Adílio, ídolo do Flamengo, completa mais um ano de vida

Hoje, a coluna Parabéns ao Craque parabeniza Adílio, ícone do Flamengo. Acima de tudo, o ex-jogador ficou na memória dos torcedores por ter sido um meia-direita habilidoso, criativo, que detinha lançamentos precisos e um poder inigualável de acertar passes que podiam mudar toda a jogada. Ao mesmo passo, ajudou a formar um dos melhores meio-campo do clube rubro-negro, juntamente com Zico e Andrade. Dessa forma, faturou o Mundial e Libertadores de 1981, além dos Brasileiros de 1980, 1982 e 1983. Confira agora, a homenagem feita pelo Futebol na Veia.

NASCE UMA ESTRELA

Adílio de Oliveira Gonçalves nasceu no dia 15 de maio de 1956, no hospital Miguel Couto, vizinho ao clube do Flamengo. Cresceu na Cruzada de São Sebastião, um conjunto de prédios do Leblon, na zona sul, construído em 1955. Nesse sentido, edificado por Dom Hélder Câmara, então bispo-auxiliar do Rio de Janeiro, para abrigar moradores da antiga favela da Praia do Pinto, no qual fora desocupada para a construção de um condomínio, atualmente conhecido como “Selva de Pedra”.

Embora generoso, o anseio de Dom Hélder por acabar com as favelas do Rio, a partir da obra na Cruzada, no coração da elite da zona sul, não vingou. Sendo assim, ao longo dos anos, os 10 blocos, cada um com sete andares, foi a marca do abandono do poder público. Nesse sentido, fez-se prevalecer uma impiedosa pobreza, mas sem ofuscar a dignidade de muitas famílias que ali se instalaram. Dessa forma, brotou um dos meias mais sensacionais que os amantes do futebol já viram jogar. Seja como for, o craque teve a vida marcada por uma linda história de superação e glórias, dentro e fora de campo.

Adílio, ídolo do Flamengo, completa mais um ano de vida
Meu nome é superação (Foto: Reprodução/Jill Muricy)

SHOWS DESDE MENINO

Terceiro de seis irmãos, tinha sete anos quando chamou a atenção pelo domínio de bola que exibia. Vestia a camisa 7 do time de pelada Sete de Setembro no dia em que ele e seus companheiros “apanharam” de 5 x 0 de um time rival. Humberto, um treinador da escolinha do Flamengo, que estava pelos arredores bisbilhotando tudo, encantou-se com Adílio. Dessa forma, haveria o primeiro momento dele no clube.

Adílio começou a treinar no clube, mas por pouco tempo. Posteriormente, Humberto foi embora para os Estados Unidos e o projeto na Gávea precisou ser encerrado. Mas, apesar disso, a bola era sua vocação e ele não desistiria tão facilmente. Se não havia chance no Flamengo, haveria no Royal, time da praia do Leblon. Foi nas areias da zona sul que o garoto bom de bola continuou dando seus shows.

ADÍLIO, O MENINO JOIA RARA

Desde os seis anos, o futuro craque pulava os muros do clube para acompanhar ídolos da década de 1960, como Carlinhos e Nelsinho. A tira–colo, o acompanhava o inseparável amigo Júlio César, que anos depois seria o ponta-esquerda do Flamengo campeão brasileiro em 1980. Antes de ingressar, em 1968, no dente de leite e no futebol de salão do Flamengo, Adílio contentava-se em pegar bolas de tênis. Porém, Júlio César teve um ingresso mais rápido nas divisões de base do futebol de salão do Flamengo.

Entretanto, quase que o Flamengo perde Adílio:

“Eu tinha dez anos e resolvi tentar a sorte no infanto do Fluminense. Quando vesti aquela camisa tricolor, me olhei no espelho e senti o pior grilo da minha vida. Um traidor. O que o pessoal da Cruzada São Sebastião ia dizer de mim? Treinei chorando e me mandei. Fui para a Gávea, queria ficar lá, mesmo que fosse encostado. O coração falou mais alto. Acho que o sujeito nasce Flamengo. Depois é que degenera. E eu não queria ser um degenerado…”.

O Flamengo deu sorte… e Adílio também. O clube nasceu para ele e ele para o Rubro-Negro. Mantido no time dente-de-leite, o Maracanã conheceu um Adílio triunfal entre os meninos de sua idade quando o time foi campeão de um torneio da categoria. E o garoto, o grande herói da conquista, foi carregado em triunfo na volta olímpica da molecada. Foi a primeira de muitas glórias de Adílio naquela grama histórica.

DAS DIFICULDADES À SUPERAÇÃO

Contudo, a vida não era fácil para o futuro ídolo do Flamengo. Com a morte da mãe, dona Alaíde, na metade da década de 1970, Adílio passou a cuidar dos três irmãos mais novos, filhos do segundo casamento de sua mãe. Em outras palavras, fazia o papel do pai, que morreu do coração no começo da década de 1960. Além disso, com os carrinhos de feira, servia às madames do Leblon para ajudar no sustento dos irmãos, filhos do padrasto, que trabalhava como condutor de bondes. Adílio trocava fraldas, fazia mamadeira. Era “pai” e “mãe” ainda jovem.

Nesse ínterim, ao longo de 1976, com a carreira começando no Flamengo, ficou sem ver os três irmãos mais novos: Alexandre, o caçula, Ivã e Sebastião. Todos moravam com Baltasar, padrasto de Adílio, em uma localidade muito pobre de Santo Antônio de Pádua, no Norte Fluminense. Contudo, os dramas pessoais nunca o abalaram. Estava sempre bem disposto e aberto para a vida. Esta, como recompensa, preparava-lhe a glória.

Entre 1977 e outubro de 1981, pouco antes de o Flamengo consagrar-se campeão do mundo, Adílio não só proporcionou a Zico muitos gols, mas também assinalou os seus. No período, o Galinho marcou 220 gols, Cláudio Adão 81, Tita 64 e Adílio, ora veja, empatou com Nunes, o “artilheiro das decisões”. Ambos com 57 gols. Como questionar a eficiência de Adílio?

ADÍLIO: O ETERNO ÍDOLO DO FLAMENGO

Adílio se tornou um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos. Ao passo que vestiu a camisa rubro-negra em 616 partidas e fez 128 gols. Tinha rara habilidade e criatividade, era dono de um passe perfeito e adepto a um estilo de jogo clássico. Após 24 anos jogando no Flamengo, Adílio também atuou pelo Coritiba, Barcelona de Guayaquil (Equador), Itumbiara, Inter de Lages, Alianza Lima (Peru), América de Três Rios, Santos-ES, Avaí, Friburguense, Bacabal, Serrano, Barreira, Borussia Fulda e Barra Mansa.

Na Seleção Brasileira, esteve presente apenas em duas partidas. O filho da dona Alaíde, durante toda a sua carreira, teve apenas dois cartões amarelos e nenhum vermelho. Foi treinador do Bahain (Arábia Saudita), Clube de Futebol Zico (CFZ) e do Flamengo em dois períodos, de 2003 à 2006 e no ano de 2008. Como resultado da sua grandeza, teve sua imagem esculpida em bronze na sede do clube rubro-negro, em 2019.

Em suma, por mais que alguém seja de origem humilde, se tiver dentro de si garra para pular o muro da dificuldade e driblar tudo aquilo que impede de chegar ao campo, este sim pode ser chamado de guerreiro. Não apenas por jogar bola, mas por vencer o jogo da vida com os pés. Feliz aniversário, Adílio. Obrigada por todos esses anos de ensinamento.

Foto Destaque: Divulgação/Pinterest/Flamengo

Thamirys Abreu Vieira

Thamirys Abreu Vieira

Sou carioca, graduada em Jornalismo pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo). Pretendo me especializar na área esportiva e vivenciar a cada dia a magia do futebol. Exigente e de temperamento forte, mas sempre disposta a aprender. Apaixonada pela leitura e o mundo futebolístico.