O ano era 2006… a voltava ao velho continente após a arriscada, mas bem sucedida jornada na Coréia do Sul e Japão. Assim, nós, brasileiros, e este humilde redator, em particular, estávamos em paz com a Seleção Brasileira. Isso porque, vinhamos de um ciclo de quatro anos de glórias: Penta mundial, Hepta da América e Bi das Confederações. Tudo parecia pronto para mais um título.
No entanto, não foi o que aconteceu. Nesta edição do , deixa eu te levar a 14 anos atrás, à tarde de sábado de 1 de julho de 2006 quando, para um menino que viu o Penta, houve a quebra da ilusão de que a Seleção Canarinha jamais pudesse sofrer uma eliminação em campeonatos mundiais. Mal sabia ele que a partir dali iniciava um jejum que dura até hoje.
Já na preparação para a Copa, o clima de euforia tomava conta do país. E em Weggis, na Suíça, uma multidão se aglomerava para ver os craques nos treinamentos. Logo, havia quem conseguisse invadir o treino e rolar campo à baixo com os jogadores. Bloqueio? Até havia, mas era frágil, tudo fazia parte do planejamento para deixar os atletas mais à vontade. No entanto, também acomodados.
Até as quartas-de-finais, o quadrado mágico formado por Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano Imperador e Ronaldo já havia passado sem maiores dificuldades por Croácia, Austrália e Japão. Assim, nas oitavas, veio a goleada diante da seleção de Gana com o Fenômeno entrando para a história como o então maior artilheiro em Copas do Mundo com 15 gols. Estávamos bem, tudo ia bem.
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BRASIL 0 X 1 FRANÇA
Até que veio a França. E com eles, o fantasma de oito anos atrás, com a vexatória e polêmica goleada no Stade de France por 3 x 0. No elenco de 2006, haviam remanescentes do primeiro título francês como Zidane, Thuram e o goleiro Barthez. Assim, nossos adversários haviam passado por dificuldades na primeira fase e se classificaram em segundo lugar. Em seguida, nas oitavas, superaram a Espanha, até então sem título.
1º TEMPO
Dessa forma, a partida começou em Frankfurt, na Alemanha. Logo de cara, o Brasil deu sinais de que não seria o dia de brilhar. Apático desde o princípio, o que assisti foi ao show de Zinedine Zidane em sua última Copa do Mundo, com dribles e passes refinados que envolviam nosso esquadrão. Assim, a Seleção Brasileira não criava e o pouco que fazia não encontrava a direção de Barthez.
Sem Adriano, o quadrado mágico do Brasil foi desfeito para essa partida e, mesmo com a inclusão de Juninho Pernambucano, não funcionava. Assim, com Ronaldo Fenômeno, nitidamente, sem preparação, a Seleção penou. Logo, ficou refém de bolas paradas que não iam à baliza francesa. Ao final da etapa inicial, dei graças por não haver sofrido gol. Ainda haveria todo um segundo tempo.
2º TEMPO
Como bom brasileiro, no intervalo, renovei as esperanças de que tudo não passaria de um início ruim. Ledo engano meu. Isso porque, a França de Zizou seguiu bailando com toques rápidos e o camisa 10 atuando com roupa de gala distribuindo lençóis. Quando não eram eles, éramos nós que facilitávamos o serviço. Em um desses momentos, Juan quase entregou o ouro na frente de Dida.
Assim, aos 12′, o gol. Zidane cobrou falta pela esquerda, a bola atravessou toda a extensão da grande área e encontrou Henry, livre de marcação na direita, para completar para as redes. Logo, a França havia aberto o placar e as dificuldades só aumentavam. Faltava um líder dentro de campo, alguém para diminuir o espaço e tirar o protagonismo do astro francês. Mas, nesse dia, ninguém chamou a responsabilidade.
Dessa forma, o técnico Carlos Alberto Parreira tentou refazer o quadrado mágico trazendo Adriano para o jogo. Também entraram Cicinho e Robinho para dar mais mobilidade na frente. Que nada. Somente nos acréscimos, o Brasil chutou a gol com Ronaldo, de fora da área, parando em uma grande defesa de Barthez.
Lembranças dessa copa…
Muito pouco para quem chegou à Alemanha com favoritismo nas alturas. Muito pouco para quem deitou à beira do banco de reservas diante do Japão, ainda na primeira fase, debochando da goleada imposta por 4 x 1. Na verdade, aquele jogo foi simbólico, pois demonstrou a falta de comprometimento com aquela Copa. Dessa forma, eu fui da euforia da preparação à tristeza pela eliminação. Ao menos, a França parou na final.
Na verdade, o que fica para sempre na minha memória é a apatia daquele elenco, mas, principalmente, o erro capital de Roberto Carlos ao ajeitar o meião, que parado, não acompanhou Henry. Para aquele menino de outrora com apenas 13 anos, na sua segunda Copa do Mundo, e que nunca havia visto sua Seleção ser eliminada, foi um duro golpe. Mas um grande ensinamento de que, no futebol, o talento e a qualidade jogam juntos, mas tabelando com a dedicação e o comprometimento.
Foto destaque: Reprodução / Alex Grimm – Reuters / Rede Brasil Atual