Onde a coruja dorme: o símbolo de gols históricos

A coluna desta semana traz um dos termos mais curiosos do futebol: o chute onde a coruja dorme. O bordão já tentou ser mudado e sua origem faz parte dos folclores do futebol brasileiro. Entretanto, ao escutar a expressão, é impossível não associar a golaços históricos como a batida do sérvio Dejan Petkovic contra o Vasco em pleno Maracanã, para garantir o tricampeonato carioca do Flamengo no ano de 2001. Mesmo assim, não é familiar? Deixa que o dicionário te explica!

O QUE É “ONDE A CORUJA DORME”?

Com certeza você, entusiasta do futebol, já viu algum jogador cobrando uma falta e o narrador gritando: GOOOOOOOOL! ELE MANDOU LÁ ONDE A CORUJA DORME!”. Mas, afinal, o que significa esse termo? Também conhecido como um “chute na gaveta”, esses termos são utilizados quando o chute é realizado em direção à algum dos ângulos retos superiores que as duas travem se encontram. Por conta da sua extrema dificuldade em ser realizada, esses tipos de finalização são considerados um dos gols mais bonitos que o futebol pode nos proporcionar. O argentino Lionel Messi é um especialista em mandar a bola lá onde a coruja dorme.

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Esta posição é considerada “indefensável”, ou seja, onde o goleiro não conseguirá impedir que o gol seja realizado. Por isso, em cobranças de falta, os jogadores buscam sempre mirar essa direção, tanto para consagrar-se na história dos golaços como para impedir, quase que por completo, qualquer possibilidade de defesa. É interessante notar que, para conseguir esse tipo de batida, a força nem sempre é seu melhor aliado. Cobranças de falta onde os chutes de “chapa” predominam, tendem-se a uma facilidade maior de alcançar onde a coruja dorme pelo efeito que a bola pega.

Certamente, ainda mais bonito que um gol realizado desta maneira é uma defesa onde o goleiro desdobra-se quase que elasticamente para impedir o arremate. Como o lendário goleiro Rogério Ceni, que impediu o empate do Liverpool no mundial de clubes da FIFA em 2005, realizando uma das defesas mais incríveis da história do futebol.

JOGADORES CONSAGRADOS

Ao longo da história, diversos jogadores utilizaram dessa cobrança para consagrar-se no meio futebolístico. Um dos grandes percursores da batida no ângulo, apesar de desconhecido por muitos, é o argentino Victor Legotraglie. Uma lenda dentro de seu país natal, soma mais de 60 gols de falta em sua carreira e é considerado um dos melhores cobradores de todos os tempos. Os hermanos também possuem Diego Maradona e o já citado Lionel Messi nessa lista de golaços históricos. Já na Europa, é impossível não citar o francês Michel Platini, o italiano Andrea Pirlo, o inglês David Beckham, holandês Ronald Koeman e o português Cristiano Ronaldo.

O que Juninho Pernambucano, Ronaldinho Gaúcho e Marcelinho Carioca possuem em comum além de adjetivos pátrios? Seus nomes gravados na lista de melhores cobradores de falta da história! Se engana quem pensa que o Brasil não é uma referência no assunto, afinal, crescemos com lendas iguais a Zico, Pelé e Rivelino, servindo como excelentes professores para uma futura geração. O futebol brasileiro sempre foi recheado de incríveis jogadas, até mesmo vindo de estrangeiros atuando no país, como o citado Dejan Petkovic cobrando uma das mais bonitas faltas da história.

A ORIGEM

O futebol sempre é folclórico, existem diversas versões para a origem do termo. Porém, a mais conhecida remonta-se ao futebol paulista dos anos 70. De acordo com as lendas, acredita-se que, em uma rodada fria e de garoa do Paulistão, o Palmeiras jogava contra um time de menor expressão. Já imaginando uma possível goleada, os fotógrafos posicionaram-se atrás do gol do time menor para captar os principais lances. Enquanto o foco das lentes era no gol adversário, o goleiro da equipe favorita encostou-se em uma das traves e cruzou os braços para proteger-se do frio já que não era acionado.

Com a pouca movimentação, uma coruja pousou no canto superior oposto ao do goleiro e lá ficou enquanto não recebia nenhum tipo de ameaça. Percebendo a posição do animal, o lendário fotógrafo 2, que cobria a partida, cruzou o campo inteiro para capturar o momento. Segundo relatos, o bicho encolheu-se devido a baixa temperatura e repousou lá mesmo, em um local que não apresentava sinais de ameaças. A imagem foi vinculada posteriormente nos jornais da época e adotada como bordão aos narradores.

CONTRADIÇÕES

Alguns estudiosos do futebol dizem que a expressão já era utilizada de outra maneira desde os anos 50. Como “quase que a redonda entrou, ela ia onde a coruja faz o ninho”. Ao longo dos anos, adaptações são feitas de acordo com os estilos e os contextos vividos durante as narrações. Entretanto, os narradores também atuam como artistas dentro do espetáculo do futebol, essas modificações e criações de novos bordões fazem parte da cultura que transformou o Brasil em um templo do esporte.

Uma coisa é certa: corujas não dormem de cabeça para baixo! A expressão já tentou ser mudada para “onde o morcego dorme”, afinal, biologicamente falando, faria mais sentido. Entretanto, nunca foram registradas imagens do animal nesta devida posição, mas, diversas vezes corujas foram capturadas no ângulo reto de 90º defendido pelo goleiro, salientando ainda mais a expressão no gosto popular.

Foto destaque: Reprodução/Guilherme Camargo Alves/Canon College

Rafael da Costa

Rafael da Costa

Estudante de Rádio e TV, apaixonado pelo esporte desde o nascimento. Ainda criança com uma câmera analógica quebrada eu ensaiava me apresentando como se fosse na TV. O jornalismo, principalmente o esportivo, é para mim, antes de mais nada, uma forma de levar o amor por um denominador comum para todos os cantos do mundo.