Na tarde desta quinta-feira (28), o Futebol na Veia conversou com exclusividade com o jornalista esportivo Mauro Beting. Ele contou suas experiências na área e opinou sobre a atual situação do futebol. Assim, o assumidamente palmeirense e ídolo de diversas torcidas e torcedores, completa 30 anos como representante do esporte. Além disso, é dono de um repertório diverso. Durante sua carreira, emplacou documentários, livros e até mesmo as singelas “Carta aos meus netos” divulgadas pelo seu Instagram, que de um jeito poético, trazem reflexões. Sem dúvida alguma, o jornalista é um dos mais completos comunicadores que o Brasil já conheceu.
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Mauro Beting: O filho do rádio
Filho do jornalista Joelmir Beting, Mauro falou sobre a árvore genealógica enraizada na profissão. Além do pai, a mãe e o avô materno também trabalharam em rádios. Do mesmo modo, seus dois filhos, fruto de um relacionamento com a jornalista Helen Martins, pretendem seguir os passos dos pais.
“Eu sou o filho do rádio. Meu pai trabalhava com rádio, meu avô, pai da minha mãe também, minha mãe foi produtora depois de um tempo. E depois de formado, quando a gente ficou grande, ela foi produtora do meu pai na TV Bandeirantes e depois na Globo.”
O comunicador completou falando sobre seu encontro com as suas duas paixões: o jornalismo e o Palmeiras, seu clube do coração:
“Nunca me imaginei fazendo outra coisa na vida a não ser jornalismo, e o futebol me deu essa alegria que é gostar do palmeiras e respeitar as outras torcidas, pois é fundamental a gente entender isso. Pra a gente ganhar a gente precisa perder ou empatar.”
Um momento difícil
Ao ser perguntado sobre a situação mais difícil que teve que enfrentar ao longo de sua carreira, o comunicador relembrou a morte do pai, em 2012. Beting contou que recebeu a notícia durante a cobertura do jogo de classificação do São Paulo para a Copa Sul-Americana.
“A notícia mais difícil da minha vida, foi evidentemente a que eu dei em primeira mão, exclusivo e que evidentemente eu não queria dar na Rádio Bandeirantes quando meu pai morreu.”
“Eu não consegui falar com meus filhos que o avô deles, a grande paixão da vida deles e vice e versa havia morrido. Eles souberam quando eu dei a notícia e começou. Meu mais velho soube pelo twitter e para o menor mandaram um torpedo. E eu não tive coragem para contar pros meus filhos, mas tive coragem digamos assim, para durante sete minutos e meio falar da morte dele. Então meu maior furo, meu maior momento no jornalismo, foi justamente um momento que eu jamais gostaria de ter que foi anunciar a morte do meu pai”, completou Mauro Beting.
“12 de junho de 1993 – o dia da paixão palmeirense”
Para muitos foi o dia dos namorados. Já para Mauro e para o Palmeiras foi quando o mundo ficou mais verde, ou como o cronista batizou em seu primeiro documentário “o dia da paixão palmeirense”. A partida fez São Paulo parar, não se falava em outra coisa durante a semana que antecedia a decisão. Assim, neste cenário, ele começou sua carreira como comentarista.
“O Palmeiras estava a 16 anos sem ser campeão, era a primeira final que o Palmeiras venceu e que eu comentava pela Rádio Gazeta, ao lado saudoso Enio Rodrigues e do grande mestre Pedro Luiz Palmieri. Palmeiras ganhou do Corinthians de 4 a 0. Então é um jogo como torcedor e como jornalistas absolutamente mais inesquecíveis”
O jornalista e palmeirense
Mauro entrou no meio esportivo de forma natural, em uma coluna que duraria por apenas um período. Mas a experiência, que fez o jornalista descobrir o seu lugar, marcou o início da carreira desse grande comunicador.
“Eu era repórter político, escrevia sobre música também e descambei no futebol durante a copa de 1990, na Itália. Mas era para eu trabalhar só durante a copa e voltar ao que eu era, basicamente repórter político e escrevia também sobre música, minha outra paixão. Mas aí deu certo, e eu acabei ficando depois da copa de 90, com a coluna ‘Dois Toques’ no Folha da Tarde e me mantendo como repórter de política por mais um ano. Quando aí eu fui para a rádio e para a Tv Gazeta, então eu tive que sair de outras áreas para abraçar o futebol. Abraçar o esporte.”
Ele ainda afirmou, que desde o início se declarou palmeirense.
“Nesse período na Copa do Mundo, que ia durar um mês essa coluna, eu já me assumi como palmeirense. Até porque quem me conhecia sabia que eu era, e sendo filho de um palmeirense famosíssimo como Joelmir Beting, era ridículo até eu falar que não era.”
Não sou clubista
O jornalista defendeu o direito dos profissionais de se posicionarem, e criticou quem esconde o time que torce, mas o favorece durante coberturas. Além disso, falou que nunca teve problema com os torcedores rivais, e que acaba sofrendo mais pressão da própria torcida alviverde.
“Clubista não é gente que nem eu que assume o time, clubista é aquele cara que torce para um time e distorce contra o time adversário. Lamentavelmente temos péssimos casos de clubismo, até de grandes jornalistas brasileiros hoje, ontem e teremos até amanhã.”
A favor da liberdade de expressão e da conversa como base para tudo, falou sobre a importância do debate. Em seguida, fez críticas ao uso de ferramentas das redes sociais que impossibilitam o diálogo entre as partes, como por exemplo a desativação dos comentários.
“Vamos debater, mesmo que sai para o combate, que saia pro embate, que para porrada, que saia pro grito do STF de madrugada em casa, vamos debater.”
Podemos sonhar com o Mundial?
Apesar de exaltar boas atuações de clubes brasileiros diante dos europeus, o jornalista disse que o cenário atual não é favorável para os países sul americanos.
“Desde de 95 quando a lei Bosman permitiu que na Europa se escalasse o maior número de jogadores comunitários e ainda com a restrição de três extras comunidades europeia a coisa começou a degringolar.”
A Lei Bosman citada por Mauro Beting em sua fala, surgiu na Europa na década de 90. O decreto partiu de uma ação movida por Jean-Marc Bosman, que resultou na permissão para que os atletas assinassem com outros clubes ao fim de seu contrato, sem manter vínculos com suas agremiações. A partir daí a movimentação do mercado da bola, ficou mais intensa.
Carta aos meus netos
Para finalizar, o porta-voz das torcidas, deixou uma mensagem para seus futuros netos:
“Netinhos, não é fácil neste dia 28 de maio, uma quinta-feira, ás 17h32, a gente não tem menor ideia sobre absolutamente nada. Tem muita gente passando fome, passando necessidade e não vai melhorar de uma hora para a outra. Mas mesmo palmeirense, mesmo jornalista esportivo eu costumo ser bastante otimista. Eu sei que vai ser muito melhor o mundo que vocês vão ter pela frente.”
“Assim como parecia que o palmeiras nunca mais ia ganhar nada, quando perdeu da Inter de Limeira em 1986. Depois de 7 anos ganhamos o mundo, ao ganhar do Corinthians e acabarmos com o jejum em 12 de junho de 1993.”
Foto: Reprodução/Site Palmeiras
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