Belletti, campeão do mundo e herói improvável, completa 44 anos

Hoje a coluna homenageia Juliano Belletti, que completa 44 anos neste sábado (20). Nascido em Cascavel-PR, o jogador, revelado pelo Cruzeiro, atuou em três posições diferentes na carreira: lateral-direito, volante e meia-direita. Entretanto, suas maiores glórias vieram na linha defensiva. Assim, foi jogando na lateral que Belletti foi convocado para a Copa do Mundo de 2002 e marcou, pelo Barcelona, o histórico gol do título da Champions League 2005/06. Hoje, o ex-jogador, que conquistou 22 títulos na carreira, é embaixador do clube catalão.

COMEÇO NO CRUZEIRO E IDA AO SÃO PAULO

Após ser aprovado em uma “peneira” em 1992 na Raposa, Juliano Belletti fez sua estreia no time profissional no final de 1994, aos 18 anos. Desde o princípio, já se acostumou a levantar taças, pois foi campeão das extintas Copa Master da Supercopa e da Copa Ouro em 1995, quando se destacou atuando como volante. Ele também possui no currículo os títulos do Campeonato Mineiro e da Copa do Brasil na temporada seguinte. Dessa maneira, o jogador chegou a ser convocado para a seleção brasileira pelo então treinador Zagallo neste ano.

Ainda em 1996, a pedido do técnico Telê Santana, Belletti chegou ao São Paulo junto de Serginho, em uma transferência em troca de cinco de jogadores do Tricolor Paulista. Na equipe do Morumbi, ele se firmou como um dos principais meias defensivos do país, e conquistou a também extinta Copa dos Campeões Mundias daquele ano. Teve mais uma boa temporada no ano seguinte, mas o primeiro grande ponto negativo na carreira viria em 1998. Dessa forma, o jogador sofreu uma grave lesão no púbis, e foi necessário fazer uma segunda cirurgia após erro médico na primeira. Apesar do São Paulo ter sido campeão paulista em 98, Belletti ficou 11 meses sem entrar em campo, e jogou apenas quatro partidas aquele ano.

Belletti e Serginho no São Paulo - Esportes - HOME

Belletti e Serginho sendo apresentados em 1996. Reprodução/Arquivo São Paulo FC

GRANDE TEMPORADA NO GALO

Em 1999, o então volante foi emprestado ao Atlético-MG com o intuito de recuperar sua forma física. Não poderia ter acontecido nada melhor ao jogador. Desse modo, o técnico do Galo na época, o uruguaio Darío Pereyra, optou por escalar Belletti mais adiantado, como meia-direita. E deu muito muito certo, pois o novo camisa 10 do Alvinegro comandou dentro de campo o time que foi campeão do Campeonato Mineiro e vice-campeão brasileiro em 99. Dessa maneira, Belleti viveu sua temporada mais artilheira, com 10 gols, e ganhou o prêmio Bola de Prata como melhor meia-direita do Brasileirão daquele ano.

Belletti – Você Lembra Dele?

Belleti, camisa 10 do Galo em 1999. Reprodução/vocelembradele.com

RETORNO AO MORUMBI E GLÓRIA MÁXIMA COM A SELEÇÃO

Voltou ao São Paulo em 2000, com a moral renovada no clube após o empréstimo. Após uma conversa com o técnico Levir Culpi, que precisava de um lateral-direito, Belletti se ofereceu a atuar na posição. Com grandes atuações, se manteve na nova localização em campo e voltou à seleção brasileira como defensor, após convocação de Vanderlei Luxemburgo. Pelo Tricolor do Morumbi, Belletti conquistou mais um Campeonato Paulista em 2000, além do Torneio Rio-São Paulo em 2001 e da única edição do Supercampeonato Paulista em 2002. Dessa forma, ele havia se tornado um dos principais jogadores do Brasil na lateral.

Na Copa do Mundo de 2002, sediada na Coreia do Sul e no Japão, Belletti estava no elenco vencedor. Ele foi chamado por Felipão para ser o reserva de Cafu, o capitão do penta. Assim, participou de um jogo daquele mundial: a semifinal contra a Turquia, em que o Brasil venceu por 1 x 0. Ele entrou aos 40 minutos do segundo tempo naquela partida, para reforçar a marcação no lado direito do campo. O Brasil levantou a taça no jogo seguinte, e Belletti entrou para o seleto grupo de últimos campeões de Copa do Mundo pelo nosso país.

Belletti, campeão do mundo e herói improvável, completa 44 anos

Belletti com a taça da Copa de 2002. Reprodução/Arena Belletti

CHEGADA NA EUROPA

Após o pentacampeonato, Belletti se transferiu ao Villarreal, onde viveu duas grandes temporadas. Dessa maneira, fez parte do time que conquistou a extinta Taça Intertoto da UEFA em 2004 e chegou à semifinal da Europa League no mesmo ano, a primeira participação do clube espanhol na competição (2003/04). O Submarino Amarelo tinha uma equipe que ficou marcada na memória de seus torcedores, que além de Belletti, contava com jogadores como Pepe Reina, Fabricio Coloccini, Marcos Senna, Santi Cazorla e Juan Román Riquelme.

Belletti, campeão do mundo e herói improvável, completa 44 anos

Elenco do Villarreal de 2003/04. Reprodução/Getty Images

IDA AO BARCELONA

Após dois bons anos no Villarreal, Belleti foi contratado por € 6 milhões pelo Barcelona em julho de 2004, aos 28 anos. Dessa forma, ficou por três temporadas no clube e conquistou cinco títulos: a Supertaça da Espanha (2005 e 2006), Campeonato Espanhol (2004/05 e 2005/06) e a Champions League (2005/06), que o time não conquistava há 14 anos. Ele teve uma disputada bem acirrada pela vaga na lateral-direita com o espanhol Oleguer durante todo o tempo que ficou no Barça.

O GOL MÁGICO

Em três anos no clube catalão, Belletti marcou apenas um gol. Esse único tento seria suficiente para escrever seu nome na história de um dos maiores clubes do mundo. Na final Liga dos Campeões contra o Arsenal, em 2006 no Stade de France, Belleti entrou em campo no lugar de Oleguer aos 26 minutos do segundo tempo, quando o placar apontava 1 x 0 para o time inglês. Cinco minutos depois, Samuel Eto'o marcou o gol de empate e recolocou os blaugranas de volta na partida. Contudo, o gol do título da segunda orelhuda do Barcelona, após mais de uma década sem conquista-la, não viria dos pés de Deco, Iniesta, Xavi – que sequer entrou no jogo -, Eto'o ou nem mesmo do craque do time, Ronaldinho Gaúcho. Os deuses do futebol escolheram presentear um herói improvável.

Aos 36 minutos da etapa final, com o jogo empatado, a bola sobrou para Belletti, um pouco após a linha do meio-campo, que passou adiante para Henrik Larsson, o mesmo que havia dado a assistência para o gol de Eto'o. Assim, o sueco abriu o jogo para a linha lateral, e o brasileiro, então, infiltrou a área adversária e recebeu um passe primoroso de Larsson. O jogador dominou a bola com a perna esquerda colocando-a na frente, encheu o pé de direita e contou com o desvio na canela do goleiro alemão Jens Lehmann para marcar. Dessa forma, um defensor, que entrou no lugar do titular na posição naquele jogo porque este havia levado cartão amarelo, entrou para a história do Barça com um único arremate.

Veja os melhores momentos de Barcelona 2 x 1 Arsenal na final da Champions League de 2005/06, com o gol do título marcado por Belletti:

BOA PASSAGEM PELO CHELSEA

Com 31 anos e duas temporadas após o gol mágico, Belletti se transferiu ao Chelsea, que desembolsou € 5,5 milhões para tirá-lo do Barcelona. Em sua primeira temporada no clube, foi vice-campeão da Champions, quando os Blues perderam nos pênaltis para o Manchester United na jornada 2007/08. O brasileiro, apesar de reserva, entrou no jogo e converteu sua penalidade na disputa. Além disso, o lateral, em uma partida da Premier League, marcou o gol que foi eleito o mais bonito daquela temporada do Chelsea.

Nos dois anos seguintes com o clube londrino, Belletti colocou mais cinco taças no currículo: Supercopa da Inglaterra (2009), Copa da Inglaterra (2008/09 e 2009/10) e Campeonato Inglês (2009/10). Sendo assim, viveu momentos bons e ruins na equipe, pois, sobretudo no final da passagem, começou a lidar com constantes problemas físicos. O lateral participou dos primeiros anos de glória do time inglês, após o investimento do russo Roman Abramovich.

Veja o gol de Belletti contra o Tottenham em janeiro de 2008 pela Premier League, eleito o mais bonito da temporada de 2007/08 do Chelsea:

RETORNO AO BRASIL

Belletti voltou ao Brasil em julho de 2010, aos 34 anos, para conquistar seu último título da carreira. Ele veio para o Fluminense, e participou da reta final do Campeonato Brasileiro de 2010. Desse modo, o Tricolor das Laranjeiras foi campeão brasileiro naquele ano, troféu inédito para o jogador e que o clube não conquistava há 26 anos. O lateral reencontrou Deco pela terceira vez na carreira, onde foi campeão mais uma vez com o luso-brasileiro, amizade que já havia levantado outras taças por Barcelona e Chelsea.

Apesar de ter assinado até o fim de 2011, Belletti, que sofria com graves problemas em seu tendão de aquiles, rescindiu em março seu contrato com o clube carioca. Posteriormente, ele chegou a acertar com o Ceará, mas não conseguiu entrar em campo, em virtude das adversidades com lesões. Assim, anunciou sua aposentadoria em junho de 2011.

Belletti é muito mais do que um ex-jogador de futebol | VEJA

Belletti nas Laranjeiras. Reprodução/Veja

PÓS-CARREIRA

Após pendurar as chuteiras, Belletti tirou sua licença de treinador de futebol na CBF Academy. Além disso, foi comentarista da SporTV entre 2012 e 2016. O paranaense é atualmente embaixador global do Barcelona e faz parte parte do time de ex-jogadores do clube catalão, o BarçaLegends. No ano passado, ele criou o Arena Belletti, um complexo esportivo voltado para crianças e adolescentes de 4 a 17 anos, com treinos idealizados pelo pentacampeão do mundo.

Juliano Beletti deixa como legado sua competitividade, persistência e trabalho em equipe, segundo o próprio site. Um jogador extremamente versátil, que sempre se doou em campo para o melhor rendimento do time como um todo, e que superou uma grave lesão no início da carreira. Assim, com uma trajetória extremamente vitoriosa, e premiado com um gol inesquecível, está na história de um dos maiores clubes do mundo e de seu país, após a conquista de um título mundial.

https://twitter.com/FIFAcom/status/1274308012149280769

Foto destaque: Reprodução/Getty Images

Nestor Ahrends

Nestor Ahrends

Estudante de jornalismo (ESPM-Rio). 19 anos. Nascido e criado em Petrópolis-RJ. Apaixonado por futebol e amante de esportes em geral.