
Sinceramente, não dá pra entender a enxurrada de críticas aos clubes paulistas em função das eliminações nas semifinais da Copa do Brasil. O torcedor tem o direito de desejar que o seu time vença sempre, mas isso não passa de mera ilusão. Nunca houve e jamais haverá um clube que vença tudo sempre. E Corinthians, Santos e Palmeiras venceram muito ultimamente. Em 2013 foi a mesma história, quando Pato desperdiçou aquela penalidade contra o Grêmio e o alvinegro foi eliminado também nas quartas de final da Copa do Brasil. O que aconteceu dois anos depois? O Corinthians foi campeão brasileiro. Então, não tem nada demais. Além do que, perder para o Cruzeiro, no Mineirão, é o que há de mais normal – historicamente, é isso o que acontece na maioria das vezes com qualquer visitante ao jogar lá. A história é pendular. Se ganha às vezes, se perde outras.
É possível ganhar muito durante um bom tempo, e é o que o Timão tem feito, mas é impossível ganhar tudo sempre. Ninguém o fez. Ninguém jamais o fará. Ao torcedor cabe desejar todos os títulos – o que não irá acontecer, não por muito tempo -, mas à imprensa cabe a análise ponderada na crítica e no elogio, caso contrário é euforia exagerada ou pessimismo generalizado. O Cruzeiro jogou melhor e mereceu vencer. Foi pênalti? Discutível. Não foi, contudo, o que eliminou o Corinthians, que, aliás, não jogou mal, portanto, não deveria ser bombardeado por comentários rasos baseados única e exclusivamente no placar. Com o Palmeiras não é diferente. O alviverde foi campeão da Copa do Brasil duas vezes em quatro anos e agora mira um título maior, que é o Brasileiro. Se o time deveria ou não abrir mão do bicampeonato é uma discussão. Qual é a prioridade? Priorizar é escolher um, não três, quatro. Agora, deve-se priorizar? Talvez. O Palestra não vence o nacional há 22 anos e a torcida, claro, anseia pela conquista. O Cruzeiro, por outro lado, conquistou ambos em 2003; logo, é possível não priorizar e ser campeão do que vier pela frente. Tudo bem, é incomum, mas acontece. Este mesmo Cruzeiro venceu o Brasileirão e chegou à final da Copa do Brasil contra o arquirrival em 2014. Está certo que perdeu, mas encarou a competição com a seriedade que ela merece. Copa do Brasil vale menos que o Brasileiro, mas também vale muito.
Na Europa, não existe tanto este negócio de priorizar. Jogadores são muito bem pagos para estarem em campo e defenderem os seus clubes. É isso o que se espera deles. A saúde dos atletas é essencial, mas também é válido o sacrifício na reta final de uma temporada que pode ser eternizada. O clube mineiro conquistou a famosa tríplice coroa em 2003. O São Paulo foi campeão do Paulistão, da Libertadores e do Mundial em 2005. São feitos marcantes e raros, o que não significa que não possam ser repetidos. Pelo contrário. Um clube grande deve persegui-los e, alcançando-os, se engrandece. Fato consumado, agora o Palmeiras pode focar no que julga mais importante, porém ter um só objetivo não é garantia de sucesso. O alviverde poderia ter vencido os dois; não acontecerá. Pode vencer um e ignorar a eliminação; ok, se der certo. Pode perder os dois, tendo batalhado por ambos. Ou pode perder os dois, tendo depositado todas as fichas em um – o que é muito pior. O que dizer do Santos? Seis vitórias nos últimos oito jogos.
Eliminado da Copa do Brasil, já se coloca o trabalho de Dorival em xeque? Ah, tenha santa paciência! Dorival faz um trabalho excelente à frente do Peixe. Finalista da Copa do Brasil de 2015, quarto colocado no nacional – na briga pela terceira posição – isso depois de perder um jogador importantíssimo. A gente precisa parar com esta cobrança extremista do “perdeu, está demitido”. Trabalhos longos são mais exitosos e ponto. Há vários exemplos que corroboram isso em qualquer canto do planeta. Veja qual é a rotatividade dos treinadores nas ligas norte-americanas. Joaquim Löw treina a Alemanha há uma década. Qual troféu o SPFC ergueu depois da demissão do tricampeão Muricy? Ok, ergueu um. A Copa Sul-Americana de 2012, sob o comando de Ney Franco, um técnico que depois foi desprezado pela diretoria e parece não ter deixado muita saudade no Morumbi. Eu teria saudade. O futebol é muito ingrato. É trabalho da imprensa relembrar as glórias passadas para que o torcedor não se esqueça de quem fez algo pelo seu time. Ney Franco fez pelo São Paulo, e não é devidamente reconhecido por isso. No Corinthians, foi preciso dar um basta nas demissões a cada cinco rodadas para que ciclos pudessem ter fim, e não por acaso com sucesso. Um deles – o de 2010 a 2013 – foi simplesmente o mais vitorioso da história da instituição. Há pouco tempo, devido às mesmas pressões de sempre o clube voltou a ser impaciente.
Pois bem. Se não deixar o treinador trabalhar – seja ele quem for –, se voltarem a demitir a torto e a direito, voltará a não ganhar nada. Simples assim. Dorival assumiu o Santos em 2015 na zona do rebaixamento e terminou o brasileirão na sétima colocação, a quatro pontos do G4. O torcedor do alvinegro praiano se esqueceu disso? Espero que não. Se houvesse bom-senso, Dorival não apenas seria mantido no cargo, como seu contrato deveria ser estendido. Os mais exigentes consideram inaceitável a eliminação por um time que luta contra o rebaixamento, caso de Santos e Corinthians, na última quarta-feira. Ocorre que ir mal numa competição não implica ir mal noutra completamente distinta, sobretudo quando se trata de dois grandes clubes – Cruzeiro e Inter – que reúnem plenas condições de conquistar a Copa do Brasil este ano, tal qual o Palmeiras reuniu em 2012 e naquele ano foi rebaixado. Não há demérito algum em ser eliminado por grandes clubes que por ocasião lutam contra o descenso, até porque a maioria dos “grandes” já foi rebaixada. Aqueles que consideravam o Santos classificado contra o Inter, o resultado está aí. Jogar no Beira-Rio um mata-mata é – e será – sempre difícil. A assunção de que Galo e Grêmio são favoritos nas semifinais pela posição que ocupam em outra tabela é tão esdrúxula, que serve quase como uma prova de que um deles, senão os dois, será eliminado. O sobe e desce é a confirmação de que a história é mesmo pendular. Quem estufa o peito para cornetar hoje, amanhã reconhece que estava errado e se dá conta de que o ciclo dos êxitos e fracassos é inerente ao futebol e a tudo mais.