O Esporte Clube Radar representa um marco no futebol feminino no Brasil. Mas, antes de mais nada, vamos falar vamos falar de dificuldades. E podemos dizer que elas foram muitas. Se hoje em dia, as jogadoras de futebol ainda enfrentam barreiras como falta de estrutura para treinar, para jogar e para obterem sustento, imagine isso há três décadas. Além disso, a modalidade feminina ficava de lado pois a ideia que se tinha para o papel da mulher na sociedade passava longe dos campos.
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Antigamente, o julgamento começava dentro de casa e a proibição do esporte para as mulheres estava determinada. Até por isso, a partir de 1941, a prática do futebol, assim como outros esporte, foi proibida para as mulheres no Brasil. Não só por convenção social, mas por lei, quando Getúlio Vargas, o então presidente, determinou um decreto-lei que proibia as mulheres no campo. Entretanto, mesmo com a proibição, no final da década de 1970, quando a ditadura começava a dar sinais de falência, o futebol de areia feminino começou a virar moda no Rio de Janeiro. Por isso, naquela época surgiram diversos clubes com nomes de ruas diferentes do bairro de Copacabana. Consequentemente, isso ajudou mais tarde a modalidade feminina no futebol.
O início do Esporte Clube Radar
Finalmente, com o fim da proibição em 1979, o futebol feminino começou a dar os primeiros passos. Mas as dificuldades das mulheres no esporte não acabaram. Naquela época ver as mulheres com a bola nos pés ainda era um tabu gigantesco. O Radar desafiou a lógica e selecionou as melhores jogadoras do estado do Rio de Janeiro para formar um timaço – primeiro na areia, depois no campo. O Esporte Clube Radar foi fundado em 1932 no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, mas somente em 1979 o time montou sua equipe feminina. Isso se deu após a revogação da lei que proibia o futebol feminino no Brasil, a partir daí o Radar começou jogando tanto na praia como nos gramados.
Desde a criação do time, o Radar dominou o esporte no país durante a década de 80. A iniciativa de montar um time de futebol feminino no clube veio do presidente e empresário do clube Eurico Lira. Ele chegou a ser, inclusive, técnico da equipe. Assim, em 1981 ele fundou o primeiro time feminino do clube. O Radar se tornou o maior clube brasileiro de futebol feminino. O criador da equipe feminina do Radar já tinha um plano em mente, o de regulamentar o esporte, criar campeonatos e então uma Seleção Nacional Feminina. O plano deu certo e o Radar não se cansou de colecionar títulos e marcas de se tirar o chapéu.
Crédito: Arquivo pessoal
Um clube de títulos
A equipe estava formada. Assim, o primeiro time do Radar a entrar em campo foi escalado com Meg, Pelezinha, Fernanda, Cláudia, Maradona, Maria Helena, Elza, Fia, Celinha, Rata e Salaleto. O time nunca perdeu uma Taça Brasil, foram seis consecutivas até o campeonato ser extinto (1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988). Contudo, apesar do crescimento do futebol feminino, muitas atletas enfrentaram os piores preconceitos na infância. Isso se dava pura e simplesmente por não seguirem o “padrão” das bonecas e irem atrás da bola, no entanto, elas conseguiram provar seu talento no futebol.
O clube que usava as cores azul e ouro, símbolo do sol, conquistou o I Campeonato Estadual Feminino do Rio de Janeiro, organizado pela Divisão Feminina da Federação de Futebol do estado do Rio de Janeiro (Ferj). Além disso, também levou o título da I Taça Brasil de Futebol Feminino da CBF, os dois em 1983. Ainda na Taça Brasil, o time conquistou todas as edições, sendo hexacampeão: 1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988. Outro Hexa foi no Campeonato Carioca: 1983, 1984, 1985, 1986, 1987 e 1988. Em 1989, conquistou o Torneio Brasileiro de Clubes. Durante esse período (entre 1983 a 1988), o Radar realizou 71 jogos; vencendo 66, empatando três, e sofrendo apenas duas derrotas.
Crédito: Acervo/Museu do Futebol
O crescimento do Radar
Em 1982, o Esporte Clube Radar ganhou projeção ao divulgar o futebol feminino no Brasil, onde conquistou o título da Women’s Cup of Spain, derrotando seleções como Portugal, França e Espanha. Já em 1989 a equipe inteira do Radar representou a Seleção Brasileira de Futebol Feminino no Campeonato Mundial. Por outro lado, mesmo com tantas conquistas, infelizmente, o tempo entre o auge e o fim do time feminino foi curto. Em 1990, depois de campeonatos esvaziados, nenhum apoio da mídia e pouca remuneração para as jogadoras o negócio complicou. Ou seja, os campeonatos deixaram de ser organizados e o Radar encerrou as atividades do time feminino.
Em contrapartida, a marca que o Radar deixou fez muito bem para o Futebol Feminino Brasileiro, ou seja, o time foi o pontapé inicial da modalidade. A primeira seleção feminina formada tinha muitas atletas que haviam passado pelo Radar. Atualmente, o clube funciona apenas como uma academia de musculação e possui equipes de luta. Além do time feminino, o clube já teve equipes de futebol de areia (masculino e feminino). Valendo ressaltar que o futebol feminino surgiu do time feminino que jogava na praia.
Foto Destaque: Reprodução/ Museu do Futebol