Uma temporada atípica para a equipe do Palmeiras. O clube viveu momentos inéditos passando por uma paralização no meio da temporada. Sofreu com uma reformulação forçada, surto de Covid e uma onda de lesões.
Por isso, a coluna Palmeiras em 2020.
Índice
O ANO QUE NÃO ACABOU
Assim como em outras ocasiões, 2020 começou com suas pré-temporadas. O Palmeiras, sob o comando do técnico Vanderlei Luxemburgo iniciava sua jornada na Flórida Cup, pela primeira vez em sua história.
Logo depois, os estaduais. No Grupo B, ao lado de Santo André, Novorizontino e Botafogo-SP, a equipe Alviverde iniciava a sua trajetória no campeonato Paulista. Somando 22 pontos, e com um aproveitamento de 61,1%, Luxa levou o Palmeiras para a fase de mata-mata.
No entanto, no meio disso tudo, o coronavírus chegou ao Brasil. Por isso, em 16 de março a Federação Paulista de Futebol (FPF) se juntou à outras entidades e decidiu pela paralização do Campeonato Paulista. Ao todo, 10 rodadas foram disputadas.
⚠ Atenção, #FamíliaPalmeiras! ⚠
Por determinação da Federação Paulista de Futebol, as partidas do Campeonato Paulista foram paralisadas por tempo indeterminado, em prol de evitar a propagação do coronavírus.#AvantiPalestra— SE Palmeiras (@Palmeiras) March 16, 2020
Com isso, o Derby Paulista teve que ser adiado. A última partida disputada pelo Verdão, até então, foi contra a Inter de Limeira, que terminou 0 x 0.
Assim como outras equipes, o Palmeiras entrou em uma briga constante com os cofres. A paralização de jogos, somados a questões relacionadas a cotas de televisão, falta de público nos estádios, entre outros fatores, fizeram com que o clube tivesse que apertar as contas.
Então, Maurício Galiotte, juntamente com o board alviverde, e em consenso com equipe técnica e de jogadores decidiu realizar algumas medidas urgentes para proteger seus funcionários. A redução de salário em 25% foi uma solução. Além disso, teve que ajustar as contas para não prejudicar nenhum funcionário.
Também Cuidou das categorias de base e do time feminino. Teve uma conduta exemplar durante a parada, mesmo que tenha errado muito em outros aspectos administrativos em sua gestão.
A VOLTA DO PAULISTA
Diferente de alguns clubes – especificamente um carioca, que foi campeão Brasileiro no ano anterior – os Paulistas aguardaram a decisão da FPF, juntamente com o Governador da Cidade de São Paulo, João Dória, para agendar a sua volta.
A data escolhida foi 22 de julho. Nada poderia ser mais triunfal do que retornar logo com um Derby. O palco foi a Neo Química Arena. Apesar dos bons resultados de antes da paralisação, o Palmeiras não vinha apresentando o seu melhor futebol.
A falta de padrão de jogo e o esgotamento físico ficaram mais evidentes na partida diante do rival Corinthians. Falhas técnicas e individuais deixaram o time desconfortável em campo. E, apesar de apresentarem um volume de jogo maior, a expôs uma fragilidade na equipe do Palmeiras.
Além disso, a saída de Dudu foi um dos fatores determinantes para a evidente queda do Palmeiras. A intensidade havida sumido. Quem chamaria a responsabilidade? Lucas Lima? Raphael Veiga? Zé Rafael? Até então, desacreditados.
CONQUISTA DO PAULISTÃO: A MAQUIAGEM QUE LUXEMBURGO PRECISAVA
Era evidente que o rendimento de nomes como Bruno Henrique e Ramies incomodavam, mas Luxemburgo insistia em algumas teimosias. Desse modo, aos trancos e barrancos, o professor Luxa conseguiu levar o Palmeiras à final do Campeonato Paulista.
A essa altura, as Crias da Base já estavam fazendo o seu nome vestindo e defendendo a camisa do Palmeiras. Patrick de Paula chamava atenção pela sua qualidade e personalidade. Gabriel Menino já mostrava traços da sua polivalência, e Veron começava a despontar.
Contudo, a oportunidade de vingança em cima do rival poderia ser a redenção para Luxemburgo. Fez valer sua história. Na preleção do jogo de volta, no Allianz, mostrou que quem deveria mandar na partida era o Palmeiras.
Bom, o resto é história. Mesmo não fazendo um jogo gigante, o Palmeiras conseguiu ser campeão Paulista de 2020, no dia 08 de agosto. Além disso, Luxemburgo conseguiu uma conquista pessoal: se tornou o maior vencedor do Campeonato Paulista, com nove títulos.
O PALMEIRAS PRECISAVA DE MUDANÇAS
Com a alma lavada, o Palmeiras teria uma sequência intensa nos meses seguintes. Começando pelo Campeonato Brasileiro, o time teria pela frente embates de Libertadores e Copa do Brasil. O calendário, claro, não ajuda e o sofrimento começou.
Logo, os problemas começaram a se tornar sérios. Os problemas expostos passavam das quatro linhas, em que o time não conseguia apresentar o mínimo que deveria: padrão de jogo, intensidade e bons resultados.
Desse modo, o treinador fugiu de sua própria identidade e entrou na onda de “não precisa fazer o segundo gol”. Além disso, reclamou da “engenharia para fazer o time funcionar”. Algumas de suas declarações incomodaram os jogadores, e o desgaste foi inevitável.
Por isso, o técnico deixou o Palmeiras na 16ª rodada do Campeonato Brasileiro, após três derrotas consecutivas (Botafogo, São Paulo e Coritiba) quebrando a sequência de 20 jogos de invencibilidade.
Contudo, Luxemburgo comandou o Palmeiras em 36 partidas nessa quinta passagem pelo clube. Foram 17 vitórias, 14 empates e cinco derrotas, deixando a equipe na 7ª colocação, com 22 pontos, e classificado na Libertadores.
RECUPERANDO O DNA PALMEIRENSE
Apesar de estar numa boa colocação, o palmeirense ainda não enxergava uma grande perspectiva no time. A temporada já estava dada como “perdida”, apesar de estar vivo na Libertadores e na Copa do Brasil.
Mesmo com os nomes ventilados, ver uma evolução no Palmeiras parecia distante. O elenco parecia abatido e sem expectativa. Muito se falou na recuperação do DNA, em buscar uma filosofia ofensiva, mas de fato, o que o Palmeiras precisava era recuperar a competitividade.
Contudo, Abel Ferreira foi o escolhido para tal missão. O Treinador português deixou o PAOK, da Grécia, para comandar o Verdão. Chegou ao Brasil mostrando que fez a lição de casa: estudou a história do clube, conhece os jogadores pelo nome. Conversa com eles e entende o que precisam.
Além disso, a torcida abraçou as ideias de Abel, que, ao lado de sua comissão técnica e de Andrey Lopes, conseguiu fazer com que o Palmeiras tivesse um padrão de jogo. As estratégias em campo se tornaram claras e as funções definidas.
AS DIFICULDADES DO PALMEIRAS
Porém, nem tudo são flores. O Técnico teve que enfrentar logo de cara um surto de Covid-19 no elenco. Diante de uma decisão na Copa do Brasil, contra o Ceará, não pôde contar com peças fundamentais em seu plantel.
O clube chegou a contabilizar 19 atletas infectados, tendo que improvisar peças em posições – como foi o caso de Mayke, que entrou como Lateral Esquerdo na ausência de Matias Viña e Gustavo Scarpa.
Além deles, Rony também fez uma nova função no campo: centroavante. O criticado camisa 11 teve uma evolução enorme com a chegada do novo treinador e passou a ser fundamental – a ponto de ser poupado em vésperas de decisões.
No entanto, as lesões assombram o Departamento Médico alviverde. Wesley, que vinha fazendo a função de ponta para alargar o campo se machucou e só volta em 2021. Felipe Melo também desfalca o Palmeiras. Luiz Adriano já se recuperou, mas também foi dor de cabeça para Abel. Na última partida, quem preocupou o Gajo foi Gabriel Veron, que sentiu uma lesão no mesmo lugar da anterior.
A CLARA EVOLUÇÃO DO PALMEIRAS
Por falar em evolução, outros jogadores se tornaram peças fundamentais no Palmeiras. Alguns que estavam esquecidos, ou quase negociados. Raphael Veiga, por exemplo, se tornou uma referência na ala criativa da equipe. Faz a função de motorzinho do time.
Atualmente, Veiga tem uma média de 37.9 toques por jogo, 83% de passes certos, e oito gols, apenas no Campeonato Brasileiro. Além dele, outros jogadores conseguiram despontar no elenco.
Gabriel Menino é um deles. Já era notável a sua qualidade técnica em campo, mas o camisa 25 mostrou também ser uma peça polivalente e muito importante. Apesar de jogar como lateral direito atualmente, Menino já atuou como volante, como ponta e até mesmo como meia. Esses são apenas alguns dos exemplos dessa lista que é vasta.
OPINIÃO: NÃO FOI UM ANO PERDIDO
Recentemente algumas partidas deram dor de cabeça ao torcedor do Palmeiras. A partida contra o Internacional deixou um sabor amargo de levar dois gols e não conseguir reagir. Depois, o empate contra o América em casa também não foi o resultado dos sonhos.
A questão é: de um time desacreditado – apesar de classificado – o Palmeiras se tornou semifinal em duas competições intensas. Desse modo, é o único brasileiro vivo em três torneios – Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil.
Somado ao surto de Covid – que comprovadamente causa desgastes físicos e emocionais – o time ainda luta com um esgotamento físico, com a falta de tempo para treinar. A reclamação é que a equipe de Abel não consegue mais pressionar a bola, coisa que o próprio técnico já identificou, mas que não dá para ser resolvida do dia para a noite.
É fato que o Palmeiras de Abel ainda tem ajustes a fazer. É fato que talvez nenhum título chegue para essa temporada maluca, com um calendário exaustivo. No entanto, é fato também que o time evoluiu e que, mesmo na sua pior forma física, consegue se colocar competitivo.
Contudo, vale ressaltar alguns números do professor Abel, nesses quase dois meses de Palmeiras: São 15 jogos, sendo 10 vitórias, quatro empates e duas derrotas.
O importante agora, é que o torcedor esteja com o time, abrace as ideias de Abel e acompanhe até o final. Seremos? Só o tempo pode dizer, mas as chances são grandes.
Foto: Marcello Zambrana /AGIF