira divisão que culminou com uma invasão de campo da torcida festejando o tão sofrido acesso.
Especialista em pênaltis e a Copa do Nordeste
Após temporadas seguidas com a titularidade absoluta, em 2012, após completar 400 jogos à serviço do Leão, Magrão sofreu uma lesão que lhe afastou dos campos. Assim, foi substituído pelo prata da casa Saulo, de quem se esperava ser o sucesso natural do ídolo. No entanto, ainda iniciante, falhou em alguns lances. Voltando ao gol, o goleiro teve um dos seus grandes momentos individuais no primeiro Clássico dos Clássicos internacional, válido pela Copa Sul-Americana de 2013. Naquela ocasião, o Náutico levou a partida para os pênaltis e Magrão defendeu três penalidades, classificando o Sport para as oitavas de final da competição. A partir desse instante, ganhou o rótulo de especialista no quesito, tendo ao todo defendido 33 chutes da marca da cal.
Em 2014, juntamente com o zagueiro e capitão Durval, Magrão entra para a história do Leão como um dos maiores campeões. Isso porque, foi, novamente, campeão pernambucano e, dessa vez, da 3, sendo os únicos a conquistaram títulos à nível estadual, regional e nacional pelo clube. Tempos depois, o goleiro confessou um episódio triste. À época, sua esposa, Marylu Santos, estava lutando contra um câncer e no dia da final contra o Ceará, na Arena Castelão, estava sendo submetida a uma cirurgia. Mesmo com a liberação da diretoria, ele preferiu viajar à Fortaleza para levantar a taça regional. Ainda esse ano, alcançaria a marca de 500 jogos disputados.
Lesão e o fantasma Danilo Fernandes…
Ao completar 10 anos no Sport, Magrão já era ídolo, jogador incriticável até mesmo nos piores momentos do elenco. No entanto, no início do Brasileirão de 2015, voltou a se lesionar, dessa vez, gravemente no ombro que o afastou dos gramados por dois meses. Em seu lugar, entrou o reserva Danilo Fernandes, vindo do Corinthians. E para surpresa, o substituto atravessou uma fase bastante positiva com grandes atuações e milagrosas defesas que após a recuperação impediu a volta imediata do ídolo para debaixo das traves. Assim, Magrão teve que se acostumar em assistir os jogos do banco de reservas até o final do Campeonato Pernambucano de 2016.
Com a transferência de Danilo Fernandes para o Internacional, voltou a titularidade e teve grandes momentos, em 2017, como na nas quartas-de-finais da Copa do Nordeste, pegando dois pênaltis contra o Campinense. Além disso, foi o herói da classificação contra o Joinville pela Copa do Brasil defendendo mais duas cobranças. Pela Copa Sul-Americana, ainda foi o maior responsável por evitar um vexame internacional. Após vencer o Danúbio, do Uruguai, por 3 x 0 na Ilha, o Sport cedeu o mesmo placar em Montevideú, mas Magrão salvou nos pênaltis. Assim, chegando a ser comparado ao goleiro Buffon, então da Juventus-ITA e tetracampeão mundial com a Itália.
Uma saída polêmica
Ao final da Série A de 2018, Magrão se lesionou e ficou de fora das últimas 10 rodadas. Assim, o prata da casa Mailson entrou em meio a luta contra o rebaixamento, mas não conseguiu evitar a queda à Série B. Apesar disso, fez grandes defesas que deixaram mais uma vez em dúvida o retorno imediato do ídolo em 2019. Naturalmente, o experiente goleiro foi escolhido para iniciar a temporada, mas sucessivas falhas lhe tiraram a titularidade. Logo, o substituto seguiu tendo destacadas exibições e assegurou presença constante no time principal. Em seguida, já com 42 anos, Alessandro Beti Rosa deixou o Sport.
No entanto, não de forma discreta, como ele havia planejado. Pois, acionando o Sport na justiça por débitos salariais em meio a uma crise financeira sem precedentes, saiu do clube durante a parada da Copa América e pela porta dos fundos, sem falar com imprensa e torcida. Tempos depois, deu sua versão dos fatos. Assim, contou que teve uma conversa com o presidente leonino, Milton Bivar, e que sentiu que estava sendo preterido diante da situação interna do clube e das críticas pesadas que recebeu pelas más atuações no início da temporada. Atualmente, acertou, via judicial, uma repactuação de dívida com o clube que vem honrando os compromissos.
Dessa forma, uma era se encerrou na Ilha do Retiro após 731 jogos. No entanto, Magrão será sempre lembrado pelo que fez dentro do gramado, pois enquanto jogador foi valente e deu o sangue até o último momento.
Foto Destaque: Reprodução / Paulo Paiva / SuperEsportes PE