Mendonça, ídolo do Botafogo, completaria hoje 64 anos

A  Grêmio.

O SONHO DE MENINO

Milton da Cunha Mendonça nasceu dia 23 de maio de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. A princípio, iniciou sua carreira no Dente de Leite do Bangu A.C. Aos 12 anos de idade, transferiu-se em seguida para o Botafogo de Futebol e Regatas, pelo qual sagrou-se campeão em 1973 do Torneio Mundial de Cadets em Croix na França.

Dessa forma, o menino fechava os olhos e sonhava. Viajava naquele sonho acordado de tantos meninos, sonho esse que era pintado com o verde da grama, embalado pelo som das torcidas, alimentado pela magia dos craques. Do mesmo modo, no sonho, o menino virava mais um. Escudo sobre o peito, onde pulsa mais forte a paixão. E qual é o menino que não sonha em defender o seu clube, jogar no Maraca, marcar um golaço e vencer o rival?

Mendonça sonhou tudo isso. Seja como for, transformou o sonho em realidade, para, com a camisa do Botafogo, alimentar o sonho de outros meninos. Alvinegro fanático, o meia se eternizou como o ídolo de uma geração. Era quem permitia aos botafoguenses o gosto de sonhar, em anos nos quais o time não ia muito além disso. O jogador não conquistou títulos com o clube, a única parte não cumprida de seu sonho de menino.

Mendonça, ídolo do Botafogo, completaria hoje 64 anos
Pinterest (Foto: Divulgação/Botafogo)

Todavia, da base aos profissionais, ficou por lá durante 14 dos 21 anos do jejum só rompido em 1989. Mas não dependeu de taças para encarnar como poucos o espírito do que significa ser Botafogo. Nesse sentido, o jogador é daqueles que não dependem do brilho dos troféus para ter luz própria. E como contestar tamanho resplendor?

MENDONÇA: A ESTRELA ALVINEGRA

A chegada de Mendonça ao Botafogo aconteceu em 1968, exatamente o ano do último título antes da seca no Carioca. O garoto ganhou suas primeiras chances no profissional em 1975, momento em que o jejum incomodava bastante. E na escassez cada vez maior de craques, seria ele o encarregado de assumir tal responsabilidade. Dessa forma, a camisa alvinegra lhe caía muito bem, especialmente pela nuance de encantamento que sua técnica provocava.

Ao passo que o jogador atuava como um profeta do Botafogo durante a longa travessia no deserto, sua habilidade era a luz que guiava os Alvinegros na caminhada. Suas grandes performances eram a esperança de dias melhores. Assim também, aquele menino, que desde cedo sonhara com a Estrela Solitária, afinal, sabia melhor do que ninguém o que a espera significava. Era, no entanto, mais um botafoguense em campo, o mais identificado. Contudo, a terra prometida não seria alcançada tão cedo, nem por Mendonça e nem pelo Botafogo.

O PASSE PARA O DESCONTROLE

E não pensem que o ídolo era amado a todo tempo e fazia apenas passes que o favoreciam. Haviam momentos em que precisava lidar com a fúria da torcida alvinegra. Nesse ínterim, em meados de 1980, perdeu a cabeça. Saiu fazendo gestos obscenos às arquibancadas e correu aos vestiários, descontrolado.

“No vestiário, entrei chorando, atirei a camisa com violência no chão, pisei em cima e comecei a gritar: ‘Não jogo mais nessa merda de clube! Não jogo mais pra essa torcida!”

Na época, contou à Placar que sempre fora caladão, de um jeito meio indiferente, mas por dentro estava sempre em estado de convulsão. Relatou também que horas depois do ocorrido, conseguiu entender a reação natural de uma torcida que não vencia desde 1968. E acrescentou:

“Só que se esquecem que eu também estou nessa, 12 anos sem título. Pensa que não sofro? Sofro mais que a maioria dos torcedores e conselheiros que se dizem botafoguenses. Porque eu, mesmo profissionalmente, sou Botafogo sem interesse apenas porque amo”

MENDONÇA: O ÍDOLO SEM TÍTULOS

Ao longo de 342 partidas e 118 gols, o sonho de Mendonça quando pequeno também virou realidade, é claro! E nunca tão real quanto naquele 19 de abril de 1981. Era dia de Maracanã lotado, de clássico contra o Flamengo, de jogo decisivo. Os rivais se enfrentavam pelas quartas de final do Campeonato Brasileiro, torneio do qual os Rubro-Negros eram os campeões vigentes. E se não buscaram o bicampeonato justo em seu ano mais imponente, a culpa é praticamente de Mendonça. Com dores musculares, o meia corria o risco de sequer entrar em campo. E não só entrou, como acabou com a partida.

O craque marcou tanto a história do Botafogo que continua sendo lembrado nas redes sociais do time a que pertenceu e que se dedicou por anos.

O ADEUS AO CRAQUE QUE FOI BOTAFOGO NO VIVER, NO AMAR E NO SOFRER

Infelizmente, após sua aposentadoria em 1996, Mendonça passou a incluir cada vez mais o álcool em sua rotina. Antes da reabilitação, o jogador precisou ficar 40 dias internado na UTI, pois corria riscos de morte. Foi do destaque de ser uma estrela para a tristeza do vício. O ídolo veio a falecer dia 5 de julho de 2019, aos 63 aos de idade, devido ao mau funcionamento do fígado e dos rins, entrando assim em choque séptico.

Em suma, Mendonça partiu sem conseguir levantar seu sonhado troféu. Entretanto, sua maior conquista seria mesmo o reconhecimento de tanta gente que o considera o maior ídolo daquele período tortuoso. Ao longo da vida, o meia representou o Botafogo também no amor incondicional e no sofrimento silencioso. E em razão disso, a falta de taças não o diminuiu, muito pelo contrário. Portanto, o Futebol na Veia tem orgulho em homenagear aquele que jogou movido pelo sentimento único de se doar por quem amava.

Foto Destaque: Divulgação / Pinterest / Botafogo

Thamirys Abreu Vieira

Thamirys Abreu Vieira

Sou carioca, graduada em Jornalismo pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Pretendo me especializar na área esportiva e vivenciar a cada dia a magia do futebol. Exigente e de temperamento forte, mas sempre disposta a aprender. Apaixonada pela leitura e o mundo futebolístico.