Brasil x Turquia: a virada na estreia rumo ao Penta na Ásia em 2002

Aaaaah Copa do Mundo… se não um roteiro em sete atos… com superação na fase de grupos e hegemonia no mata-mata. Mas também um sentimento de amor pelo futebol que é construído desde pequeno e renovado a cada quatro anos. A mística da amarelinha em campo, o drible mais elástico, a jogada mais talentosa e o gol gritado a plenos pulmões: isso é Brasil!

Nesta terça-feira (22), através da coluna , deixe-me levá-lo há 18 anos, a primeira partida da Seleção Brasileira na Copa da Coréia do Sul e Japão. Naquela manhã, acordamos cedo para ver os craques de Felipão darem o pontapé para o pentacampeonato, mesmo que naquele instante não soubéssemos disso. Logo, ali nasceria um sentimento de pertencimento à amarelinha que segue impregnado em muitos corações brasileiros.

PRÉ-COPA

Anteriormente, o Brasil atravessou um de seus piores ciclos para a Copa. Após o fiasco na final da Copa da França, em 1998, Zagallo deu lugar a Vanderlei Luxemburgo, que até conquistou a Copa América, em 1999, mas, logo em seguida, oscilou. Além disso, Ronaldo se lesionou e ficou afastado dos gramados por mais de dois anos. Com mais um vexame, agora nas Olímpiadas de Sydney, Luxa deixou o cargo para Emerson Leão, que fracassou na Copa das Confederações, em 2001. No fim, com Felipão, a Seleção Brasileira contou com a estrela de Luizão para chegar à Copa do Mundo aos trancos e barrancos.

Desacreditado, Felipão teria que reconstruir a Seleção. Assim, trouxe Anderson Polga, Gilberto Silva, Kléberson e Kaká, o embrião da Família Scolari. Logo, com jogadores de sua confiança, ele deixou de lado craques como Romário, Djalminha, Alex, Zé Roberto e Juan. Além disso, mesmo com a pressão da imprensa, bancou a não convocação do Baixinho e contou com as habilidades incomuns dos laterais Cafú e Roberto Carlos para dar profundidade de jogo pelas alas.

BRASIL 2 x 1 TURQUIA

Assim, era um dia diferente no Brasil, não apenas por ser jogo da seleção. Isso porque, não era uma odiosa segunda-feira comum de trabalho. Pois, a nação acordou ainda de madrugada para ver a estreia da Canarinha, às 6h manhã, lá na Coréia do Sul. Logo, tudo estava pronto. Aos nove anos, era meu primeiro jogo de copa em que acompanharia com plena consciência do que estava a experimentar. Portanto, bandeira em volta da televisão, família reunida e, no peito, uma raiz camisa de posto de gasolina adquirida em promoção pelo Mundial.

No campo, enfrentaremos talvez a melhor geração da Turquia de todos os tempos. Isso porque, os Turcos voltavam a disputar um Mundial após 48 anos, quando foram eliminados pela Alemanha em sua única participação, em 1954. Logo, com a base da seleção vinda do Galatasaray, sete jogadores eram remanescentes da Eurocopa 1996 e 14 atletas da Euro 2000. Além disso, 11 dos convocados estiveram presentes na conquista da Copa da UEFA, naquela que é o maior título de um clube turco na história.

1º TEMPO

Dessa forma, o Brasil entrou em campo, naquele dia, sem o capitão Emerson, cortado na véspera por uma lesão no ombro. Apesar de um nervosismo natural, a Seleção Brasileira dominou e sufocou a Turquia nos primeiros minutos com chutes perigosos de Ronaldo e Rivaldo. No entanto, enfrentava duras dificuldades para superar a barreira Rustu, em grande atuação na etapa inicial. Logo, em uma grande jogada de Ronaldo pela esquerda, o Fenômeno cruzou para Rivaldo que deu de cabeça, mas o goleiro defendeu à queima-roupa.

Em seguida, Rivaldo apareceu, novamente, em chute da entrada da área, mas parou em Rustu, que agarrou em dois tempos. Após a segunda metade da jornada, a Turquia cresceu e começava a ameaçar a meta de Marcos. Enquanto nós não traduzíamos o domínio em gols, nos acréscimos, os Turcos chegaram ao seu. Assim, Basturk, um dos melhores do Mundial, lançou para Hasan Sas, nas costas de Cafú, encher o pé para furar as redes brasileiras. Apesar de um bom primeiro tempo, fomos para o vestiário com a derrota parcial.

2º TEMPO

Na volta, era outro Brasil, que já chegava com perigo com Rivaldo e Ronaldo. Logo aos 5′, a dupla de R’s mostrou que decidiria a partida, com o primeiro cruzando e o Fenômeno voando e se esticando para empatar na pequena área. Não era apenas um gol, era um gol com a marca do oportunismo de um dos maiores camisas 9 da Seleção Brasileira, que não marcava pela Amarelinha a mais de mil dias. Logo, o tento recolocou a Canarinha no jogo que seguia em busca da virada.

Assim, Rivaldo continuava criando pelo meio e Roberto Carlos tentando pela esquerda com seus potentes chutes. No entanto, a Turquia também teve seus momentos, mas Marcos defendia com firmeza. Já caminhando para o final de jogo, parecia que teríamos um empate. Mas, aos 41′, Luizão, que entrou no lugar de Ronaldo, carregou em velocidade e foi derrubado por Ozalan, fora da área, a bem da verdade. Todavia, como não tínhamos nada haver com isso, o turco foi expulso e Rivaldo converteu o pênalti que deu a vitória ao Brasil.

Oportunista, Ronaldo empata para o Brasil no começo do segundo tempo (Foto: Reprodução / Getty Images)
Oportunista, Ronaldo empata para o Brasil no começo do segundo tempo (Foto: Reprodução / Getty Images)

VIRADA DO BRASIL!

Apesar do bom jogo, foi difícil… Em seguida, golearíamos a China e a Costa Rica e iríamos embalados por três vitórias para a fase final que culminaria com o pentacampeonato contra a Alemanha. No entanto, se tem um jogo que representa não apenas uma virada na partida, mas no clima do Brasil até então, esse foi contra a Turquia. Assim, virada na forma de jogar, mais livre, virada no astral após insucessos recentes, virada para espantar o fantasma da última exibição em copas.

Dessa forma, o golpe no final do primeiro tempo serviu para mostrar o que ainda carregávamos naquele Mundial. Mas, os gols de Ronaldo Fenômeno e Rivaldo trouxeram a esperança que naquele ano seria diferente. Para um menino, que via sua seleção vencer pela primeira vez em copas, foi o suficiente para eternizar momentos e glorificar o quarteto de R’s da Seleção Brasileira. Uma vitória que sedimentou a sensação de infância que nunca perderíamos em mundiais… não poderia estar mais enganado.

Foto Destaque: Reprodução/Getty Images

Ricardo do Amaral

Ricardo do Amaral

"Alvíssaras! Sou Ricardo Accioly Filho, pernambucano de 29 anos, advogado e estudante de jornalismo pela Uninassau. Tenho como mote que “no futebol, nunca serão apenas 11 contra 11”; é arte, é espetáculo, humanismo, tem poder de mover multidões e permitir ascensões sociais. Como paixão nacional do brasileiro, o futebol me acompanha desde cedo, entretanto como nunca tive habilidade para praticá-lo, busquei associar duas vertentes de minha vida: o prazer pela leitura e o esporte bretão. Foi nesse diapasão que encontrei no jornalismo esportivo o elo de ligação que me leva a difundir e informar o que, nas palavras de Steven Spielberg, é o “mais belo espetáculo de imagens que já vi”."