Em meio a pandemia do novo coronavírus, nesta terça-feira (7), o futebol pernambucano e brasileiro celebram os 119 anos de uma de suas maiores instituições: o . Assim, tradicionalíssimo e dono de uma história rica de superação e reconstrução, o Timbu de Recife é, até hoje, o único hexacampeão de Pernambuco. Além disso, ainda ostenta outros 16 títulos estaduais, sendo o terceiro maior vencedor da região. Após o retorno aos Aflitos, conquistou seu maior título, o Campeonato Brasileiro da Série C, em 2019. Em sua era de ouro, chegou a “colocar medo” no Rei Pelé.
Nosso aniversário, neste ano, vai ser diferente. Os 119 anos de história não terão o tradicional bolo, nem festa, porque é dia de comemorar, mas também de proteger a vida. Não estaremos juntos, no caldeirão, mas precisamos, mais do que nunca, do calor e do amor da nossa torcida + pic.twitter.com/l75oY3tzzw
— Náutico (@nauticope) April 7, 2020
Índice
AS ORIGENS NÁUTICAS
Assim, a origem remonta ao remo, que havia ganho expressão em Recife com várias competições ao longo do Rio Capibaribe. Em 1897, um grupo de praticantes do esporte aquático participou da recepção às tropas pernambucanas que lutaram na Guerra de Canudos. Liderados por João Victor da Cruz Alfarra, realizaram uma grande regata sob o tradicional rio e popularizaram a modalidade. Desse modo, funcionários de armazéns das ruas do Rangel e Duque de Caxias decidiram criar o Clube dos Pimpões para competir contra o grupo de Alfarra.
Na versão oficial, o Clube Náutico Capibaribe foi fundado em 7 de abril de 1901. No entanto, há relatos de sua existência desde 1898, quando os dois grupos de remadores decidiram formar uma sociedade. Inicialmente, o novo clube chegou a ser chamado de Recreio Fluvial, mas em seguida ganhou o nome atual. A partir de então, a origem náutica nunca deixou de acompanhar a história do centenário clube da Avenida Rosa e Silva. Mas, passou a dividir espaço com a crescente prática do futebol já em 1905 e 1906. Nesse período, um grupo de ingleses formou o primeiro time alvirrubro que fez sua primeira partida oficial em 1909.

DÉCADA DE 30: A PROFISSIONALIZAÇÃO
Dessa forma, o novo esporte ainda encontrava resistência por parte dos diretores e era tratado de forma secundária. Logo, os primeiros anos não foram gloriosos. No entanto, na década de 30 veio a profissionalização do futebol alvirrubro e, juntamente com ele, os primeiros títulos estaduais em 1934 e 1939. Em 1936, o Náutico comprou o terreno que daria lugar ao místico Estádio Eládio de Barros Carvalho, em alusão ao presidente do clube por 14 mandatos, no bairro dos Aflitos. Assim, três anos depois, o local seria inaugurado com uma goleada por 5 x 2 diante do rival Sport. Logo, coube a Wilson marcar o primeiro gol da praça esportiva.
ERA DE OURO: GERAÇÃO HEXA
Demorou algum tempo, mas aos poucos o futebol em Rosa e Silva começava a dar sinais de glória e a década de 60 pode ser considerada a Era de Ouro do Alvirrubro. Isso porque, a geração formada por Nino, Nado, Lala, Gena, Ivan Brondi, Salomão e Bita deu o maior orgulho à torcida vermelha e branca com o Hexacampeonato Pernambucano entre os anos de 1963 e 1968. Até hoje, nenhum clube conseguiu tal façanha, apesar das várias tentativas dos rivais Sport e Santa Cruz com alguns pentacampeonatos. Além disso, em todas as conquistas o vice-campeão foi o Leão da Ilha, fato que aumentou a rivalidade histórica e centenária entre os clubes.
De todos os anos, a temporada de 1967 foi a mais especial. Pois, além do quinto título em sequência, o Náutico conseguiu chegar até a final da Taça Brasil. Na campanha, eliminou grandes clubes brasileiros como o Cruzeiro de Tostão, então campeão brasileiro. No entanto, na final, mesmo forçando um terceiro jogo, após vitória na segunda partida, perdeu o título para o Palmeiras de Ademir da Guia. Apesar disso, o vice-campeonato deu ao clube classificação à Libertadores da América, sendo o primeiro pernambucano a disputar o torneio.
Vitória contra o Santos de Pelé…
Talvez, a maior partida dessa geração tenha sido em pleno Pacaembu pela Taça Brasil de 1966. Naquela ocasião, o Náutico enfrentou o Santos de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, e venceu por 5 x 3, com direito a quatro gols do ídolo Bita. Bita que viria a ser o maior artilheiro do Timbu com 221 gols marcados em 319 jogos. Diante disso, o Rei do Futebol afirmou que entre as equipes mais difíceis que ele enfrentou estavam o Cruzeiro de Tostão, a Academia do Palmeiras, o Botafogo e… o Náutico de Bita.
O REINADO DE KUKI
Após temporadas sem maiores destaques entre as décadas de 70 e 80, o Náutico atravessou sua pior fase nos anos 90, quando não conquistou nenhum título. Além disso, disputou a Série C do Brasileiro e subiu de divisão na virada de mesa que permitiu o acesso direto do Fluminense à Série A. No entanto, em 2001, veio um dos grandes motivos de comemoração, o título pernambucano no ano do centenário do clube. Em outro grande elenco que tinha a condução do técnico Muricy Ramalho e, no campo, a liderança do atacante Kuki fazendo uma dupla marcante com o prata da casa Jorge Henrique.
Logo, essa parceria renderia três títulos estaduais (2001, 2002 e 2004) e colocaria para sempre o baixinho Kuki na galeria dos maiores ídolos de Rosa e Silva, marcando toda uma geração. Com muita disposição e aguerrido para defender as cores alvirrubras, o jogador colecionou episódios inusitados e ganhou rápida identificação com a torcida. Atualmente, o ex-atacante trabalha no clube e é um dos membros fixos da comissão técnica.
A BATALHA DOS AFLITOS
Apesar disso, mesmo com um elenco de ídolos como Kuki e Batata, o Náutico não escapou de escrever, talvez, o capítulo mais vexatório de sua história diante do Grêmio, em 2005. Jogando em casa, o Timbu precisava da vitória para subir à Série A. Enquanto que aos gremistas cabia um simples empate para garantir o acesso ou uma vitória para ser campeão da Série B. Naquela que ficou conhecida como A Batalha dos Aflitos, o Alvirrubro desperdiçou dois pênaltis e, mesmo após quatro expulsões gaúchas, ainda viu o jogador tricolor Anderson marcar o único gol da partida que manteve os pernambucanos na segunda divisão.
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Após temporadas na Série A, quando em 2007 teve o vice-artilheiro Beto Acosta com 19 gols, o Náutico aderiu ao programa do governo do estado. Dessa forma, passou a mandar seus jogos na recém-criada Arena de Pernambuco. No entanto, em um dos palcos da Copa do Mundo de 2014, os Alvirrubros vivenciaram a eliminação precoce na Copa Sul-Americana de 2013 para o rival Sport, nos pênaltis, e os rebaixamentos às Séries B e C. Apesar disso, também houve alegrias com a volta às conquistas depois de 14 anos com o título pernambucano de 2018 frente ao Central, sob a liderança do ídolo paraguaio Ortigoza.
RETORNO À CASA
Ao final daquele ano, a torcida timbu acompanhou o resgate da alma alvirrubra com o retorno mais do que esperado aos Aflitos, eterno templo vermelho e branco. Assim, na partida da reinauguração, uma vitória magra de 1 x 0 diante do Newell's Old Boys, da Argentina, com gol do prata da casa Thiago. Logo, em 2019, veio a redenção, com uma grande campanha no estadual, mas ficando com o vice diante do Sport. Pela 3, fez sua melhor campanha na história chegando às semifinais. E no Brasileirão, com uma trajetória de superação, conseguiu o acesso à Série B e pode comemorar o primeiro título nacional sob a liderança do meia Jean Carlos.
UMA HISTÓRIA QUE ATRAVESSA GERAÇÕES
Entretanto, resgate esse que não viria sem ser pelas mãos de sua torcida apaixonada que tirou do próprio bolso para contribuir com as obras da reforma do Estádio dos Aflitos. Assim, alvirrubro de berço, o jornalista Luis Boaventura, de 36 anos, descreve um fato marcante com sua filha Isadora, de seis anos:
“Em novembro de 2018, eu me mudei para o Recife, para o bairro dos Aflitos, e eu lembro do dia que levei minha filha para assistir o primeiro jogo nos Aflitos. (Ela) tirou foto com o timbu fofinho e a gente assistiu o jogo amistoso Náutico e Treze, de Campina Grande. Obviamente, que o Náutico perdeu na estreia de Isadora, mas marcou. Depois fomos mais algumas vezes e ela gostou. Essa ida ao estádio e ter o estádio aqui perto agora é muito legal. Um passeio diferente.”
Jogos que marcam…
Além dele, o torcedor Warley Alves Junior, de 31 anos, relata como memorável um jogo em especial contra o Ceará pela Série B de 2016 em que foi com seu pai, de 66 anos:
“Apesar do jogo ter sido na Arena, longe da nossa tradicional casa, Aflitos, (foi um) jogo com mais de 25 mil pessoas e bastante tenso. As duas equipes com ataques perigosos, porém com maior predomínio do Náutico. Torcida estava bem agoniada com a cera que o time do Ceará fazia no jogo e às vezes mostrando está bem confortável com o empate.
Último lance do jogo, falta favorável ao timbu, boa parte da torcida deixando o estádio. E Aroldo Costa narrando pela rádio para a torcida não ir embora, porque o Ceará iria pagar por toda a cera que estava fazendo. Marco Antônio pegou a bola para bater, olhou para dentro da área e com perfeição encontrou Igor Rabello para cabecear a bola para o fundo das redes e ter a explosão da torcida com o gol. Muitos voltaram ao estádio para comemorarem a vitória do time. Momento marcante, apesar do acesso não ter vindo, jogo que não irei esquecer.”
Um amor sem limites…
Por fim, com sua mística e tradicional camisa listrada vermelha e branca, o Náutico é, para os amantes timbu, mais que um clube centenário. Quem declara sua paixão é o ex-conselheiro alvirrubro Luiz Alberto, de 45 anos. Ele afirma que o Náutico é “um amor que a gente não sabe descrever, uma paixão muito grande, (os Aflitos) é minha segunda casa“. Já o torcedor Carlos Egídio, de 51 anos, completa agradecendo ao clube pela “existência e em consequência as emoções que me proporcionaste, os momentos em que estivemos juntos com nossa torcida nas vitórias ou nas derrotas“.
Foto Destaque: Divulgação / Youtube Copa do Nordeste